Levar os filhos para escola, fazer um pagamento no banco, ir à consulta médica, fazer a feira, chegar a uma reunião de trabalho. Com tantas atividades para serem realizadas diariamente, falta tempo e sobra estresse. Nesse corre-corre das cidades, as tarefas que precisam ser realizadas para ontem e, em meio ao frenesi, gentileza parece ser um gesto em extinção. Mas não é. A reportagem percorreu diversos bairros em busca de exemplos de gentileza e encontrou muita gente amável com o próximo sem esperar nada em troca.
A partir de hoje, o Estado de Minas inicia série sobre gentileza urbana, como parte do concurso “Prêmio Jornal na Escola”, e mostra exemplos de ação cidadã: garis que oferecem café coado na hora para quem passa na Rua Guajajaras, no Barro Preto, na Região Centro-Sul; artista plástica que adota praça no Bairro Floresta, na Leste, transformando-a em lugar de encontro e de leitura; lanterneiro que cultiva horta e doa verduras fresquinhas para a vizinhança; arquiteta que faz doações a instituições de caridade para manter as paredes de seu prédio livre de pichações, no Gutierrez, também na Centro-Sul; padre que doa parte do seu dia para conversar com as crianças no Prado, na Oeste, e microempreendedor que ajuda idosos e crianças a atravessarem rua do Santo Antônio, na Centro-Sul.
O uniforme laranja é motivo de orgulho para a gari Ana Xavier da Silva, de 56 anos. Mas, por usá-lo, ela foi barrada em um restaurante, sob o argumento de que ela não poderia entrar vestida assim para almoçar. Ela respondeu ao preconceito com a adoção no seu dia a dia de uma postura oposta à de que foi vítima: a generosidade. No ponto de varrição onde trabalha (na Rua Guajajaras, no Barro Preto), ela e a colega Cleuza Alves Ramos, de 50, transformaram o ambiente.
Depois de concluir o trabalho, uma das duas passa o café no ponto de apoio. O cheiro e a boa prosa atraem quem passa. “Quem para aqui não faz diferença da gente. Não tem preconceito. Construímos amizades muito boas”, afirma Cleuza.
Em outra região da cidade, versos de Carlos Drummond de Andrade pintados em caixotes chamam a atenção de quem passa pela Praça Salvador Morici, na Avenida do Contorno. Desde 6 de dezembro de 2014, diariamente, a artista plástica Estella Cruzmel, de 65, molha as plantas e retira ervas daninhas do gramado. Tamanha doação inspirou a funcionária pública Célia Ribeiro, de 72, e Sônia Arantes, de 56. “Resolvemos ajudar, porque ela sozinha não dava conta de cuidar da praça”, diz Célia.
O sentimento que move Estella também pode ser encontrado no Gutierrez. Na Rua Oscar Trompowsky, as ramas de chuchu sobem acompanhando a árvore ao lado da Automecânica Marco Paulo. Elas partem de um canteiro de três metros quadrados, onde há também pés de alface, couve, cana-caiana, laranja e mamão. De tempos em tempos, a vizinhança colhe tomates e manjericão frescos. Tudo graças a ação do lanterneiro Odilon Rodrigues da Silva, de 50, que cultiva uma horta urbana. “Ele planta uma sementinha do bem e não espera nada em troca”, diz Wilson Fernandes, de 58.
A poucos metros dali, a arquiteta Maria Aparecida Teles, de 41, e os colegas de condomínio transformaram pichadores em doadores indiretos. Uma placa diz que a cada mês em que as paredes permanecerem sem pichação o condomínio fará uma doação para uma instituição de caridade. “Mexe com esse lado cidadão das pessoas”, diz. No Prado ou no Santo Antônio, a amabilidade dá o tom.
#Bhmaisgentil
Os Diários Associados iniciam campanha de mobilização social que abordará assuntos relacionados a trânsito, cultura e sustentabilidade. A meta da campanha, batizada de #Bhmaisgentil, é fazer de Belo Horizonte a capital mais gentil do Brasil, sugerindo ações simples como como distribuir sorrisos, não jogar lixo na rua, desligar os celulares nos cinemas e teatros entre outras.
EM faz concurso de redação
O “Prêmio Jornal na Escola” vai agraciar os autores das três melhores redações sobre gentileza urbana. Parceria entre o jornal Estado de Minas e o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) o concurso cultural tem como objetivo reforçar atos de amabilidade e cidadania, bem como valorizar a prática da leitura e da escrita. Entre os prêmios estão smartphones, tabletes, notebooks, assinatura do jornal e bolsas de estudos – 25%, 50% e 100% de desconto – nos cursos do UniBH, à exceção de medicina. Os estudantes do ensino médio das escolas que se inscreveram terão até 10 de setembro para escrever essas histórias. As inscrições terminaram ontem.
“Gentileza urbana é um tema muito explorado na atualidade, mas queremos, de fato, enfatizar que essa atitude vai além da cordialidade no trânsito e da civilidade nas ações.
Além dos autores das três melhores redações, o concurso vai premiar os professores que orientaram os estudantes e suas escolas. As redações devem ser manuscritas a caneta, assim como é feito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os nomes dos vencedores serão anunciados na cerimônia de premiação, em 27 de outubro, no Teatro Ney Soares no câmpus do centro universitário, no Bairro Lagoinha. As escolas inscritas no concurso recebem um exemplar gratuito do jornal, assim como o acesso digital, para disponibilizarem o conteúdo aos seus alunos durante o período da confecção dos textos.
Serviço
Prêmio Jornal na Escola
Período da produção das redações: até 10 de setembro
Seleção pela banca avaliadora: de 12 a 23 de outubro
Cerimônia de premiação: 27 de outubro
Tema: Gentileza Urbana.