Os 192 seguranças que se revezam na vigilância das 41 estações do Move de Belo Horizonte conseguiram praticamente anular a violência e vandalismo nos terminais. Porém, no Move Metropolitano – que permanece sem vigias – a violência persiste. Pior: os passageiros entendem que os problemas migraram das estações vizinhas. “É muita desigualdade. Outro dia, vi um ladrão roubando o celular de uma senhora”, relata a auxiliar administrativa Graça Ferreira Barcelos. “Os ladrões sabem que um tem segurança e outro não. Aí, escolhem a mais fácil”, deduz Graça, moradora do Bairro Fortaleza, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.
A disposição das estações do Move nas avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos, Pedro I, Vilarinho, Paraná e Santos Dumont é simétrica. A cada estação do BRT exclusivo da capital, há uma do metropolitano (que atende as cidades da região metropolitana). Antes da chegada dos seguranças ao sistema gerenciado por BH, a média era de uma ocorrência violenta a cada quatro dias, nos primeiros cinco meses do ano. Em junho, quando teve início a vigilância, houve apenas um monitor de vídeo quebrado. No Move Metropolitano, a Secretaria de Estado de Transporte e Obras Públicas (Setop) não divulga estatísticas de violência. A percepção dos passageiros, porém, é de que ela se agravou. Enquanto isso, a previsão da Setop é de que o edital para a contratação de seguranças seja publicado no mês que vem.
A Setop informa que, enquanto não implanta a segurança, conta com a parceria da Polícia Militar. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informou que o maior número de ocorrências nos terminais e estações do Move Metropolitano é com relação a atos de vandalismo. Mas também disse não ter dados sobre os casos.
Porém, para saber o que ocorre basta perguntar aos passageiros e funcionários das estações metropolitanas. “O pessoal que antes aterrorizava passageiros do Move BH agora vem para cá. Eles dizem que lá é território tenso, e que não querem apanhar”, contou o bilheteiro V., de 40 anos, que trabalha em uma estação do Metropolitano na Lagoinha. O passageiro Mateus Lopes, de 21, que mora em Vespasiano, mostra uma cicatriz e diz que foi atacado em um dos pontos de embarque. “Um rapaz tentou roubar o celular de uma pessoa. Vários passageiros se revoltaram e, quando fomos deter o ladrão, ele me deu uma facada e fugiu.”
A aposentada Marilda das Flores Rodrigues, de 64, moradora do Bom Destino, estava inquieta na estação do Move Metropolitano. “Ninguém respeita a gente aqui. Vim no Odilon Behrens, mas na hora de voltar é complicado. Fico torcendo para que o ônibus chegue rápido.” A professora de piano Maria Luiza Fernandes, de 19, usa o sistema do Move da capital e o metropolitano. “Venho do trabalho no Belvedere, na Região Centro-Sul de BH, à noite, e desço na estação do Move BH. Fico aqui dentro esperando por minha mãe, para embarcar no Metropolitano. Quando ela não pode vir, prefiro seguir para a estação do Venda Nova e pegar um táxi”, explicou a jovem, que mora no São Benedito.
HISTÓRICO De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH), este ano, até maio, foram registradas 33 ocorrências violentas em estações do Move BH: 20 assaltos, cinco arrombamentos e furtos, oito agressões a funcionários, a maioria de pessoas que pulavam a catraca para não pagar passagem. Diariamente, duas portas de vidro dos pontos de embarque eram quebradas.
Em 30 de março, um passageiro foi esfaqueado e teve o celular roubado quando esperava para embarcar na Estação Odilon Behrens, na Avenida Antônio Carlos, na Lagoinha, Região Noroeste da capital. Foi a gota d’água para que a prefeitura contratasse pessoal especializado, já que ficavam nas bases um bilheteiro e um monitor. Antes disso, em fevereiro, duas estações – São Francisco e Cachoeirinha, também no corredor da Antônio Carlos, foram depredadas.
Vigias têm rotina tensa
Apesar de reduzirem a violência nas estações do Move, em Belo Horizonte, os seguranças relatam momentos de apreensão durante o trabalho. Eles são proibidos pela BHTrans de dar entrevistas, mas um vigilante contou, em conversa com a equipe do EM, que em um dos terminais da Avenida Cristiano Machado, o fim de tarde de domingo é sempre tenso. “Quando sai o pessoal de um baile próximo, eles surgem em turma, de mais de 20 pessoas, e não tem jeito de fazer nada. O que posso fazer é avisar ao meu supervisor e pedir reforço da Guarda Municipal e da Polícia Militar”, conta o vigia, que além do rádio tem como “armas” apenas um cassetete e algemas. Outra circunstância de tensão, relatada por um funcionário que trabalha em uma das estações da Avenida Antônio Carlos, é em dia de jogos no Mineirão. “Não tem como controlar”, afirma. O mais comum, segundo ele, são grupos pulando a roleta.
A empresa privada responsável pela vigilância assinou contrato de 20 meses com a Prefeitura de Belo Horizonte, que inicialmente cogitou a contratação de policiais militares reformados para garantir a segurança do Move. Nas estações de transferência há um pequeno banheiro para funcionários na bilheteria, mas falta espaço para refeições. “No meu caso, que trabalho à noite, espero até o horário do fechamento da estação, à 1h, para jantar. Mas colegas que atuam à tarde não tem como fazer refeições na estação”, contou um vigilante de uma das unidades da Cristiano Machado. Ele destaca ainda que em várias estações não há cadeira para os trabalhadores. No período de 12 horas de plantão, mesmo nas madrugadas, quando fazem apenas a guarda patrimonial, eles têm que ficar de pé.
Análise da notícia
Um complexo destinado a receber o movimento diário de 500 mil pessoas, com estruturas abertas quase ininterruptamente, na terceira maior capital do Sudeste do país. Diante dessas características, difícil entender a falta de previsão sobre a necessidade de seguranças, logo de início, nas estações de transferência do Move em Belo Horizonte. As mais de 200 portas quebradas e os 67 monitores danificados até que os vigias começassem a trabalhar nas unidades de BH são apenas a parte mais visível do custo da falta de planejamento. Por ela pagaram também incontáveis passageiros, vítimas de pequenos furtos ou até de roubos seguidos de agressões, que não tiveram a quem recorrer. Se a demora já parece estranha no sistema da capital – no qual os vigilantes só começaram a trabalhar um ano depois da estreia do BRT –, torna-se incompreensível no Move Metropolitano, em que a segurança ainda nem tem data para aparecer. Uma disparidade que cria duas “classes” no transporte coletivo da capital. E os passageiros da Grande BH estão percebendo que embarcaram na mais vulnerável delas. (Roney Garcia)