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Estado de Minas

Tumiritinga teme guerra por terras após morte de prefeito que sobrevoava acampamento

Desdobramentos da disputa por terra, pano de fundo do acidente aéreo que matou prefeito, despertam temor entre moradores. Investigações prosseguem em meio a troca de acusações


16/07/2015 06:00 - atualizado 16/07/2015 07:14

Moradores observam asa que se desprendeu do aparelho antes da queda: possível rixa entre aliados do político e o MST preocupa
Moradores observam asa que se desprendeu do aparelho antes da queda: possível rixa entre aliados do político e o MST preocupa (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

Tumiritinga –
Depois do desastre, o medo. Moradores de Tumiritinga, cidade de pouco mais de 6 mil habitantes, no Vale do Rio Doce, temem que o pacato município, distante 350 quilômetros de Belo Horizonte, se veja no meio de uma violenta batalha motivada pela disputa de terras. Desde a queda do avião sobre um acampamento do Movimento dos Sem-Terra (MST) – em desastre que matou o prefeito da vizinha Central de Minas, Genil Mata da Cruz (PP), e outro ocupante –, o policiamento da cidade, que normalmente se resume a cinco militares, foi reforçado pelo pelotão de Governador Valadares, maior cidade da região. A informação é de que duas pequenas aeronaves faziam voos sobre a área invadida, uma fazenda em litígio, que pertenceria a Genil, quando ocorreu a queda, a sete quilômetros do Centro. Entre as versões para o episódio estão a denúncia de que os aparelhos estivessem sendo usados para atacar os acampados, e a hipótese de que o monomotor tenha sido abatido. Ambas as suspeitas são negadas pelos envolvidos. Equipes da Aeronáutica investigam o caso, que é apurado também pela Polícia Civil.


O avião caiu a 200 metros das barracas de lona, matando carbonizados os dois ocupantes – além do prefeito, estava a bordo um amigo dele, identificado como Douglas Rafael da Silva, de 29 anos. Ambos tinham brevê, mas a polícia ainda não sabe quem pilotava. O outro avião deixou a região logo após a tragédia. Os sem-terra afirmam que os ocupantes fizeram rasantes e jogaram bombas à base de pólvora e sacos plásticos com líquido inflamável, com finalidade de afugentar os acampados. O advogado da família do prefeito, Siranides Eleotério Gomes, nega a acusação, afirmando que o cliente registrava fotos aéreas da ocupação. As imagens instruiriam um pedido de reintegração de posse. “Estão fazendo isso do mesmo jeito que invadiram a terra privada. Terão que provar o que estão dizendo”, afirmou.

Já os sem-terra relatam ter havido pânico e correria por quase meia hora. Nenhuma pessoa em terra se feriu, mas uma grávida com 7 meses de gestação passou mal e permanece internada em uma unidade de saúde. Policiais militares da cidade e de municípios vizinhos foram acionados e chegaram ao acampamento em poucos minutos. A corporação recolheu artefatos que, segundo os sem-terra, foram lançados das aeronaves. “Começaram a nos atacar por volta das 16h15. Um avião caiu em torno das 16h40. O outro foi embora em seguida. Havia crianças e idosos. Somos 120 famílias, 300 pessoas. Foi o segundo ataque em menos de uma semana. Na madrugada da sexta-feira, por volta das 2h, dois tratores com cabines protegidas com material blindado chegaram, com mais dois carros. Os ocupantes atiraram e dispararam rojões. A barraca onde era a cozinha pegou fogo. Graças a Deus ninguém se feriu”, disse Edilene dos Santos, uma das líderes do grupo.

Os sem-terra montaram acampamento em 5 de julho último e atribuem os ataques ao prefeito de Central de Minas. Aliados de Genil dizem que o político comprou as terras de um grupo produtor de celulose. Já os acampados sustentam que o Genil ainda negociava a compra da fazenda, cuja plantação de eucaliptos não vingou. “A empresa comprou a propriedade com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Portanto, dinheiro público. A terra não é do prefeito. É da firma. E é improdutiva, porque não há eucalipto plantado”, disse Edilene. Amigos e defensores do político refutam as acusações dos ataques. Segundo eles, a propriedade não estaria ainda em nome do prefeito, mas Genil já teria quitado duas parcelas da compra.

PMs guardam destroços, a fim de preservar elementos para investigação que deve mostrar causas da queda
PMs guardam destroços, a fim de preservar elementos para investigação que deve mostrar causas da queda (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


VERSÕES O episódio rende várias versões na cidade. Além das denúncias de ataque e de revide, que teria levado à queda da aeronave, especula-se que o avião teria caído depois de uma bomba ter explodido em seu interior. Outra tese levantada é a de que produtos tóxicos a bordo teriam causado mal-estar nos ocupantes da aeronave. A Polícia Civil investigará os fatos. O Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes (Seripa III), ligado à Aeronáutica, vai apurar as causas da queda. Deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e representantes do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) também entraram no caso.

Enquanto isso, na área urbana, moradores temem o desenrolar dos acontecimentos. Nas esquinas e nas portas do fraco comércio do município, o assunto é a disputa de terras. “Fico receosa com o que pode vir pela frente”, teme Helena Batista, dona de um restaurante e de uma pousada. O mesmo sentimento tem a conselheira tutelar Matilde Gonçalves. O comerciante Paulino Oliveira, o Careca, é outro que não disfarça a preocupação: “A gente teme, porque não sabe o que vai acontecer”.


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