Muitas aves procuram abrigo nas palmeiras plantadas pelo fundador, Germano Pinto, hoje com 90 anos. Elas cresceram em frente a um estabelecimento que, à ausência de um terminal rodoviário, é a referência para embarque e desembarque em ônibus intermunicipais na cidade. O empreendimento, misto de armazém e lanchonete, negocia o tradicional pingado (café com leite), biscoito de polvilho e outras iguarias e miudezas.
A todo momento, um bom dia, um boa tarde ou um boa noite são ouvidos pelas ruas de Pintópolis, onde o indicador que mede a expectativa de vida ao nascer avançou 5,1 anos na última década. Passou de 67,9 anos, em 2000, para 73 em 2010. Em BH, a longevidade cresceu menos no mesmo período: 4,3 anos.
Os dados da expectativa de vida são usados para compor o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), calculado em 0,594 na cidade do Norte mineiro. É nota baixa, mas houve evolução em comparação com a de 1991 (0,207). Os destaques na cidade, atesta qualquer visitante, são o nome curioso e a tranquilidade, percebida por qualquer vistante da capital.
PÁTIO DE APREENSÃO O canto dos pássaros fica mais evidente em razão do pouco barulho da frota de veículos, irrisória se comparada à de Belo Horizonte. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que, em julho último, havia 1.186 veículos em Pintópolis. Na capital, a estatística era de mais de 1,6 milhão.
Pintópolis é o lugar que Francisco Assis Ferreira de Almeida, de 55 anos, escolheu para viver. Natural de Brasília de Minas, a 110 quilômetros de lá, ele foi aprovado em um concurso público municipal. Hoje, sua função é recolher os animais de montaria que circulam em vias públicas sem a presença dos donos.
O rebanho apreendido é levado para o curral municipal, onde o animal recebe água e alimentação. Para retirá-lo, o dono precisa pagar uma multa emitida pela prefeitura: “É o custo da diária, de R$ 15. Os animais não podem ficar em via pública sem que o dono esteja no mesmo lugar, pois há risco de acidentes com veículos. Garanto que os bichos apreendidos são bem tratados. Dou água, capim...”.
SEGURANÇA FEITA POR 5 PMS A segurança pública, que um dia foi comandada pelo fundador da antiga Fazenda Riacho Fundo, não enfrenta grandes desafios diários, como garante o cabo Wellington Evangelista, um dos cinco policiais militares do batalhão local. “É uma cidade tranquila. Este ano não ocorreram crimes contra a vida.
Ele patrulha as áreas urbana e a rural, em companhia do soldado Weques Lei Batista da Silva. Ambos deixaram Montes Claros, a quase 200 quilômetros, para ajudar a manter a ordem em Pintópolis. “É um lugar bom para se morar”, completa o outro militar.
A tranquilidade na cidade, contudo, tem um preço. Como o município é carente de um comércio e de serviços diversificados, moradores precisam recorrer ao varejo da vizinha São Francisco, a 45 quilômetros de distância. Para chegar lá, só atravessando o São Francisco numa balsa – a construção de uma ponte é reivindicação antiga.
A viagem dura cerca de 15 minutos, mas, dependendo da estiagem, a travessia é suspensa, como aconteceu por algumas semanas em 2014. No ano passado, a escassez de chuvas diminuiu o volume de água no Velho Chico. Os bancos de areia ficaram maiores e o vaivém das balsas foi interrompido.
Naquela época, caminhões que abasteciam a cidade com mercadorias eram obrigados a dar uma volta de 100 quilômetros para chegar aos consumidores, o que encareceu os produtos. A volta precisa ser feita por Urucuia, cidade da qual Pintópolis se emancipou. O caminho, contudo, é uma precária estrada de chão batido e muita poeira. .