Prefeitura de BH anuncia que vai assumir tratamento de córregos que chegam à Pampulha

Esgoto clandestino na lagoa é obstáculo à candidatura do conjunto a patrimônio da humanidade

Mateus Parreiras
Esgoto polui cartão-postal de BH, um dos entraves para o título concedido pela Unesco - Foto: Leandro Couri/EM/DA Press - 9/6/14

A demora da Copasa em conseguir captar o esgoto urbano que é despejado de forma clandestina nos córregos que formam a Lagoa da Pampulha levou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) a tentar uma solução própria. Ainda neste ano, de acordo com o prefeito Marcio Lacerda (PSB), será iniciada a construção de plantas de tratamento de água em três ou mais dos afluentes mais poluídos do reservatório, um dos símbolos da cidade. A verba para essas intervenções e para a despoluição química das águas será de R$ 140 milhões, com recursos de financiamentos internacionais e do Banco do Brasil. “Não vamos mais esperar a Copasa, que não estava conseguindo resolver, fazer as remoções necessárias e as ligações de esgoto para as moradias que despejam poluentes na Pampulha, em Contagem e em Belo Horizonte também”, afirma Lacerda.


As iniciativas de despoluição da Pampulha têm sido aceleradas com a previsão de vistoria, em setembro, dos relatores do Patrimônio Mundial e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que avaliam o processo de reconhecimento do conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer como Patrimônio Cultural da Humanidade. “Essa avaliação será sobre como estão encaminhadas as iniciativas de conservação. Não precisa de tudo estar pronto imediatamente, mas de ter um cronograma”, disse Lacerda.


O programa de despoluição da Pampulha começou em 2013 e consistia em uma etapa que era o desassoreamento de parte da lagoa. Essa ação foi desempenhada pela PBH e terminou em outubro do ano passado. Foram gastos mais de R$ 108,5 milhões e retirados 800 mil metros cúbicos de detritos e lixo, o que chega a 133 caminhões de resíduos –  transportados para um aterro especial em Santa Luzia, na Grande BH.

Paralelamente a isso, a Copasa assumiu o compromisso de canalizar todo o esgoto clandestino despejado no lago e tratar essas cargas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Onça.


O plano seria implantar 100 quilômetros de redes interceptoras desse esgoto e tratar os dejetos, com um investimento que já chegou a R$ 102 milhões. Esse processo deveria ser concluído antes da Copa do Mundo de 2014, mas, como isso não foi feito, a PBH paralisou sua segunda etapa, que seria a despoluição química do reservatório. “Não fazia sentido limpar a água gastando milhões se mais esgoto continuaria vindo dos córregos. Isso seria enxugar gelo”, afirma Lacerda. A ideia, agora, é barrar o esgoto e o lixo que chegam dos córregos pouco antes que atinjam a lagoa, o que mantém os mananciais sujos, mas protege a Pampulha.

ACORDO Os planos da PBH envolvem assumir a Estação de Tratamento de Efluentes (Etaf) Pampulha, que a Copasa construiu na confluência dos córregos Ressaca e Sarandi, os maiores e mais contaminados da bacia da Pampulha. A estrutura fica na entrada do Parque Ecológico. “Vamos fazer um acordo com a Copasa para modernizar essa estrutura e utilizá-la para despoluir aqueles córregos”, disse Lacerda. A Etaf começou a ser implantada em 2002 e custou R$ 430 milhões. A estrutura tem uma vazão média de 750 litros por segundo e promove o tratamento secundário, com uma eficiência de 85% na remoção de carga orgânica e sólidos em suspensão.


Em seguida, o prefeito quer implantar estações do tipo jardins filtrantes em dois ou três córregos, dependendo da necessidade prevista nos projetos, que devem ser licitados antes do fim deste ano. Esse sistema é o mesmo que já foi anunciado para o Córrego Água Funda/Bom Jesus, em fevereiro deste ano. Só naquele manancial a ação programada custaria R$ 6 milhões, usando plantas que retêm matéria orgânica, sem interferência de produtos químicos. Essa estratégia foi pesquisada por técnicos da Fundação Zoobotânica, que visitaram outros países com a intenção de conhecer o sistema. Segundo a Sudecap, o curso do córrego será desviado para uma estação natural de tratamento, que vai ser responsável por reduzir a carga poluidora durante a estiagem.

No período das cheias, a vazão excedente continuará a escoar pelo leito natural do córrego.

PUXADINHO DO IATE
Além da despoluição da Pampulha, outro problema pode atrapalhar o conjunto arquitetônico de ganhar o título de patrimônio cultural da humanidade concedido pela Unesco. Como revelou a reportagem do Estado de Minas, a situação mais grave é a de uma construção irregular e descaracterizadora no Iate Tênis Clube (ITC), que os arquitetos ligados ao processo apelidaram de “puxadinho”. Lacerda disse ontem que tentou um acordo com a diretoria do clube, mas a negociação falhou.


“Nos dispusemos a financiar as reformas que precisam ser feitas, desde que, como contrapartida, o clube abrisse para a visitação pública seus painéis de Cândido Portinari e os jardins de Burle Marx. Isso não foi aceito. Com isso, a saída foi acionar o Ministério Público. Temos uma audiência marcada para resolver isso nos próximos dias”, afirma Lacerda. A reportagem não encontrou representantes do ITC para comentar as declarações do prefeito.

Obras de drenagem


A PBH espera iniciar neste ano o projeto de drenagem da Avenida Cristiano Machado, que vai prevenir inundações na via. O valor da obra é estimado em R$ 300 milhões. As intervenções que eram feitas na Avenida Prudente de Morais, na Cidade Jardim também devem ser retomadas, agora que dificuldades construtivas foram superadas. Um plano de implantação de bacia de drenagem no Bairro das Indústrias também deve sair neste ano.

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