Fechada há quase 20 anos por causa do risco de desabamento, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Biribiri, um bucólico povoado de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, enfim será restaurada. O templo, erguido em 1876 e cercado por palmeiras imperiais, é tido como uma relíquia da arquitetura no Brasil, com características dos estilos rococó e eclético.
Leia Mais
Beatificação do mineiro Padre Victor acontece em novembroTiradentes dá início à revitalização do calçamento do CentroIEF terá que tomar medidas de preservação do Parque Estadual do BiribiriEssa fase está prevista para ser concluída no fim de 2015 e foi orçada em R$ 200 mil. O investimento será bancado pela Associação dos Moradores da Vila de Biribiri e pela Estamparia S.A., a empresa de tecidos proprietária do templo e de mais duas das 33 construções do povoado. “A igreja precisa urgentemente de intervenções. Há poucos dias, um pedaço do telhado caiu”, alertou o presidente da associação, Juscelino Brasiliano Roque, que nasceu no dia da inauguração de Brasília e cujo nome homenageia Juscelino Kubitschek (1902-1976), natural de Diamantina, e o próprio Brasil.
Anteontem, o xará do ex-presidente da República se reuniu com a diretora do Iepha e representantes da Estamparia.
O projeto arquitetônico é de autoria da arquiteta e urbanista Rafaele Bogatzky. Toda a obra precisa ser supervisionada pelo Iepha, pois o conjunto arquitetônico do lugarejo é tombado pelo órgão desde 1998. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também deve acompanhar os procedimentos.
O acervo do templo – imagens sacras, castiçais, bancos, documentos e um órgão – foram levados para Diamantina, onde ficarão durante a restauração. Já o sino, construído em 1888, e o relógio, doado pela família real no fim do século 18, continuam na fachada da construção.
Entre a porta principal e o cercado que protege o templo, o único túmulo do lugarejo. Nele, encontra-se sepultado o corpo do senador Joaquim Felício dos Santos (1822-1895), um dos autores do Código Civil que vigorou até 2003.
ORIGEM A história da Sagrado Coração de Jesus, construída com “as melhores pedras do solo de Diamantina”, como muita gente faz questão de ressaltar, confunde-se com a de Biribiri, cujo nome em tupi-guarani é buraco fundo. A vila, a 12 quilômetros do Centro Histórico de Diamantina e a 300 de Belo Horizonte, foi construída para abrigar uma fábrica de tecidos e seus funcionários.
O local contava com moradias, escola, armazém, barbearia etc. No augue da produção, mais de 1 mil pessoas trabalharam no lugar. Havia até imigrantes, que manuseavam alguns dos mais de 100 teares movidohs pela energia elétrica produzida numa usina construída no próprio povoado.
O alto custo da linha de montagem e o da distribuição, porém, inviabilizaram as atividades na fábrica em 1973. As famílias migraram para outras bandas em razão da falta de emprego.
Os quatro cuidavam do Mequetrefe, um vira-lata que apareceu por lá. Naquela época, Biribiri era carinhosamente lembrada como “cidade-fantasma”. Em 2013, a Estamparia decidiu negociar os 33 imóveis, devido ao alto custo de manutenção da vila. Apenas a igreja, a casa que servia de abrigo para a família do gerente da fábrica e o galpão dela não foram negociados.
Um dos compradores foi Juscelino, o presidente da associação dos moradores: “Celebrações religiosas voltarão a ocorrer na igreja”. O templo continuará em sua cor original, branca. Aliás, uma das regras no lugarejo é preservar a fachada e a cor original das construções, que têm portas e janelas azuis.
O local desperta com frequência a atenção de escritores e produtores culturais. Lá foram gravados os filmes Dança dos bonecos, de Helvécio Raton; Xica da Silva, de Cacá Diegues; e A hora e a vez de Augusto Matraga, de Vinícius Coimbra.
O lugarejo também foi homenageado pela literatura. Em 1893, a então adolescente Helena Caldeira Brant escreveu em seu diário que “não teria pressa de ir para o céu se morasse em Biribiri”. Quase cinco décadas depois, sob o pseudônimo de Helena Morley, ela transformou suas lembranças de juventude no best-seller Minha vida de menina.
O NOVO PERFIL DO POVOADO Biribiri surgiu para sediar uma fábrica de tecidos e ao mesmo tempo garantir emprego para moças carentes do Vale do Jequitinhonha. Depois de rotulada carinhosamente de cidade- fantasma, o lugarejo atrai recursos. Os novos proprietários dos imóveis do local dão uma guinada na economia de lá. Biribiri agora tem pousada e dois restaurantes. Daqui a alguns meses, ganhará um hotel, uma loja, uma vinícola e um museu..