Na Serra da Piedade, a brisa gelada do início da manhã renova o ar dos pulmões e a fé de milhares de peregrinos que, em procissão, sobem a montanha até o santuário. A segunda Peregrinação Mineira do Terço dos Homens reuniu devotos de toda a região metropolitana e caravanas vindas do interior do estado para a celebração. Segundo os organizadores, cerca de 10 mil pessoas participaram do encontro. Entre os peregrinos, que chegavam à serra ainda de madrugada, homens de diversas gerações eram pelo menos 80% dos presentes.
Geraldo Magela de Jesus, de 58 anos, Rodrigo Freitas, de 31, e Eduardo Freitas, de 6, pai, filho e neto compareceram juntos ao encontro, vindos de Ouro Branco, na Região Central do estado. “Há oito anos participo do terço dos homens em minha cidade. Encontros como este nos trazem paz e harmonia.” Segundo Magela, em Ouro Branco, município com 35 mil habitantes, 1 mil devotos já participam dos encontros semanais. Ele diz que a família costuma rezar junta. E conta que a mesma promessa que, certa vez, fez para o filho, quando ele completou 1 ano, repetiu mais tarde para o neto, e ambos conseguiram se curar da mesma doença respiratória.
Movimento recente, dos últimos seis anos, o encontro de homens vem ganhando força na Igreja Católica. “Esta peregrinação mineira é mais um sinal da força da fé e da importância da espiritualidade na vida de todos nós e, particularmente, na vida de muitos homens, qualificando-os pela espiritualidade para uma presença de mais amor na família e na sociedade”, afirmou o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
O dia ainda começava a amanhecer quando as caravanas começaram a chegar. A caminhada, de aproximadamente 2,5 quilômetros, e, depois, a celebração na Ermida da Padroeira, contaram com a presença de idosos, alguns com mais de 90 anos, crianças, jovens, e até fiéis com dificuldades de locomoção, que cumpriram o percurso em meio à neblina e a natureza de tirar o fôlego. Dom Walmor destacou também a força do santuário, que toca os peregrinos pela sua densidade espiritual e beleza natural. “A espiritualidade é uma busca que existe em todos os corações. Ela nos humaniza, e a humanização nos põe em condições melhores de viver nossa cidadania.”
De Alpinópolis, no Sul do estado, o agricultor Francisco Pedro Vilela visitou, pela primeira vez, a Serra da Piedade. Aos 65 nos, ele conta que há dois frequenta o terço dos homens em sua cidade e não costuma falhar aos encontros. As orações e a fé foram tão grandes, que, segundo ele, salvaram sua netinha, que havia nascido prematura e com baixo peso. “Agora ela se recuperou, está bem e forte”, contou ele, que disse estar em boa forma para vencer a caminhada e o frio.