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Estado de Minas

Busca por tratamento médico em BH lota as estradas mineiras

Neste ano, 44,9% das internações da saúde municipal de BH foram de pacientes do interior. Nos atendimentos ambulatoriais, mais de um terço dos pacientes são de fora da capital


postado em 21/08/2015 06:00 / atualizado em 21/08/2015 07:46

A auxiliar de enfermagem Ivone Alonso, de Corinto, faz 10 viagens por mês para BH: ''Estou apreensiva''(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS )
A auxiliar de enfermagem Ivone Alonso, de Corinto, faz 10 viagens por mês para BH: ''Estou apreensiva'' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS )
 

Minas tem regiões estrategicamente divididas para atendimento de saúde, mas Belo Horizonte sofre o maior impacto com a demanda do interior. A busca da população mineira por tratamentos de saúde não oferecidos nos municípios de origem dos pacientes lota as estradas de vans e micro-ônibus com destino à capital. Viagens longas, muitas vezes de até 800 quilômetros de distância, aumentam o risco de acidentes.


De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, BH é referência para os 853 municípios nos serviços de alta complexidade (transplante, cirurgia pediatria, entre outros) e para cerca de 700 municípios nos procedimentos de média complexidade. O atendimento é feito de forma pactuada, com repasses relativos ao atendimento, mas impacta a prestação de serviços da capital, segundo o órgão. Neste ano, 44,9% das internações da saúde municipal de BH foram de pacientes do interior. Nos atendimentos ambulatoriais, o que inclui procedimentos como consultas, exames, diálise, quimioterapia e outros, mais de um terço dos pacientes são de fora da capital (34,3%).

Além do perigo que as estradas oferecem, muitas delas de pista simples, e da imprudência de condutores, há outro transtorno. Motoristas que fazem essas viagens chegam a ficar quase 24 horas em trabalho. A dona de casa Mariana Silva, de 24, que mora em Lagoa da Prata, no Centro-Oeste de Minas, faz tratamento ginecológico na capital e também acompanha o marido no tratamento ortopédico em BH. Ela conta que, em uma das viagens, eles saíram de casa às 2h e só retornaram no outro dia, por volta de 1h30. “É um processo desgastante. Não só para a gente, que nem tem onde ficar em BH enquanto todos os pacientes são atendidos, mas também para o motorista. Ele não descansa e ainda tem que fazer marcações de exames e consultas para outros pacientes”, afirma Mariana.
Júlio, de 38 anos, estava em micro-ônibus que capotou na semana passada: ''Tenho que pegar a estrada''(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS )
Júlio, de 38 anos, estava em micro-ônibus que capotou na semana passada: ''Tenho que pegar a estrada'' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS )

No dia do acidente com o micro-ônibus que vinha de Corinto, em que 10 pessoas ficaram feridas, a auxiliar de enfermagem Ivone Alonso de Campos, de 52 anos, também estava no veículo. Aquele foi o primeiro acidente que sofreu em seis anos de viagens para a capital. “Venho a BH pelo menos 10 vezes por mês. Apesar do grande movimento de carros e caminhões, não achava o trecho perigoso. Agora estou apreensiva. O motorista (que dirigia naquele dia) está em choque até hoje”, contou a mulher.

Sentada em um passeio da Praça Hugo Werneck – ponto de parada dos veículos de saúde que vêm do interior para a região hospitalar de Belo Horizonte –, a professora aposentada Maria José Freitas Lobato, de 65 anos, lamenta a falta de atendimento em Bom Despacho, onde mora. “É muito desconfortável e perigoso. Por mais que os motoristas dos micro-ônibus sejam cuidadosos, o risco é constante”, diz a mulher que, há mais de um ano, trata em Belo Horizonte de um rompimento de tendão em um dos braços.

 


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