Feridos denunciaram excessos - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press
A ação policial ontem, na Rua da Bahia, mudou a rotina de quem mora e trabalha no local. Mas foi no Hotel Sol Belo Horizonte que a situação foi mais crítica, com hóspedes tendo dificuldade para sair ou entrar no prédio, que, pela quantidade de militares do Batalhão de Choque, parecia um quartel. “Foi o local mais próximo que tivemos para nos refugiar. A gerente deixou que entrássemos e até nos deu vinagre para suportar o cheiro das bombas. Fui um dos detidos. Os que subiram as escadas e tentaram se esconder nos andares de cima foram algemados. Quando os PMs começaram a fazer triagem, disse que não participava da manifestação e me deixaram sair”, disse o universitário Vinícius Brandão, de 21 anos.

Desde o começo da ação policial a Rua da Bahia ficou fechada por quase uma hora. Moradores e hóspedes do Sol BH e de outro hotel que conseguiram passar pelo bloqueio eram escoltados por PMs. Um pequeno grupo que participava da manifestação, e que tentava chegar até os colegas detidos no hotel, foi impedido por militares, que atiraram bombas e bala de borrachas. Uma das bombas explodiu bem próximo à porta de vidro de um edifício comercial.

O administrador de empresas Valter Rumber, de 58 anos, hospedado no Sol BH, disse que foi surpreendido pela multidão correndo, no momento em que retornava ao hotel. “Sou de Fortaleza e nem sabia dos protestos. Ao ser empurrado, tive uma lesão e pensei até que tinha quebrado uma costela”, disse Rumber, antes de embarcar apressado em um táxi, em direção a um hospital.

No hall do hotel, hóspedes tentavam se refazer do susto. Numa sala aos fundos, dezenas de militares vigiavam os jovens sentados ao chão. A imprensa foi liberada por alguns minutos para constatar que não havia feridos no grupo. Do lado de fora, aos poucos chegavam parentes e amigos dos detidos. Em pouco tempo, em frente ao prédio já havia nova manifestação e um grupo de policiais com escudos. Até hospedes passaram a ser barrados e dependiam de autorização para entrar e sair.

Advogados também eram barrados inicialmente mas, se entregassem a carteira da Ordem dos Advogados para averiguação dos oficiais, no interior do hotel, eram liberados. O advogado Sílvio Carvalho reclamou: “Vim a pedido da família de um garoto detido e me impediram de atender meus clientes”, protestou.

NOVO TUMULTO Por volta das 23h, os manifestantes detidos foram retirados do hotel. Para dispersar o grupo que estava na portaria, a PM voltou a usar gás de pimenta e reprimir manifestantes, para formar uma fila até os ônibus que levariam os presos à delegacia. Dois menores foram levados para a Centro Integrado de Atendimetno ao Adolescente (CIA), e cerca de 50 manifestantes foram levados para o Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan), no Bairro Floresta.

A defensora pública Júnia Carvalho acompanhou os manifestantes no hotel e avaliou que não houve negociação com os militares para tentar resolver a situação. “As pessoas lá dentro passaram mal com o gás. Tanto os manifestantes, como os policiais. Não conseguimos negociar com a polícia e ficamos preocupados com a forma como a situação foi conduzida. Era uma manifestação pacífica, sem interesse de agredir ninguém. As pessoas lutam de forma justa contra situações injustas criadas pelo poder público”, disse a defensora.

FERIDOS Pelo menos três manifestantes, além do repórter fotográfico Denilton Dias, do jornal O Tempo, foram atendidos no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, depois do protesto. Segundo a PM, outros três ativistas foram levados à UPA Oeste, com ferimentos sem gravidade.
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