A primavera chega oficialmente às 5h20 do dia 23, mas, neste final do inverno, os belo-horizontinos sofrem com as altas temperaturas e a secura do ar. A Defesa Civil advertiu para a baixa umidade relativa do ar, que ficou ontem em torno de 14% – estado de alerta e já próximo do índice de emergência (abaixo de 12%) – em Belo Horizonte. Foi o dia mais seco do ano. Ressecamento da boca, doenças respiratórias, gripes e alergias são problemas de saúde que podem se intensificar em decorrência do clima seco. O desconforto deve persistir até amanhã, quando uma frente fria, que está se formando no extremo sul do país, deverá se deslocar para o Sudeste, segundo meteorologistas da Defesa Civil e do TempoClima PUC Minas.
Neste fim de inverno, a temperatura ficou cerca de 5 graus centígrados acima da média histórica para o período. Enquanto a média para agosto é de 26,5 graus, ontem os termômetros marcaram 31,5 graus. “O agosto mais quente, desde quando se começou a registrar a temperatura na capital, foi de 33,8”, afirmou Heriberto dos Anjos, o meteorologista do TempoClima PUC Minas.
De acordo com Dayan Diniz de Carvalho, meteorologista da Defesa Civil, o alerta de baixa umidade do ar é divulgado para que as pessoas, instituições de ensino e também as unidades de saúde possam tomar medidas preventivas. “A informação é para que as instituições possam adequar a logística para atendimento de crianças e idosos”, pontua. Para amenizar os efeitos da baixa umidade, é indicada maior ingestão de líquidos, parcimônia na prática de exercícios físicos e soluções que ajudem a melhorar o ar, como o uso de umidificador (veja quadro).
GRANIZO Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice confortável é de 60%. A aridez é causada por uma massa de ar seco estacionada sobre Minas Gerais desde sábado. No estado, uma das mais baixas umidades foi registrada no Triângulo (16%). O índice também é preocupante no Norte (18%) e no Noroeste e Oeste, ambos com 20%.
“Céu limpo nessa época do ano é sinônimo de tempo seco”, afirma Heriberto dos Anjos. Segundo ele, a frente fria está se formando na divisa do Uruguai e Argentina. “Ela deve se deslocar do extremo Sul do país pelo oceano Atlântico até o Sudeste. O encontro dessa massa de ar frio com a massa de ar seco aumenta as chances de chuva com granizo”, informa o meteorologista.
SUFOCANTE A primavera e o verão, assim como este final de inverno, devem ser mais quentes que a média histórica. As altas temperaturas são causadas pelo El Ninho, fenômeno climático que atua na faixa equatorial do Pacífico. “O reflexo no Nordeste do Brasil é a seca prolongada. Em Minas, são as altas temperaturas”, diz Heriberto.
O tempo seco e baixa umidade do ar dificultam a dispersão de gases poluentes, o que colabora ainda mais para o aparecimento ou agravamento de problemas respiratórios, principalmente em menores de 5 anos e idosos acima dos 70 anos. De acordo com Cássio Ibiapina, pneumologista pediátrico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ar seco afeta o sistema respiratório. “Nós temos uma estrutura microscópica no nariz que são os pelos. Eles podem ficar ressecados e prejudicar a filtragem às impurezas do ar. Assim, podemos inalar bactérias, vírus e poluição”, explicou.
A administradora Grasiana Bianchini, de 32 anos, sentiu a diferença de umidade entre Florianópolis, em Santa Catarina, e BH, assim que desembarcou na capital mineira no sábado. “A boca e o nariz ficam muito ressecados. Onde moro é o oposto daqui”, diz ela, que ontem se hidratava numa fonte da Praça da Liberdade.
Os consultores Aloísio Júnior da Silva Olímpio, de 25, e Leonardo Arthur do Carmo, de 23, não podem abrir mão do terno para o trabalho. Porém, entre um cliente e outro, eles aproveitaram a sombra da Praça da Liberdade, onde também tomaram água. “Tenho sinusite, que ataca quando a umidade está muito baixa. Para aliviar, tomo muita água”, disse Aloísio. (Com Cristiane Silva)