Bonfinópolis de Minas, Arinos, Januária e Manga – No lado oposto ao dos táxis, carros e ônibus clandestinos que disputam espaço e circulam diariamente no Noroeste e Norte de Minas, empresas de ônibus que operam de forma regular – seja por meio de concessão pública de linhas intermunicipais, concedidas pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER/MG), ou autorizações judiciais, também apresentam falhas que ajudam a explicar o surgimento dos ilegais, ao mesmo tempo em que apontam a necessidade urgente de aprimoramento dos serviços.
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Motoristas clandestinos disputam passageiros e expõem o perigo no sertão de MinasGaragens de empresas viram cemitérios de carcaças por causa dos clandestinosVeículos clandestinos captam corridas nas brechas da lei no Norte de MinasDER garante que não há tolerância com transporte clandestinoServiços ilegais de transporte 'reinam' no interior de Minas 'Facebook carona': nova opção de transporte clandestino é usada no Norte de MinasEmpresas usam recurso judicial para transportar passageirosA parca regularidade de horário dos ônibus, a tarifa, algumas das vezes proibitiva para a população, que sofre com a seca e o desemprego, além as dificuldades enfrentadas nos longos percursos das viagens – como quebras mecânicas, atrasos nas partidas e o transbordo da balsa que atravessa o Rio São Francisco, em Manga, remetendo à época das jardineiras, abrem passagem para o uso do carro clandestino como forma de deslocamento rápido entre as cidades, em detrimento da qualidade e segurança do serviço prestado, com veículos sem horários de viagem, tarifas pré-estabelecidas e motoristas desqualificados, conforme mostrou ontem o Estado de Minas.
A concorrência é agravada pelo fim do Grupo Amaral, uma das maiores empresas de ônibus da região que faliu no fim do ano passado, em meio à uma disputa familiar, dívidas e uma intervenção do governo do Distrito Federal (GDF). No lugar da Santo Antônio Transporte e Turismo (ESA) e Transprogresso, pelo menos três empresas de ônibus assumiram a operação das linhas com destino à capital federal, mas segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), somente a empresa Januária tem autorização legal para circular.
BAGAGEM NO OMBRO Em Manga, município de 19,8 mil habitantes situado à margem esquerda do Velho Chico, a 709 quilômetros de Belo Horizonte, passageiros que utilizam as linhas de ônibus do transporte regular com destino à Jaíba, Janaúba e Belo Horizonte são forçados a fazer parte da travessia de balsa até Matias Cardoso, do outro lado do rio, a pé. O transtorno ocorre em razão da maré baixa do rio em parte do ano, o que a impossibilita a passagem de veículos grandes. Em novembro do ano passado, a Secretaria de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais (Setop) realizou a licitação do transporte aquaviário das balsas, por um prazo de 18 anos, mas não há previsão de melhorias.
Até então, a travessia era realizada precariamente por pessoas jurídicas, sem autorização ou fiscalização do estado, o que motivou ação civil pública exigindo a regularização do serviço.
LAÇOS COM BRASÍLIA Em Bonfinópolis de Minas, no Noroeste Mineiro, João Oliveira, dono de uma mercearia na rodoviária da cidade desde a inauguração, há 25 anos, descreve o forte laço que a cidade tem com Brasília. “Fizeram um levantamento recente na cidade e descobriram que, além dos 6 mil moradores, há outros 24 mil bonfinenses morando em Brasília”, diz João.
Ninguém do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Minas Gerais (Sindpas) e da Transnorte foi localizado para comentar o assunto.
REFLEXOS
Morador da vizinha Montalvânia, o inspetor da Guarda Municipal da cidade Gerlon da Silva Rodrigues, de 29 anos, faz a travessia da balsa de Manga para Matias Cardoso, a pé, constantemente. Ele reclama das condições e acredita que a empresa concessionária da linha deveria dar uma atenção maior. “Acho péssimo. Viajo pouco de ônibus, mas já observei que o pessoal reclama demais. Já ouvi até história de ônibus que deixou o passageiro para trás no caminho de volta até a rodoviária”.
Márcio Antônio Botelho, de 52 anos, chegou a gerenciar um bar na rodoviária de Manga por 13 anos. Desistiu do negócio há dois anos devido à queda brusca de faturamento no local.
Sem alternativa
Natural de Manga, o mestre de obra Antônio Santos, de 38 anos, vive há 12 em Toledo, no Paraná. Quando está de férias, visita a terra natal e utiliza ônibus. Para ele, os poucos táxis que fazem viagem até Januária e Montes Claros não trazem vantagem. “Eles não funcionam numa hora dessas (sábado a tarde), só quando há movimento.
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