Quatro anos morando nas ruas com apenas uma companheira fiel: a pedra de crack. As inúmeras recaídas e a chegada ao fundo do poço nas ruas de Belo Horizonte levavam parentes e amigos a imaginar que o futuro de Wilquer da Silva, hoje com 44 anos, não combinasse com a palavra prosperidade. Mas dois anos depois da publicação da série de reportagens que mostrou o drama de Wilquer e outras nove pessoas envolvidas com o crack, veio a boa notícia. Wilquer saiu das ruas, completou um ano de trabalho em uma empresa de ônibus como cobrador, está prestes a concluir um curso de vigilante, deu entrada nos papéis para o casamento com a agente comunitária Jaqueline Cassiano, que também tem 44 anos, está longe do crack desde janeiro de 2014 e o mais importante: o sorriso no rosto resume a vitória.
“Eu parei um dia na rua e pedi à Deus que se ele pudesse me tirar daquela situação, eu levaria sua palavra a todas as pessoas que eu pudesse. Eu estava praticamente vegetando e não sabia mais o que era viver”, conta Wilquer, com a aparência completamente rejuvenescida abraçado com a noiva em uma pracinha do Bairro São Cristóvão, Noroeste de Belo Horizonte. Ele conta que deu a volta por cima com a ajuda de um coronel da Polícia Militar, morador do Bairro Renascença, Nordeste da capital, região onde costumava passar as noites. “Ele sempre me ajudava com roupas e comida e um dia me falou que se eu quisesse realmente mudar de vida era para procurá-lo”, conta. A história de sucesso enche de orgulho o coronel Benedito Timóteo dos Reis. Hoje na reserva, o militar trabalhou durante 20 dos 30 anos de Polícia Militar como piloto da corporação. Ele foi o responsável por indicar Wilquer em uma empresa de ônibus e também por garantir um curso de vigilante para o ex-morador de rua.
“Todo mundo tem condição de ajudar alguém. O Wilquer sempre me pareceu uma pessoa boa e, normalmente, quem está na situação em que ele estava fica invisível perante a sociedade. A minha sensação ao ver o sucesso dele é de alegria como cidadão, cristão e também como policial militar, pois exerci minha função de mostrar que ele pode crescer”, diz o militar. A noiva Jaqueline diz que teve dúvidas no início do relacionamento, há nove meses, se conseguiria assimilar o passado de Wilquer, mas, percebendo que o futuro marido é uma pessoa de ótimo coração, topou o relacionamento. Ela é uma das pessoas que mais dá forças e incentiva o cobrador a crescer. “Eu sempre cobro algumas coisas para ele ir melhorando. No fim das contas, ele passou no teste”, brinca Jaqueline.