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Estado de Minas

"Promoção" do Uber esquenta concorrência com táxi em BH

Em meio à batalha contra taxistas, aplicativo acirra a ira de concorrentes ao anunciar sete horas de corridas gratuitas. Porém, nas ruas o resultado foi a indisponibilidade do serviço


postado em 17/07/2015 06:00 / atualizado em 17/07/2015 08:30

Disputa entre transportadores formais e informais deixa em dúvida até o prefeito de BH, que ainda não definiu como tratará o assunto(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Disputa entre transportadores formais e informais deixa em dúvida até o prefeito de BH, que ainda não definiu como tratará o assunto (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Depois de confusões, quebradeiras, ameaças e discussões envolvendo taxistas, o aplicativo de transporte Uber lançou seu contra-ataque, em uma agressiva estratégia de marketing que consistiu em oferecer corridas gratuitas a passageiros durante parte do dia, em Belo Horizonte. A plataforma de transporte tem conseguido inclusive trazer dúvidas sobre sua legalidade à própria Prefeitura de BH. Ontem, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) disse não ter opinião formada sobre o caminho para lidar com o serviço: regularizá-lo ou bani-lo da praça. “Este é um assunto (a legalização ou não do Uber) muito controverso. Provoca disputas e discussões no mundo todo. Nós estamos observando. Não temos ainda uma posição a respeito”, afirmou Lacerda. O Ministério Público (MP), o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e a Polícia Militar consideram o modelo de transporte ilegal, mas pouco fizeram até agora para coibi-lo. Ontem, com a promoção de viagens gratuitas, a oferta de carros pelos smartphones chegou ao limite, com indisposição de veículos para corridas e esperas que superaram 15 minutos no interior da Avenida do Contorno.

Motoristas de táxi e condutores ligados ao Uber começaram a se estranhar no início deste mês. Foram registrados pelo menos quatro conflitos, mas a polícia não prendeu ninguém, apesar dos protestos dos taxistas e das queixas dos filiados ao aplicativo. Os taxistas resolveram fazer manifestações e acionar o Ministério Público e a Câmara Municipal. O Uber reagiu, dando corridas gratuitas. A campanha lançada ontem, a despeito da violência que o assunto tem despertado, foi chamada #uberloveday e ofertou até três corridas por usuário, sem cobrar, durante sete horas. A empresa informou que os motoristas que usam o aplicativo puderam optar por participar da campanha, ou seja, não cobrar as corridas, ou continuar o trabalho normalmente. Porém, não informou o número de condutores que aderiram.

O resultado foi que, das 11h às 18h, horário da "promoção", o sistema operacional ficou congestionado, não apenas na opção corrida grátis, mas também nas viagens comuns. Apenas a mensagem de veículo não disponível aparecia no visor. De acordo com a assessoria de imprensa do Uber, a situação ocorreu por causa do grande número de pessoas que procuraram o serviço, o que fez aumentar o tempo de espera. Sobre as viagens comuns, disse que também tiveram demanda acima da média.

O presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Sincavir), Ricardo Luiz Faedda, criticou a “promoção” do Uber. Segundo ele, a campanha configura concorrência desleal, e o poder público deve agir para coibir o serviço na cidade e a oferta de transporte grátis. “Já protocolei ofício hoje pedindo uma reunião com o prefeito e estou intermediando um novo encontro com o governador Fernando Pimentel (PT)”, comentou.

Em relação à ampliação das investigações do Ministério Público de Minas Gerais, que agora também vai averiguar a situação dos táxis da capital mineira, o Sincavir se mostrou favorável. “Como presidente do sindicato, me coloco à disposição do MP para qualquer esclarecimento sobre os taxistas. Vou ser um colaborador”, afirmou Faedda, acrescentando confiar no MP para solucionar o impasse.

O último embate entre transportadores formais e informais em Belo Horizonte ocorreu no dia 4, na Avenida Alfredo Balena, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, depois que estudantes acionaram condutores do aplicativo para uma viagem. Motoristas de táxi que esperavam em frente à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ficaram revoltados e partiram para cima do concorrente. O carro de luxo foi amassado com chutes e teve a lataria arranhada.

Dois dias antes, os dois lados se envolveram em uma confusão no Bairro Funcionários. De acordo com um taxista que esteve no local, a discussão começou quando um colega foi atender uma corrida e passou pela área, onde alguns motoristas do Uber se reúnem. Geraldo Carvalho, de 39, disse que o taxista pediu apoio de outros pelo rádio. Depois da confusão, condutores de táxi fizeram uma manifestação para pedir providências contra o aplicativo.

Enquanto isso...México regulamenta, SP libera, EUA multam

A Cidade do México, uma das mais populosas do mundo, anunciou ter se tornado a primeira a regulamentar o funcionamento do Uber na América Latina. A capital mexicana vai taxar cada viagem em 1,5% do custo e estabeleceu cobrança de cerca de US$ 100 de cada condutor, para expedir uma autorização anual. Enquanto obteve vitória no exterior, a startup sediada na Califórnia sofreu um pesado revés em casa. Um juiz do estado norte-americano multou o Uber em US$ 7,3 milhões (cerca de R$ 23 milhões), por deixar de entregar ao órgão regulador local informações sobre suas práticas de negócios. Entre as acusações estão falta de clareza sobre critérios usados para a recusa de corridas por motoristas associados ao sistema e sobre a acessibilidade para passageiros com deficiência. A empresa anunciou que vai recorrer. Já em São Paulo, o Tribunal de Justiça negou pedido liminar e manteve autorização de funcionamento do aplicativo. Para a desembargadora Silvia Rocha, não é possível identificar, com clareza, riscos de dano irreparável ou de difícil reparação provocado pela utilização da plataforma.


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