Longa via-crúcis chega ao fim para uma peça importante do patrimônio sacro do estado. Depois de mais de 20 anos fora dos altares, será entregue hoje pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), às 9h, em Mariana, na Região Central do estado, um crucifixo do fim do século 18. De madeira maciça, o objeto cumpriu uma trajetória ilegal que começou em Ouro Branco, ao ser furtado em novembro de 1994. Passou por Sete Lagoas e Belo Horizonte, até ser vendido em São Paulo, onde foi adquirido por um colecionador da chamada alta sociedade paulistana – o nome não foi divulgado.
A partir de agora, o crucifixo ficará sob guarda do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, informou nessa terça o titular da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC/MPMG), Marcos Paulo de Souza Miranda. “É uma questão de segurança”, explicou o promotor, lembrando que o objeto foi levado em novembro de 1994 da Igreja de Santo Antônio, do distrito de Itatiaia, em Ouro Branco, na Região Central. “O templo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1980, mas não oferece segurança. Por isso, achamos melhor levá-lo para o museu”, acrescentou.
“É um momento de grande satisfação para todos nós, para Minas Gerais de maneira ampla, e não somente para a comunidade de Itatiaia. Temos que reconhecer o empenho do MPMG, que tem levando adiante a campanha para reintegrar ao nosso patrimônio peças que estavam em outros estados”, ressalta o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha.
Há um ano, o bem cultural e religioso foi trazido a Belo Horizonte, onde passou por perícia minuciosa até ser constatada a procedência. “Em duas décadas, a peça foi adulterada, tendo parte da base serrada para dificultar o reconhecimento e identificação”, contou Marcos Paulo. A peça estava cadastrada, com fotos e especificações técnicas, no banco de dados do acervo procurado pelo MPMG. A denúncia foi feita feita de forma anônima, o que levou a equipe do CPPC a intensificar a investigação e notificar o colecionador, que fez a devolução sem problemas.
ROTA DE FURTOS Na conversa com os promotores, o colecionador disse que o crucifixo foi adquirido em 2008, no Salão Hebraica, na capital paulista, feira famosa pela venda de obras de arte e objetos sacros. O vendedor seria um antiquário de Belo Horizonte, também de nome não divulgado, o qual, segundo Marcos Paulo, já responde a processo por envolvimento criminoso em comercialização de imagens sem documentação . “Antes disso, o crucifixo foi vendido em Sete Lagoas (Região Central), sinalizando uma rota que passa por BH e termina em São Paulo”, destacou.
A expectativa é grande na primeira vila, cidade e diocese de Minas, que receberá o crucifixo restaurado no Museu da Música, no antigo Palácio dos Bispos. “Estamos recebendo um patrimônio de devoção e artístico que nunca deveria ter saído daqui”, comemorou, ontem, o presidente da subcomissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Mariana, diretor do museu e pároco da Catedral da Sé, cônego Nédson Pereira. “Trata-se de um momento de grandeza, pelo resgate de parte de um patrimônio importante e que, agora, poderá visitado pela comunide de Itatiaia”, afirmou.
PARA DENUNCIAR
Quem tiver informações sobre peças roubadas e quiser fazer denúncias pode acionar:
Ministério Público Estadual
E-mail: cppc@mpmg.mp.br e telefone (31) 3250-4620
Iphan
Denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone (21) 2262-1971, fax (21) 2524-0482 ou e-mail
bcp-emov@iphan.gov.br
Iepha/MG
www.iepha.mg.gov.br ou pelos telefones (31) 3235-2812 ou 2813