O baixo índice de economia de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte faz com que a população caminhe para enfrentar a restrição no fornecimento já no próximo mês. Ontem, a Copasa informou que a redução de consumo em junho foi de apenas 15,02%, na comparação com igual período de 2014. A estatal destacou a melhora em relação a maio, quando a poupança foi de 14,5%, mas admite que os índices, equivalentes à metade da meta desejável, “não são suficientes para evitar o racionamento”. Pelo contrário: os dados indicam uma tendência que se repete desde fevereiro (veja arte) e que dificilmente será revertida neste mês, considerado fundamental para definir se haverá cortes no abastecimento em agosto.
Em junho, a presidente da Copasa, Sinara Meireles, havia dito que, caso a meta de redução de 30% no consumo não fosse cumprida até julho, a restrição era iminente. “O mês de julho vai ser crucial para essa tomada de decisão. Temos acompanhado e reavaliado todos os cenários de enfrentamento do problema neste tempo de seca. Sendo necessário o racionamento, ele possivelmente terá início no mês de agosto”, disse ela, durante entrevista coletiva. Já a taxa extra sobre consumo excedente está descartada pela companhia.
O engenheiro José Magno Senra Fernandes, mestre em recursos hídricos e ex-superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento da Copasa, considera o racionamento uma medida muito provável.
Com experiência de quem trabalhou por 25 anos na Copasa, ele explica que, em caso de racionamento, a estatal terá que superar as dificuldades impostas pelo relevo da capital. “Na área central de BH e nos bairros da parte baixa, as restrições temporárias do fornecimento não serão sentidas. Porém, o impacto nas áreas elevadas será maior, resultando em uma economia forçada. Isso porque, com a queda na pressão, a retomada do fornecimento será gradativa e pode demorar”, explicou.
DESEMPENHO A média de redução do consumo na Grande BH dos últimos cinco meses não é animadora: 14,02%. O menor índice ocorreu em fevereiro, 9,4%, primeiro mês da campanha de economia. Em março, o índice deu um salto, para 16%, mas em abril o índice de poupança voltou a cair, para 15%, sempre em comparação com igual período de 2014. O Sistema Paraopeba, responsável pelo abastecimento de água da capital e parte da Grande BH, ontem acumulava 34,2% de sua capacidade. Em julho do ano passado, o sistema operava com 56,1% do total e, no mesmo período em 2013, com 89,4%.
O engenheiro José Magno considera que a situação em Belo Horizonte ainda é confortável em relação a São Paulo. “O reservatório Serra Azul, o mais crítico do sistema que abastece a região metropolitana, está com 14,5% de sua capacidade. Em São Paulo, reservatórios essenciais estão com apenas 10%”, comparou.
Foi em janeiro, com a constatação do baixo nível dos reservatórios do Sistema Paraopeba, que a Copasa definiu a meta de economia para evitar o racionamento. Mas, em fevereiro, o Estado de Minas constatou que apenas 20,37% dos consumidores economizaram água na capital. No estado, a situação foi ainda pior: 27,59% dos usuários tiveram gasto maior de água.
Escassez se espalha pelos mananciais
O avanço da crise hídrica em Minas já se reflete na redução crítica da vazão da maioria dos mananciais monitorados pelo Instituto Mineiro das Águas (Igam), como o Rio das Velhas, que tem sua área a partir de Rio Acima até Raposos e a foz (Barra do Guaicuí) em situação de alerta, que antecede a restrição de consumo que diminui as captações. Como mostrou matéria publicada pelo Estado de Minas na terça-feira, dos 25 mananciais acompanhados, 16 se encontram abaixo do normal, em níveis de atenção, alerta ou restrição, o dobro do início das medições, em maio.
Um manancial entra em estado de atenção quando sua vazão chega a 200% do nível mais baixo de um histórico de 10 anos, numa sequência de sete dias, chamado índice Q7,10. Nesse estágio, os usuários devem ficar atentos a um agravamento da situação. O patamar seguinte é o de alerta, disparado quando o curso hídrico chega ao índice, marcando a iminência de uma interferência nas outorgas, que só ocorre quando se está a 30% abaixo da Q7,10, momento em que se inicia a restrição de captações.
Essa diminuição compulsória já ocorre no Sistema Paraopeba, que abastece a Grande BH. No caso do Rio das Velhas, as medições em Pedro Leopoldo (médio) e Santo Hipólito (foz), registraram índices abaixo da menor vazão histórica Q7,10, na razão de 7% e 6%, respectivamente. Em Rio Acima, na cabeceira do manancial, o estado é de atenção, com as águas ainda 43,4% acima do nível mais crítico.
Já a baixa vazão do Rio Doce, provocada por assoreamento e seca, que culminou com o fechamento de sua foz principal para o Oceano Atlântico, em Linhares (ES), se alastrou por toda a bacia. É o que mostra o último levantamento do Instituto Mineiro de Gestão das águas (Igam), publicado na semana passada. Todos os afluentes monitorados figuram com volume abaixo do considerado normal.
TENSÃO NO GORUTUBA O clima voltou a ficar tenso às margens do Rio Gorutuba, em Janaúba, no Norte de Minas, devido à disputa entre pequenos produtores e grandes irrigantes pela água, diante da seca rigorosa. Agricultores anunciam que estão mobilizados para destruir barramentos feitos no rio pelos grandes irrigantes, que fazem a captação clandestina com o uso de bombas potentes (foto) e deixam prejudicadas mais de 400 famílias de quilombolas, situadas rio abaixo. A Barragem do Bico da Pedra deveria garantir a vazão para todos os usuárrios da bacia,o que não vem ocorrendo devido às captações irregulares..