O governo mineiro montou uma “força-tarefa” para esclarecer a curiosa história de que o estado teria a posse de um filete de terra no Sul da Bahia que dá acesso ao mar, como mostra reportagens do Estado de Minas, publicadas desde quarta-feira. Profissionais de seis órgãos foram escalados para localizar possíveis documentos de que o Palácio da Liberdade tem a posse de um trecho que vai da divisa entre os dois estados à cidade histórica de Caravelas, num toral de 12 quilômetros de largura por 142 quilômetros de extensão.
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Minas e Bahia vão pesquisar documentos para definir futuro do "mar mineiro"Quase 150 quilômetros de terras no litoral baiano podem pertencer a Minas GeraisCaravelas, o "mar mineiro"“Não muda nada no mapa nacional. Seria uma propriedade do ente federativo Minas (no território da Bahia)”, disse Leonardo Barbabela, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Público do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Profissionais do governo baiano também estão empenhados em localizar os possíveis documentos nos órgãos públicos de lá.
Por outro lado, a história aguça a imaginação de mineiros em, um dia, olhar de perto as ondas do Altântico que banham Caravelas e dizer: “Olha aí o nosso mar”. Essa frase foi escrita por Fernando Brant (1946-2015) numa reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 1973, sobre o mesmo assunto. Anos depois, ele se tornaria o principal compositor de Milton Nascimento.
A história do “mar de Minas”, revelou o então repórter, tem início com a ferrovia Bahia-Minas, que ligou Ponta de Areia (BA) a Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.
Veja imagens da cidade de Caravelas
Menos de uma década depois, a empresa enfrentou dificuldade financeira e hipotecou aquele pedaço de chão a um banco privado. Como o débito não foi pago, a instituição financeira executou a dívida. Em 1910, foi a vez de o banco enfrentar crise financeira e repassar o filete de chão ao governo de Minas. Por algum motivo, contudo, o estado jamais explorou a terra.Apenas na década de 1940, o governo mineiro reivindicou à administração vizinha a propriedade das terras. Documentos oficiais foram encaminhados à Bahia, mas os governantes baianos jamais responderam aos ofícios mineiros. A história se tornou pública somente na década de 1970, quando Fernando Brant levou o caso para as páginas de O Cruzeiro.
SEM DISPUTA Um dos órgãos envolvidos na “força-tarefa” é o Instituto de Geoinformação e Tecnologia de Minas Gerais (IGTEC).
“É apenas um fiapo no mapa, mas é o quanto basta para Minas. Um fio de linha, uma modesta e tímida maneira de se chegar ao mar”, escreveu Brant. É bom que se diga que a curiosa história não se trata de uma disputa de terra entre os dois estados. Tampouco entre mineiros e baianos, que sempre se encontram nas férias e feriados prolongados. Seja em Caravelas, nas outras praias da Bahia ou nas cidades históricas de Minas.
REPERCUSSÃO NA ‘BAIMINAS’ A polêmica história do “mar de Minas” teve repercussão em várias cidades da Bahia, sobretudo nos municípios que foram cortados pela “Baiminas”, como moradores se referem à extinta ferrovia cuja origem da história do referido pedaço de chão está ligada. Dezenas de jornais impresso, sites de notícia e rádios divulgaram o pitoresco caso, com destaque ao texto de Fernando Brant.
Curtidas continuam na rede
Minas tem mar ou não? Na página do EM no Facebook, a história que repercute desde quarta-feira voltou a ser o centro dos cometários dos internautas ontem. Os governos de Minas e da Bahia estão pesquisando seus arquivos em busca dos documentos que esclareçam a situação.
“Minas adquiriu essa faixa de terra de forma legal, nada mais justo.”
Leandro Mendes
“Quem sabe isso não se concretiza? Se der tudo certo, o governo de Minas deve investir em um porto e fazer uma estrada linda e segura para que possamos conhecer e curtir o mar de Minas! É claro que o estado sai ganhando tendo o seu próprio acesso ao mar!”
Fábio Freitas.