Marliéria, Dionísio e Timóteo – Dois roncos de motores acelerando rompem a vegetação densa, de onde apenas o pio estridente das seriemas escapava.
As mazelas da mata atlântica e do Rio Doce são causadas pelos mesmos problemas, de acordo com o coordenador regional do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Wyllian Giovane de Melo. “A devastação da mata atlântica – que é o bioma que predomina em 98% da Bacia do Rio Doce – teve 95% de sua extensão dizimada”, disse. Contudo, a falta de repressão contra quem destrói a mata permite que ainda ocorram desmatamentos em áreas emblemáticas, como o parque estadual.
Para encontrar essa devastação a reportagem do EM se valeu de imagens de satélites que mapearam a cobertura florestal da região. Ao conferir comparativamente a extensão dessa vegetação ao longo dos últimos 10 anos foi possível identificar grandes clareiras sendo abertas recentemente em áreas antes de selva fechada.
A mata derrubada das árvores abre espaço para chacreamentos, loteamentos, plantações de eucaliptos e pastagens. A vegetação serrada no pé tem destinos diferentes, segundo a reportagem apurou junto às serrarias dessas regiões. Algumas são misturadas a eucaliptos e vendidos a fornos de carvão, enquanto outros carregamentos de exemplares nobres da flora nacional são incinerados nas próprias fazendas, sem qualquer temor de fiscalização.
Num desses espaços abertos em Marliéria, primeiro um trator foi usado para abrir caminho na floresta, fazendo uma estrada para dentro da mata. Lá dentro, dois funcionários serravam as árvores abrindo uma clareira que não podia ser vista de estradas vicinais, como a LMG-760. Os troncos cortados eram empilhados e depois transportados por caminhões. Segundo apurado, parte ia para fornos da propriedade e outros eram vendidos.
IRREGULARES Resck lembra também que a falta de chuvas fez com que o problema ganhasse uma abordagem mais direta, mas acredita que essa conta não pode ser paga apenas pela estiagem. “Se olharmos o exemplo do Rio São Francisco, em uma das margens que está mais preservada o volume de água dos tributários é maior.
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), os empreendimentos consultados pela reportagem não têm licenças para derrubar mata nativa, apenas plantações de eucaliptos. A Semad informou ainda que, em razão do aniversário do parque, um levantamento com áreas mais sensíveis ao desmate seria divulgado hoje..