A segunda manifestação contra o aumento das passagens em Belo Horizonte surpreendeu pela tranquilidade nesta sexta-feira. O número de manifestantes diverge, sendo 700 para a PM e 3 mil para os organizadores. As pessoas circularam pelo Centro da capital acompanhadas por 500 policiais, durante quatro horas. Ao contrário do prognóstico, considerando o conflito que transformou a Rua da Bahia em uma praça de guerra na última quarta-feira, com feridos e 60 pessoas presas, a passeata correu bem e nenhum manifestante foi detido. Porém, devido à lentidão no trânsito, três atendimentos médicos foram prejudicados, segundo a polícia. Em um deles uma pessoa morreu de parada cardíaca após passar mal em um ônibus.
A concentração para o protesto começou por volta das 17h no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, em frente à Praça Sete, onde a viaturas da polícia militar e da BHTrans já se reuniam, cercando todos os lados do espaço. Aos manifestantes do Tarifa Zero se juntaram a integrantes do Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e moradores das ocupações da região da Granja Werneck. Além de protestar contra o reajuste da tarifa, eles cobravam uma solução para a situação das comunidades Rosa Leão, Esperança e Vitória, que se reuniriam com a PM hoje para discutir os detalhes da saída do terreno. O encontro foi cancelado por causa da manifestação.
A caminhada começou por volta das 18h. Eles seguiram pela Avenida Afonso Pena inicialmente com destino à Praça da Savassi. Orientados pela Polícia Militar, fizeram um cordão para deixar a faixa de emergência da pista liberada no sentido Mangabeiras, mas o trânsito ficou lento na região. No entanto, em alguns pontos do trajeto, eles não conseguiram cumprir o acordo da liberação da via, devido ao grande número de pessoas. Acompanhados de tambores e segurando faixas contra o aumento, eles gritaram palavras de ordem por todo o trajeto.
Os manifestantes caminharam até a Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, e seguiram para a Praça da Liberdade, de onde retornaram ao Centro passando pela Avenida João Pinheiro e depois para a Afonso Pena. De volta à Praça Sete, eles comemoraram o sucesso da manifestação e deram um abraço simbólico no obelisco, marcando o fim do protesto. Alguns manifestantes disseram que na próxima segunda-feira vão se reunir debaixo do Viaduto Santa Tereza para discutir a desocupação da Granja Werneck.
MORTE NO CENTRO Durante a manifestação, um homem de 63 anos morreu após passar mal dentro de um ônibus que estava parado no congestionamento. O coletivo passava pela Avenida Amazonas, próximo ao Mercado Central, quando os passageiros informaram a situação ao motorista da linha 1502 (Vista Alegre/Guarani). O homem recebeu atendimento da PM e de médicos do Samu. Os policiais militares tiraram o homem do ônibus e colocaram em uma viatura para levar a algum hospital.
Quando estavam saindo, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) passou pela região e a equipe médica realizou o atendimento ainda no local. Os médicos tentaram reanimar a vítima por 30 minutos, mas ela não resistiu. O homem foi identificado como Ivail Jorge Augusto Cezarino. Horas mais tarde, o coronel Robson Queiroz, do Comando de Policiamento da Capital (CPC), informou que cerca de oito pedras de crack foram encontradas dentro do sapato da vítima. O corpo foi levado para o Hospital Odilon Behrens, na Região Noroeste de BH.
O coronel também cita que há outros dois relatos de prestações de socorro prejudicadas devido à lentidão no trânsito. Uma delas é uma idosa que precisou de atendimento no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste, e foi levada para o Hospital São Lucas. O motorista reclamou que o trajeto normalmente feito em 15 minutos, demorou 40. A outra paciente acionou a PM em um hospital particular, alegando ter sido prejudicada por causa do trânsito.
AVALIAÇÃO DO PROTESTO “Com relação ao trajeto, ao que foi solicitado e desta vez atendido em negociação, transcorreu de forma tranquila. Foi liberada uma faixa, a faixa de emergência da Avenida Afonso Pena, o que permitiu o trânsito de veículos, o que não aconteceu da outra vez”, explica o coronel Queiroz. “E no momento em que ela se encerra, até o momento, nenhum incidente diretamente relacionado com a manifestação, durante a manifestação. Somente esses fatos relacionados à prestação de socorro”.
Para o comandante do CPC, o saldo da manifestação é positivo e a boa interação com as lideranças do movimento foi fundamental para garantir a paz durante o ato. “A postura da polícia é sempre de iniciar uma negociação para que tudo seja da melhor forma possível”, comenta o militar. “Quando somos atendidos, quando a negociação surte efeito, quando as pessoas entendem o que estamos querendo dizer, quando se entende que não há nenhum cerceamento ao direito à livre manifestação e sim a garantia desse direito, mas também preservando outros direitos de outras pessoas que não estão manifestando, tudo tende a transcorrer bem, mesmo quando a manifestação não é comunicada previamente”.