A Copasa confirmou nessa segunda-feira que não adotará racionamento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte até o fim do ano, conforme o Estado de Minas havia antecipado em sua edição de sábado. Porém, o anúncio chega depois de constatada a segunda menor economia de consumo desde o início da crise, com índice de 10,3% em julho deste ano, comparado a igual período de 2014. A presidente da estatal, Sinara Meireles Chenna, afirmou que a expectativa para agosto e setembro é de que os usuários pelo menos mantenham o índice de poupança.
Técnicos da concessionária estimam que haja nos reservatórios o equivalente à vazão 75 milhões de metros cúbicos de água por segundo, em torno de 30% da capacidade, igual índice que em janeiro acendeu a luz de alerta para o risco de desabastecimento. O volume é suficiente para abastecer a Grande BH por três meses, embora ainda faltem quatro meses e meio até dezembro, quando a Copasa pretende colocar fim de vez à possibilidade de desabastecimento na região. Em janeiro, deve começar a ocorrer captação direta em nova estação, com capacidade de 90,9% de fornecimento do volume necessário para o sistema de tratamento do Rio Manso. “O volume de 30% (equivalentes ao nível dos reservatórios) não é pouco, pois vai chover”, afirmou Sinara.
A presidente da empresa apontou três fatores que contribuíram para afastar o fantasma do racionamento: o aumento do índice pluviométrico, a economia de consumo e a redução da perda de água. De janeiro a julho deste ano, choveu 798,6 milímetros, o que representa 55% acima do registrado em igual período de 2014, que foi de 516mm. Houve também chuvas atípicas em março e em maio, depois de secas rigorosas nos últimos três anos durante esses meses. Em maio, o acumulado de chuva bateu recorde desde o começo das medições, em 1910, com a capital mineira registrando 96,7 milímetros no período, mais de três vezes a média histórica para o mês, que é de 27,8 milímetros. “Para traçar a meta de 30% de economia de água, levamos em conta o volume pluviométrico e o consumo do ano passado”, justificou a presidente da Copasa.
A média de economia dos últimos seis meses caiu para 13,4%, depois do baixo resultado de julho (veja quadro). A empresa informou que não tem números de redução do desperdício com o programa “Caça-gotas”, cuja a meta é diminuir as perdas no sistema de 40% para 30% em quatro anos. “Foram 103 mil atendimentos do programa de fevereiro a julho, com 75.306 vazamentos estancados”, apontou Sinara. O diretor de Operações da concessionária, Rômulo Perilli, diz que a redução é uma meta ousada, que no histórico de muitos países só foi conseguida com 10 a 20 anos de trabalhos estratégicos.
ALERTA Em janeiro – dois dias depois de o Estado de Minas mostrar que o reservatório Serra Azul estava quase no volume morto – a Copasa admitiu que as represas do Sistema Paraopeba estavam com 30% de capacidade, o que, comparado com o ano anterior, acima dos 70%, acendia a luz de alerta para o risco de desabastecimento na Grande BH. As estimativas eram de que em julho a capacidade das represas cairia a 3%. Foi quando se anunciou a necessidade de redução de consumo de água em 30%. Porém, a maior queda de gastos alcançada pelos usuários foi de 16%, em março. Além da participação do consumidor, a Copasa investiu em equipes especializadas no atendimento de ocorrências de vazamento, reduzindo em 56% o tempo para as manutenções, passando de nove horas para quatro horas e 19 minutos. Também foram realizadas manobras operacionais de abastecimento, para desafogar o sistema.
Afastada a possibilidade de racionamento este ano, Sinara Meireles destaca que nos próximos 20 a 25 anos não deve ocorrer crise semelhante na Região Metropolitana de BH. Segundo ela, a previsão é de que fique pronta no fim de dezembro a nova estação do Rio Paraopeba, em Brumadinho, que vai bombear 5 mil litros de água por tubulações de aço com 1,5 metro de diâmetro, estendendo-se por 6,5 quilômetros, desde a margem do rio, próximo ao Instituto Inhotim, até a Estação de Tratamento de Água do Rio Manso, que integra o Sistema Paraopeba.Para abastecer a região, a unidade precisa de 5,5 mil litros por segundo. Sinara explicou que a nova estrutura vai captar durante o período chuvoso. Nesse intervalo, os demais reservatórios estarão fechados, recompondo seus níveis. Ela acredita que em dois anos as represas atinjam a capacidade máxima.
Apesar de descartar o racionamento este ano, a Copasa e o governo mantêm a mobilização contra a crise hídrica, uma vez que os reservatórios da Grande BH continuam baixos. Na semana passada, por exemplo, foi prorrogado por mais 60 dias o estado de restrição de consumo nas bacias das represas que formam o Sistema Paraopeba (Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores). A medida reduz as captações em 20% para abastecimento humano e animal, 25% para irrigação, 30% para indústria e mineração e 50% para demais usos.
Decisão antecipada
Em sua edição de sábado, o EM antecipou a decisão da Copasa de não recorrer ao racionamento até o fim deste ano, com base em três fatores preponderantes: a economia dos consumidores, as precipitações acima da média nos últimos meses da estação chuvosa e o planejamento para reduzir perdas na distribuição. “A Copasa se prepara para informar a acionistas que não será necessário limitar o fornecimento de água em 2015, e divulgará a decisão no início da semana que vem, segundo fontes do governo estadual”, adiantou a reportagem.
Impacto pode chegar à tarifa
A conta dos investimentos para evitar a escassez de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte deve ser cobrada no máximo em dois anos, com reajuste do preço do serviço. Ontem, a presidente da Copasa, Sinara Meireles, confirmou que no próximo mês a concessionária envia as planilhas de custo para que a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário de Minas Gerais (Arsae-MG) faça os estudos de revisão tarifária. “Não é um estudo simples, nem rápido, pode demorar de um a dois anos. Precisamos entrar com o pedido para ver se a composição da tarifa está refletindo o que temos de necessidade em termos de remuneração pelo serviço. Pode haver aumento ou redução da tarifa”, afirmou.
Sinara garantiu que este ano não haverá reajuste tarifário para custear os investimentos da empresa, que registrou lucro líquido de R$ 3,788 milhões no segundo trimestre do ano, resultado que significa queda de 95,4% sobre o mesmo período de 2014. Segundo ela, está previsto para maio de 2016 o reajuste anual da tarifa. Este ano o aumento foi de 15,4%.
Somente na nova captação de água em Brumadinho foram aplicados R$ 128,4 milhões, aporte do governo estadual. Houve ainda investimentos na criação de equipes de manutenção e obras para a transferência de 400 litros por segundo da água produzida pelo Sistema Rio das Velhas para a área atendida pelo Sistema Paraopeba, o suficiente para abastecer uma população de 746 mil habitantes.
Vencida a batalha contra o desabastecimento, Sinara Meireles diz que o próximo desafio é a aproximação da Copasa das administrações municipais. “Só para se ter uma ideia, estamos em 634 municípios, mas só em 288 também captamos esgoto”, afirmou. A aproximação da companhia com os prefeitos pretende aparar arestas do ponto de vista técnico e político, afirmou Sinara.
Recentemente, a Copasa se viu envolvida em polêmica relativa à prestação de serviço em três grandes cidades: Montes Claros, no Norte do estado, Pará de Minas, no Centro-Oeste, e Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, que reúnem quase 700 mil habitantes. Representantes dessas cidades criticam a falta de investimentos em fornecimento de água e o baixo índice de tratamento do esgoto.