Dia D para a Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte e candidata a patrimônio mundial, título concedido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Em 28 de setembro, chegará à capital a consultora venezuelana Maria Eugênia Bacci, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), para fazer a avaliação final sobre o conjunto arquitetônico modernista projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) e construído à beira da lagoa na década de 1940. A informação foi divulgada, ontem, pela presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, durante a comemoração do Dia Nacional do Patrimônio Cultural em Minas Gerais, na Casa do Conde, Região Leste da cidade. A consultora do Icomos ficará em BH até 2 de outubro.
“No momento, estamos formando o comitê gestor da Pampulha, que será responsável pela interlocução com a Unesco, depois que o título for concedido. É a fase pós-reconhecimento”, contou Jurema com otimismo. O comitê será formado por representantes do Iphan, de órgãos municipais e dos moradores e tem o objetivo de verificar a situação do local e cobrar ações das autoridades para permanente preservação.
POLUIÇÃO Problemas citados por especialistas como gargalos na conquista do título – poluição do espelho d’água por lançamento de esgoto e a construção de um anexo no Iate Tênis Clube, que descaracterizaria a paisagem – não deverão pesar na balança do Icomos, acredita a presidente do Iphan. Ela explicou que a limpeza da Lagoa da Pampulha tem sido gradativa, com a construção dos coletores e interceptores de esgoto e caça aos lançamentos domésticos clandestinos de matéria orgânica. “Já conversei com o prefeito Marcio Lacerda sobre isso e está bem encaminhado”, afirmou.
Quanto ao Iate Tênis Clube, onde há um anexo no qual funciona uma academia e um salão, Jurema explicou “que houve negociação para reforma e futura demolição do pavimento”. E acrescentou: “O acordo está sendo feito e isso não deverá atrapalhar a decisão. O certo é que há uma mobilização para a Pampulha se tornar patrimônio mundial”, disse Jurema. De acordo com a direção do clube, via assessoria de imprensa, “a intenção do clube não é criar empecilhos para a conquista do título, pois é parte interessada no reconhecimento”. Os dirigentes, no entanto, afirmam que não foram notificados pela prefeitura para demolir o anexo, o que teria custo elevado para o clube.
RESTAURAÇÃO Durante a reunião comemorativa do Dia do Patrimônio Nacional – a data reverencia a memória do belo-horizontino e primeiro presidente da instituição federal, Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969), a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, disse que a licitação da Igreja de São Francisco já foi concluída e que as intervenções podem ser iniciadas. Outras obras previstas, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, incluem a Catedral da Sé, que terá recursos de R$ 6 milhões.
A candidatura do complexo
A Pampulha está na lista indicativa do Brasil desde 1996 e sua candidatura a patrimônio cultural da humanidade foi retomada pela PBH em dezembro de 2012. O conjunto arquitetônico inclui os edifícios e jardins da Igreja de São Francisco de Assis, o Museu de Arte, antigo cassino, Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube), construídos quase simultaneamente entre 1942 e 1943, além da residência de Juscelino Kubitschek (atual Casa Kubitschek), datada de 1943. Entre os que deixaram sua marca na Pampulha, está o nome do pintor Cândido Portinari (1903-1962). Se houver o reconhecimento, BH estará ao lado de mais três cidades mineiras: Ouro Preto (título concedido em 1980), Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (1985), na Região Central, e Dimantina (1999), no Vale do Jequitinhonha.