Jornal Estado de Minas

Roubos crescem 76% em Santa Luzia e deixam população insegura

Comerciante instalou grade nos fundos, por onde já haviam entrado ladrões - Foto:
Uma placa da Polícia Militar dá boas-vindas a quem chega à Rua do Comércio, no Bairro da Ponte: “Sinta-se seguro em Santa Luzia”. No entanto, a mensagem sinaliza exatamente o contrário da situação vivida hoje por moradores e lojistas da cidade colonial, que é das mais antigas da Região Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com o relatório de crimes violentos em Minas, divulgado nessa terça-feira pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), o município de 215 mil habitantes apresentou, no primeiro semestre, alta de 76,76% no registro de roubos em relação ao mesmo período do ano passado – 730 contra 413. Trata-se do maior índice de aumento no estado na lista das cidades mineiras mais populosas.

“Nosso sentimento é de medo, jamais de segurança. Não sabemos mais o que fazer”, afirma um comerciante vítima de dois assaltos. Na primeira vez, em 2012, ele foi rendido, por volta das 23h, na porta de casa. Três homens armados o levaram até seu estabelecimento, na Rua do Comércio, fechado àquela altura da noite. “A impunidade prevaleceu.
Mesmo com as imagens das câmeras de segurança, a investigação considerou as provas insuficientes e não manteve os suspeitos presos”, lamenta.

O segundo assalto, no mês passado, ocorreu às 6h, quando as portas estavam se abrindo para os funcionários. “Era um trio: dois adolescentes, um deles com um revólver, e um maior de idade. Durante todo o tempo, falaram com os funcionários que iriam matar e usaram de violência com uma balconista”, conta o comerciante. Segundo a equipe da loja, o grupo estava visivelmente sob efeito de drogas. “Nem as câmeras estão intimidando os bandidos”, constata.

A violência tem um custo alto.
O comerciante afirma ter prejuízo superior a R$ 70 mil. “Temos 32 câmeras, mas nada está dando jeito. É preciso melhorar a segurança pública. Esta via pública, como o nome diz, é Rua do Comércio, com grande número de lojas. Então, é preciso dobrar a vigilância”, afirma. Para tentar reduzir o constante estresse, o empresário estendeu o número de horas do vigilante – que não pode trabalhar armado – e põe funcionários monitorando o tempo todo o painel de imagens do interior da loja. “Só rezando mesmo”, afirma, mostrando uma oração dedicada a São Jorge e as imagens de Santo Expedito e Nossa Senhora de Fátima.

- Foto: Na mesma rua, a dona de uma loja de celulares ainda não se refez do susto que tomou na terça-feira passada.
“Eram 9h59 quando cinco bandidos chegaram: dois ficaram no carro e três entraram. Um deles gritou com a arma na mão e olhando para mim: ‘Perdeu’”, conta a mulher. Com medo de que o marido, então no fundo do estabelecimento, pudesse perceber a situação e vir em seu socorro, com risco de levar um tiro, ela seguiu as recomendações. O prejuízo contabilizado até agora é de R$ 50 mil.

“No início, exigiram os 10 celulares novos expostos no balcão. Depois, mandaram abrir uma gaveta, na qual estavam 30 aparelhos enviados para assistência técnica, e depois ainda pegaram mais 20. Agora, as pessoas vão chegar para pegar os telefones entregues para conserto e só tenho uma saída: mostro a ocorrência policial e depois peço um tempo para pagar”, afirma a lojista. A exemplo dos demais comerciantes, ela afirma que as câmeras não inibem mais os criminosos, pois todos estavam sem máscara. “O curioso é que, durante o assalto, um ladrão estava roubando o outro: pegava as mercadorias, punha em um saco, e ficava atento para ver se o comparsa estava percebendo”, conta a mulher.

Em uma loja de roupas próxima houve duas ocorrências, com prejuízo de R$ 15 mil.
Na primeira, dois rapazes “fortinhos”, como descreveu o gerente, entraram na loja com dia claro (16h30). “Tomei um tapa na orelha. Três funcionárias e eu fomos levados para o escritório, enquanto eles faziam o serviço. Já na segunda vez, os assaltantes vieram de moto, um deles com capacete e roupa de proteção contra a chuva.”, afirma. “Está faltando segurança, esse é o problema.”

Um casal de moradores do Bairro Boa Esperança, onde há uma unidade da PM, narra os momentos de horror enfrentados em uma manhã de novembro. Sem respeitar a cerca elétrica que separa duas residências – “Até hoje não sei como não tomaram choque”, afirma o marido –, os criminosos entraram na primeira casa e espancaram um dos moradores. A irmã dele, que estava no quarto e não foi vista pelos ladrões, chamou a polícia pelo celular. “Quando os PMs chegaram, eles correram para o meu quintal. Por sorte, a porta dos fundos estava trancada e a empregada, de folga. Eles se esconderam num quartinho nos fundos e depois pularam para outro quintal.
Há impunidade, e muita gente jovem assaltando”, conta a mulher.

SEM RECURSOS
Na Avenida Brasília, no distrito de São Benedito, o medo impera entre os comerciantes. Em 12 anos, uma das lojas da via foi assaltada cinco vezes. “Só nos últimos seis meses, foram cinco roubos, sem contar os furtos”, diz um gerente, que não gosta nem de se lembrar dos maus momentos. Depois de uma das ocorrências providenciou grades nos fundos da loja, por onde haviam entrado os assaltantes.

Em outra loja, aberta há cinco anos, o assalto ocorreu às 11h30. “Levaram o dinheiro do caixa e o celular da funcionária. Infelizmente, ainda não deu para pôr equipamento de vigilância. A crise está tão forte que o dinheiro que entra é para pagar as dívidas”, lamenta a proprietária. Nas imediações, há vários estabelecimentos que registram assaltos e há sempre alguém lembrando de uma ocorrência.

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