Monjolos – Barulhentos bandos de "tô-fraco", como muitos mineiros se referem a galinha-d’angola, cruzam diariamente a Contorno, onde o trânsito de carros é pequeno. A pitoresca cena, estranha aos moradores de Belo Horizonte, é corriqueira em Monjolos, na Região Central de Minas, a 250 quilômetros da capital. O pacato município, com 2,3 mil habitantes e cujo nome tem origem na rústica ferramenta que transforma milho em fubá, ostenta o curioso "título" de cidade com menor frota no estado.
São 230 veículos: 90 carros, 96 motos, 21 caminhonetes, oito caminhões, oito ônibus, três camionetas, três micro-ônibus e uma motoneta. A estatística, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), mostra que a relação entre a frota e o território da cidade (650 km²) é de 0,35 veículo por quilômetro quadrado. Em BH, onde há 1,6 milhão de veículos em 330km², a relação é de 4,8 mil veículos no mesmo espaço.
Motoristas e passageiros em Monjolos não sofrem com problemas típicos das metrópoles, como retenções e congestionamentos. “Os acidentes são raros na área urbana”, garante o sargento Danilo Murta, chefe do destacamento local, com quatro policiais militares.
Daí, a meninada aproveita para pedalar nas ruas pavimentadas com paralelepípedos de pedras ou blocos de cimento – as vias de lá não são asfaltadas. “Vou para a escola na bike”, conta André Oliveira, de 12 anos. Já Clayton Fagundes, de 13, usa a magrela para buscar compras no minguado comércio.
Durante as pedaladas, eles se deparam com cavaleiros de diferentes idades. É no dorso do Chuvisco, um mangalarga mestiço, que José Maria Guimarães, de 74, vai ao médico, ao banco e à casa de amigos. “Só entro num carro se for para ir em outro município.”
Mas a pequena frota também gera desconforto à população. Por causa da irrisória demanda por serviços automotivos, não há em Monjolos posto de combustível, oficina mecânica e centro de formação de condutores. Também não há táxi e ônibus urbanos. A sinalização é precária, com poucas placas e nenhuma faixa para pedestres. Semáforo é outro equipamento estranho ao trânsito local.
“Uso meu Palio, ano 2000, para transportar as compras ao meu restaurante.
A unidade do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran) de Diamantina, a 72 quilômetros, é a responsável pelo emplacamento dos veículos em Mojolos. “Desse total, 65 quilômetros são de terra. Para piorar, a pessoa perde dois dias para emplacar o veículo. No primeiro, o condutor apresenta a papelada ao Detran. No segundo, viaja para o emplacamento”, explica Vanderlei.
“Aqui não tem oficina mecânica”, explica o estradeiro, fazendo questão de lembrar do tempo em que Monjolos tinha melhor infraestrutura. “Foi na época do trem de ferro.” Os vagões levavam gente e carga de Corinto a Diamantina. Uma das paradas era em Monjolos. As lembranças de Ruanito retornam à década de 1970, quando os trilhos foram arrancados.
“A vida aqui era outra. Eu mesmo vendia bandas de porcos. A população era de 5 mil a 6 mil pessoas”, calcula Ruanito. O fim da linha prejudicou a viagem de quem não tem veículo próprio a cidades vizinhas, como Santo Hipólito, Corinto e Diamantina. Quem precisa ir a esses lugares recorre aos ônibus intermunicipais, à carona ou a transporte ilegal de passageiros (carros e motos). Pelo menos nesse aspecto, o pacato lugarejo tem uma característica em comum à das metrópoles.
Emplacar é difícil
Moradores de Monjolos precisam ir a Diamantina para emplacar seus veículos.