Leonardo Maestri (D) e seu sócio, o argentino Diego Rey: escalada de sucesso começada na graduação e mestrado na UFV - Foto: Arquivo Pessoal
No mês passado, a unidade global dos laboratórios Roche comprou, por cerca de R$ 1,5 bilhão, a tecnologia de um kit de diagnóstico bacteriano e de susceptibilidade às microbactérias para ser usado em hospitais. O negócio coroa uma escalada no mundo da produção científica e do empreendedorismo que começou a ser cultivada anos atrás nas salas de aula e laboratórios da Universidade Federal de Viçosa. Foi lá que o brasileiro Leonardo Maestri Teixeira, que desenvolveu o teste bilionário com o colega e sócio argentino Diego Rey, deu os passos acadêmicos que o levariam ao doutorado no Departamento de Microbiologia da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, onde fundou a empresa Geneweave, que fechou o negócio com a companhia suíça.
De acordo com Leonardo, graduado em Ciência e Tecnologia de Laticínios e mestre em Microbiologia Agrícola pela UFV, a ideia que levou à criação do teste começou a ser gestada em 2007 durante uma disciplina do doutorado em microbiologia nos Estados Unidos. Mas a formação na UFV foi relevante para o salto. Ele conta que a professora Célia Alencar de Morais, que o acompanhou desde o início dos estudos, sempre ressaltava a importância de mesclar as duas visões científica e empreendedora. “Sem a orientação da professora Célia e sem a guia dela, eu não teria ido para a Universidade de Cornell nem tido esse tipo de interesse”, revelou. A gratidão fez com Leonardo fosse abraçar pessoalmente a orientadora, logo após o negócio com o laboratório internacional ter sido fechado.
Nos Estados Unidos, ele e o colega argentino, Diego Rey, pensaram em abrir uma empresa. A startup foi registrada para participar de uma competição de plano de negócios.
O pensamento inicial era criar tecnologia que pudesse ser usada no diagnóstico da tuberculose. Porém, os dois acabaram sendo aconselhados por um consultor a mudar o foco das ações. “Nesse mercado, que já é muito fragmentado, seria melhor investir em algo que tivesse possibilidade maior de aplicação”. O foco escolhido por eles acabou sendo a infecção hospitalar. Só nos Estados Unidos, onde o trabalho foi desenvolvido, cerca de 23 mil pessoas morrem de infecção por ano.
Os primeiros investimentos na empresa começaram a ocorrer ainda em 2007. O investidor aplicou US$ 1,2 milhão durante um ano. Nessa etapa, conta Leonardo, a empresa ficou incubada em San Rose, no Vale do Silício.
“No final do prazo, para não atrasar, a gente dormia duas, três horas por noite para conseguir entregar o que foi prometido”, conta. Na sequência do desenvolvimento do projeto, o aporte financeiro dos investidores foi maior. A empresa do brasileiro recebeu US$ 12 milhões. Foi com esse investimento que ele e o sócio puderam partir para o desenvolvimento dos equipamentos e da tecnologia. Em 2014, eles colocaram a tecnologia em teste prático, dentro dos hospitais.
Negociação Além de desenvolver a tecnologia e os equipamentos, a intenção de Leonardo e do sócio foi de comercializar o produto. Partindo dessa intenção, eles começaram a participar de feiras e eventos voltados para esse tipo de mercado. Mas faltava a eles o conhecimento da negociação. “Nós contratamos um CEO para nos ajudar a negociar o produto”, conta.
As negociações com a Roche que resultaram na transação bilionária começaram a ocorrer em meados do mês de maio e se estenderam por cerca de três meses.
A conclusão só ocorreu em agosto. Foram repassados 40% do valor à vista e os outros 60% serão divididos nos próximos três anos. Leonardo, que também é diretor-presidente do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), com sede em Sergipe, diz que não ficou bilionário. Segundo ele, os valores são divididos entre todos os investidores e total não fica com ele. “Nossa visão desde o início foi fazer o negócio dar certo, focando no aprendizado. Sabíamos que havia o risco, mas sempre fomos muito transparentes com as informações, não só entre nós, mas com os investidores também. Isso facilitou a captação dos recursos”, comenta.
A tecnologia desenvolvida por eles permite que pacientes, visitantes e colaboradores das unidades de saúde recebam, em menos de três horas, diagnóstico do tipo de micro-organismo a que foram expostos e medicamento a que ele resiste..