A confeiteira Kátia Aisten de Assis, de 27 anos, e o marido, o vigilante Paulo Guilherme Medeiros Meireles, de 29, tinham muitos sonhos para eles e para os filhos, Giovana, de 9, e João Pedro, de 4. A ex-operadora de caixa de drogaria, que aprendeu a fazer bolos confeitados em um curso e já trabalhava por conta própria, pensando em abrir um empreendimento, teve seus sonhos desfeitos na noite de segunda-feira, quando o carro em que estava o casal foi brutalmente atingido pelo Gol placa GQO 9823, dirigido pelo administrador José Almerio Amorin Neto, de 35. Segundo testemunhas, o motorista dirigia em altíssima velocidade na Avenida Américo Vespúcio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, quando atingiu, na contramão, o Palio dirigido por Paulo.
Em novembro do ano passado, a mãe de Kátia, a auxiliar de serviços gerais Flávia Cristina Gonçalves, de 46 anos, que mora em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Kátia foi com os filhos cuidar dela. O marido permaneceu em BH e ia passar os fins de semana com a família. Há dois meses, uma irmã de Kátia chegou do Espírito Santo para assumir os cuidados com a mãe, e a confeiteira voltou para casa.
Poucas horas antes do acidente, Kátia, Paulo e o filho caçula foram a Caeté buscar a transferência das crianças para uma escola da capital. Chegaram no horário do almoço. “Eles estavam muito alegres. Kátia estava toda orgulhosa do bolo que havia feito para uma prima de Paulo, dizendo que havia ficado muito bonito. Ela me disse: ‘Viu o bolo chique que eu fiz?’”, contou a irmã. A confeiteira gostava de publicar fotos de seus bolos numa rede social. A família toda acompanhava o seu sucesso.
Na tarde de ontem, os corpos do casal eram aguardados no velório da Paróquia São Francisco de Assis, em Caeté, em frente à casa da mãe dela. As crianças estavam com os parentes de Paulo, em Belo Horizonte, e acompanhariam os carros fúnebres. A menina, ao receber a notícia da tragédia, fez um pedido: queria abraçar a mãe pela última vez. Os encarregados da funerária desaconselharam, devido aos traumas causados pelo acidente.
Na família, o sentimento de revolta era tanto quanto o de dor, confidenciou a irmã da vítima. “O motorista dirigia a 150km/h, numa via pública, às sete e meia da noite. Sabia que podia matar alguém e não provocou apenas um acidente. Cometeu dois homicídios. Queremos Justiça. São duas crianças sem pai e sem mãe agora”, desabafou Kamila.
Giovana e João Pedro eram muito ligados ao pai. O garoto, segundo a tia, não dormia enquanto ele não chegava do trabalho. “Paulo também tinha um sonho: arrumar um emprego melhor. Ele e Kátia viviam pelos filhos”, disse Kamila. Os corpos de Kátia e Paulo serão sepultados um ao lado do outro, às 10h de hoje, no Cemitério José Brandão, em Caeté.
Entrevista
FLÁVIA CRISTINA GONÇALVES,
MÃE DE KÁTIA AISTEN DE ASSIS
“Vai ser difícil perdoar”
Como a Kátia era como filha?
Uma filha de ouro. Sempre carinhosa com a gente, com os filhos e o marido. Nunca deu trabalho na escola ou na rua. Foi uma boa filha. Desde que eu adoeci, ela ficou agarrada comigo o tempo todo. Paulo também era um filho, um excelente marido e pai de família. Nunca deixava faltar nada para eles. Não tem nada que se compare à dor de uma mãe que perde um filho.
Qual o sentimento em relação ao motorista que provocou o acidente?
De revolta. O motorista sabia o que estava fazendo. Como é que ficam os meus netos agora, sem pai nem mãe? O mais novo só tem 4 anos. Tem aquela parte do Pai Nosso que a gente reza: ‘Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’, mas eu vou ter que trabalhar isso por muito tempo, para conseguir perdoar esse moço. Quando uma vida é retirada assim, de forma tão cruel e irresponsável, é mais doloroso ainda. Se fosse uma doença, eu até estaria mais conformada.
Qual lembrança a senhora vai guardar da filha?
Do sorriso dela, sempre de bem com a vida. Ela saiu da drogaria onde trabalhava e fez um curso de confeiteira. Estava fazendo uns bolos lindos. Tinha orgulho do que fazia.