No alto da serra, na fria e bucólica cidade de Barbacena, em Minas Gerais, pessoas com transtornos mentais passeiam diariamente nos quintais dos prédios onde funcionava o maior hospício do Brasil, o Colônia. Hoje, o local abriga o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e conta com 171 pacientes em regime de internação de longa permanência. Mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir.
Chama a atenção no hospital a quantidade de pessoas que aproveitam o passeio no quintal para fumar. O vício é uma marca do passado no antigo hospício. O cigarro era usado como moeda de troca no Colônia. O paciente que se comportasse ganhava o fumo para enrolar e tragar. Na época, dizia-se que o vício era um poderoso remédio para acalmar. Outra herança do manicômio é o hábito de ficar horas se arrastando pelo chão.
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Integrantes do Movimento pela luta antimanicomial fazem passeata em BHManifestantes fazem passeata em BH pelo Dia Nacional da Luta AntimanicomialCerca de 4 mil pessoas participam do desfile em favor da luta antimanicomial em BHO resultado dos trabalhos mostra que pessoas com transtornos mentais não são incapazes, mesmo quando existem ainda mais obstáculos a serem enfrentados. Aparecida Silva é cega, surda e muda. Internada desde 1967, provavelmente sem distúrbios mentais, ela faz o maior sucesso com sua habilidade em costurar colchas de retalhos.
Em 1989, teve início o projeto dos módulos residenciais. O lugar recebe pacientes que se preparam para sair da internação. No próprio terreno do hospital, cinco módulos que parecem casas abrigam hoje pouco mais de 100 pacientes.
Wanda Darlu, que trabalha como assistente social no projeto, explica que os pacientes voltam, pouco a pouco, ao convívio social. “Nessa preparação estão passeios na rua para se acostumarem com a população, porque eles perderam o vínculo com a comunidade. Vamos ao shopping, à pastelaria, ao mercado e compramos roupas”, explica Darlu.
Donizete Silva, 65 anos, sai do hospital, com acompanhamento, para comprar os CDs e DVDs preferidos. Também gosta de dar umas voltinhas pela rua e ajudar o padre. “Eu vou à missa e balanço o sino do padre, eu ajudo mesmo”, conta, todo orgulhoso, o senhor grisalho que não lembra quantos anos tem, mas já está internado há 34 anos.
Muitos deles já têm condições de morar em residências terapêuticas, casas para pessoas com transtorno mental que ficam no meio da cidade.Nesses equipamentos, as pessoas têm acompanhamento de diversos profissionais.
De acordo com o diretor do hospital psiquiátrico, Wander Lopes, o processo de alugar as casas, equipá-las, contratar os cuidadores, assistentes sociais e psicólogos é lento. “Os municípios são responsáveis pelas residências terapêuticas.
O programa “Loucura e liberdade: saúde mental em Barbacena” foi transmitido pelo Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, e está disponível na internet. .