“Um carro pode ser um revólver nas mãos de irresponsáveis. O acelerador tem o mesmo poder do gatilho.” A comparação é do taxista Marcelo Prado, de 44 anos. Há quase duas décadas e meia na profissão, o experiente condutor perdeu a conta de quantas vezes sua vida esteve em perigo por causa de veículos que trafegam em velocidade acima da permitida. “Falta mais responsabilidade a quem dirige em Belo Horizonte.” O alerta ganha maior força diante de uma tragédia recente, associada a um dado alarmante: as autuações por excesso de velocidade – causa de acidentes como o provocado pelo Gol turbinado que atingiu e matou um casal na capital, na segunda-feira – somaram 225.442 ocorrências no primeiro semestre deste ano, segundo a BHTrans.
O número, se dividido pelos 181 dias do acumulado de janeiro a junho de 2015, revela a média de 1.245,5 infrações a cada 24 horas. Portanto, 51,8 autuações por hora – quase uma por minuto – e apenas considerados motoristas que são efetivamente flagrados pelos radares da capital. Os 225.442 casos de desrespeito à legislação de trânsito foram registrados pelos equipamentos fixos de controle de velocidade (211.131) e pelos aparelhos móveis (14.311). São 5.985 autuações a mais do que no mesmo período de 2014, quando houve 219.457 ocorrências (veja gráfico).
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Os corpos do casal – que deixou os filhos Giovana, de 9, e João Pedro, de 4 – foram sepultados ontem, no Cemitério José Brandão, em Caeté, na Grande BH. O condutor do Gol, José Almério, deve ser indiciado pela Polícia Civil por duplo homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar). Uma testemunha disse aos policiais que seu carro trafegava a cerca de 150km/h no momento do desastre.
Mas velocidades menores também podem acabar com uma vida. Estudos indicam que uma pessoa atropelada a uma velocidade de 60km/h – limite permitido na maioria das avenidas e ruas de BH – sofre um impacto equivalente a uma queda de um edifício de 11 andares. A 80km/h, o impacto é semelhante a cair de uma construção de 20 pavimentos e, a 120km/h, a despencar de um prédio de 45 andares.
“A intensidade do trauma está relacionada com a transmissão de energia ao organismo (vítima). A tendência é de que, quanto maior a velocidade, maior a transmissão de energia e mais intensas as lesões”, informou o médico Rômulo Suki, coordenador do setor de Emergência do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, na capital. O HPS também elaborou uma estatística que reforça a necessidade de mais respeito no tráfego: 6,2 mil pessoas foram socorridas na unidade, apenas no primeiro semestre deste ano, em razão de acidentes no trânsito, 1.056 delas pedestres.
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Atropela, mata, foge e é liberado
O motorista Paulo Henrique Vilela Cardoso, de 41 anos, preso terça-feira depois de atropelar e matar um pedestre na Rua Professor Moraes, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi liberado ontem pelo Detran. O condutor – localizado depois de fugir do local do desastre, sendo indiciado por homicídio culposo e omissão de socorro, sem direito a fiança – teve a prisão revertida pela Justiça. De acordo com a Polícia Civil, o delegado não pôde estipular fiança porque as penas dos crimes pelos quais Paulo Henrique foi indiciado superam quatro anos. A assessoria do Fórum Lafayette informou que o juiz fixou fiança em 50 salários-mínimos, reduzida em um terço, acolhendo pedido da defesa.
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