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Estado de Minas

Caminhão-pipa é única saída para Francisco Sá, no Norte de Minas

Na Região Norte do estado, crise hídrica castiga ainda mais moradores. Em cidades como Francisco Sá, com reservatório seco e rodízio em vigor, saída é esperar pelo caminhão-pipa


postado em 18/08/2015 06:00 / atualizado em 18/08/2015 09:55

O lavrador Vanderlei Vicente Sales (D), que vive em uma das áreas mais afetadas de Francisco Sá, reclama da regularidade do abastecimento. Caminhões só passam a cada cinco dias(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press )
O lavrador Vanderlei Vicente Sales (D), que vive em uma das áreas mais afetadas de Francisco Sá, reclama da regularidade do abastecimento. Caminhões só passam a cada cinco dias (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press )

Francisco Sá –
Se em cidades de regiões como a Zona da Mata mineira o rodízio de abastecimento de água já atormenta moradores, no Norte de Minas, que historicamente sofre com a seca, a situação é muito mais grave. Em Francisco Sá, de 23,4 mil habitantes, distante 470 quilômetros de Belo Horizonte, a Barragem São Domingos, que abastecia o município, praticamente secou e o Serviço Autônomo de Água Esgoto (Saae) recorre à abertura de poços tubulares, mas a alternativa não é suficiente. Com isso, água nas torneiras só dia sim, dia não. Isso nas regiões menos afetadas, pois há gente que simplesmente está sem o fornecimento regular, e precisa contar com caminhões-pipa.

As dificuldades no fornecimento de água para a população também são enfrentadas em outros pequenos municípios do Norte de Minas. O gerente regional da Copasa em Montes Claros, Daniel Antunes, informou ontem que, em breve, será preciso adotar o racionamento em Mato Verde, já que a Barragem do Viamão, está quase seca. Em Ibiracatu, no início deste mês, as torneiras secaram e a população teve que ser atendida por caminhão-pipa. A situação foi normalizada com a perfuração de poços tubulares. Na mesma região, também há problemas em Campo Azul e Cristália, segundo a Copasa.

A barragem do Rio Juramento (Sistema Rio Verde Grande), que abastece a população de Montes Claros, de 384 mil habitantes, polo da região, teve o seu nível bastante reduzido e está com 35,9% da sua capacidade, atingindo o chamado “volume estratégico”. Mesmo assim, a Copasa garantiu ontem que está afastada a possibilidade de racionamento em Montes Claros neste ano.

Em Francisco Sá, os moradores convivem com o racionamento desde meados de janeiro, quando também foi decretado estado de emergência no município, devido à falta de chuvas e à redução da Barragem de São Domingos. A situação piorou há 30 dias, quando a represa de 5 milhões de litros praticamente secou. A prefeitura aumentou a captação de água subterrânea, com a perfuração de um poço tubular na Vila Vieira. Essa água chega à estação de tratamento pela mesma tubulação que parte da barragem, explica o secretário de Administração do município, Carlos Henrique Nunes.

Porém, com a captação de poço tubular a pressão é baixa e a água demora chegar aos bairros das regiões mais altas da cidade. Com isso, há endereços onde o fornecimento simplesmente não ocorre. Por isso, a prefeitura teve que recorrer a caminhões-pipa para atender esses moradores.

Segundo o secretário Carlos Henrique Nunes, três veículos estão abastecendo em torno de 3 mil pessoas de seis bairros. É o caso do lavrador Vanderlei Vicente Sales, que ontem recebeu a “visita” em casa, no Bairro Parque Jardim, uma das áreas mais afetadas pela crise. Mas Vanderlei disse que o caminhão demora até cinco dias para retornar. “É muito difícil ficar sem água”, reclamou o lavrador, que já pensa até em sair do lugar. “A gente vive sem energia, mas ninguém vive sem água”, disse.

O comerciante Pedro Pereira de Jesus, do mesmo bairro, também lamenta o quadro, e disse que se esforça para economizar, pois teme pelo pior. “Estamos enfrentando uma péssima situação. Faço tudo para economizar, pois sei que as coisas podem piorar ainda, por causa da seca. Só Deus para resolver e mandar chuva”, diz o comerciante. A doméstica Eva Pereira Pinto reclama da qualidade da água. “É muito salgada. Faz até mal para gente”, disse.

Na zona rural da cidade, rodam 14 caminhões-pipa, encarregados de levar água a cerca de 7 mil moradores de 20 localidades, segundo a prefeitura.

Estiagem leva 104 cidades de Minas a decretar emergência

Cento e quatro cidades mineiras decretaram situação de emergência por causa da seca desde o início do ano. “A situação preocupa. Na Grande Belo Horizonte, não haverá racionamento, em razão de obras, chuvas e devido à economia de consumidores, mas em pontos do Norte de Minas, infelizmente, chegou a chover 70% menos do que o esperado”, lamentou o tenente Júnior Silvano, diretor-técnico da Defesa Civil estadual.

A escassez de água mudou drasticamente a rotina nessas cidades. Muitas lavouras não vingaram e rebanhos precisaram ser vendidos a preço abaixo do mercado, como ocorreu em Ibiracatu, na Região Norte. “A cidade tem 6,2 mil habitantes. Muitos pecuaristas tiveram que se desfazer do gado”, lamentou Wellington Oliveira, presidente da Câmara Municipal. Ele e um grupo de políticos da região estiveram em Brasília, há algumas semanas, na esperança de convencer congressistas sobre a importância de uma barragem na região, o que diminuiria o sofrimento de famílias de Ibiracatu, Lontra e Maria da Cruz.

A lista completa das cidades que decretaram situação de emergência pode ser conferida no endereço www.defesacivil.mg.gov.br. Para amenizar o problema, a Defesa Civil vai distribuir caminhões-pipa a famílias de 45 cidades do Norte de Minas e dos vales do Jequitinhonha e Mucuri. O serviço, que terá 114 rotas, deve começar em setembro.

ANA debate a crise no Rio Doce

A Agência Nacional de Águas (ANA) promove reunião hoje, na Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (AGERH), em Vitória, para debater a crise na Bacia do Rio Doce, que banha Minas Gerais e Espírito Santo. Além de representantes da ANA e da própria agência, participam da reunião representantes do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema-ES) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Embora o rio tenha pela primeira vez deixado de chegar ao Atlântico pela foz tradicional, ainda não há restrição de uso de suas águas.


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