(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Mineira que presenciou terremoto no Nepal fala sobre a tragédia

Mineira que estava no Nepal quando país foi atingido por forte abalo relata que tragédia lhe trouxe uma nova visão de mundo. Ao ajudar as vítimas, ela renega título de heroína


postado em 06/09/2015 06:00 / atualizado em 06/09/2015 11:30

"Não há herói ou vítima. Acredito que fui beneficiada com toda situação" - Simone Nascimento Antônio, artista, ao lado da avó Nilda e de familiares no reencontro com parentes em BH (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)

Uma viagem sem roteiro programado e nem data para retornar. De tudo que podia esperar de sua jornada, iniciada em junho do ano passado, a artista mineira Simone Nascimento Antônio, de 38 anos, certamente não se imaginava personagem de uma tragédia. Um mês e meio depois de chegar a Katmandu, capital do Nepal, ela enfrentou os dois grandes terremotos que atingiram o país, em 25 de abril e 12 de maio deste ano, superiores a sete pontos na escala Richter, que mataram quase 9 mil pessoas. Depois de intensos quatro meses por lá, desde o primeiro tremor, Simone está de volta ao Brasil, em Belo Horizonte, onde nasceu, para reencontrar familiares. A decisão de não retornar de imediato foi uma escolha sua, depois de se solidarizar com o drama dos nepaleses, que, de acordo com a artista, apesar de todas as perdas, nunca reclamavam da situação, mas davam graças por estarem vivos.

“Eles não tinham muito o que comer. Mas o que tinham era compartilhado por todos. Era muita irmandade. Muitos vizinhos começaram a se conhecer graças ao terremoto. Depois da tragédia, eles perderam suas casas, mas ganharam mais membros para suas famílias”, descreve. “É difícil falar sobre isso, pois poucos entendem que eles estavam unidos e felizes. Como felizes, se perderam a casa e tudo que tinha dentro delas? Felizes, sim! Pois dão graças a Deus pela vida e pela oportunidade de poderem recomeçar uma vida nova”, completa.

Veja o depoimento de Simone Nascimento

A artista recorda do primeiro grande abalo, no começo da tarde de 25 de abril. Ela estava no banheiro da pensão onde havia se hospedado. “Estar naquele lugar, sem ter para onde correr, já que estava nua, pode ter salvo minha vida. Naqueles 30 segundos de intenso tremor, que pareceram eternos, vi pessoas pulando janelas e correndo para a rua. Quando parou, me vesti e saí imaginando que lá fora estariam todos em desespero, gritando. Mas me deparei com centenas de pessoas caminhando em direção à Dabah Square, uma praça com grande espaço aberto, em que se os prédios em volta desabassem, não corríamos perigo”, relata.


Na caminhada em direção à praça, um menino de 3 anos, Jami, veio em sua direção e a abraçou. “Foi uma bênção. Ele estava tão assustado. Eu o vi sozinho, chorando ao lado de um templo que caía. Então, o peguei em meus braços. Naquele momento em que tudo parecia difícil, compartilhamos tanto amor e carinho um pelo outro, como se já nos conhecêssemos por toda uma vida”, contemporizou.


Em meio à tragédia, a mineira se viu responsável por minimizar aquele quadro de desolação, mas dispensa qualquer título de solidária. “Não há herói ou vítima. Acredito que fui beneficiada com toda a situação.” Simone, ao deixar sua casa na Chapada Diamantina, na Bahia, para viajar por países europeus e asiáticos, planejava alcançar um novo aprendizado de vida, que disse ter encontrado durante os tremores no Nepal. “Há uma ilusão sobre o tempo que nós, humanos, achamos que temos. Tentamos controlar tudo em nossas vidas. Mas, depois a terra treme desse jeito, a gente entende que nada controla. Acontecimentos como esse fazem surgir uma vida nova para todos.”

IMPOTÊNCIA Para Simone, o mais importante da tragédia é a mensagem de alerta para a humanidade. “Perto de tantas cenas chocantes, de pessoas mortas, feridas, havia sempre muitos ‘anjos’ que me ajudavam a toda hora.” Ela conta que por duas semanas ficou atônita, mas decidiu ficar no Nepal. “Na embaixada brasileira, me diziam para retornar ao Brasil. Mas sentia que não estava ali por acaso. Não é fácil ficar, sentindo-se impotente diante de tanta destruição, tantas perdas de vidas”, pontuou.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
Na busca por fazer algo, foi para a cidade de Pokahara, onde tinha conhecidos. Mas retornou à capital Katmandu, onde participou de um treinamento para construção de abrigos com o que sobrou pós-terremoto. Foi na pequena comunidade de Jaundada, no distrito de Sindupalchok, que Simone teve chances concretas de ajudar, já que todas as casas foram destruídas.


Em sua trajetória, veio conhecer a basiliense Lena Tosta, que tinha recursos financeiros de doações, que possibilitaram a compra de materiais de construção. Juntas, elas criaram a página Levanta Nepal, no Facebook, para divulgar as carências do país e, ao mesmo tempo, incentivar pessoas a se engajarem em sua reconstrução.

A terra de Buda
O Nepal é uma pequena nação localizada no coração do grande Himalaia. Ao norte, faz fronteira com a Região Autônoma do Tibete (RAT), da República Popular da China e, ao leste, sudeste e sul, com a República da Índia. A capital é Katmandu. O Nepal é conhecido como a Terra do Monte Everest, o pico mais alto do mundo, com 8.848 metros, e o sagrado local de nascimento de Buda, em Lumbini. Sua principal renda vem da agricultura. Tem grande importância turística, tendo suas principais cidades sido reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) devido ao valor histórico e o grande acervo monumental do país.

 

Simone com criança nepalesa: experiência foi aprendizado de vida(foto: Reprodução/Facebook)
Simone com criança nepalesa: experiência foi aprendizado de vida (foto: Reprodução/Facebook)

Olhar social no Brasil

De volta ao Brasil, a artista mineira Simone Nascimento Antônio, que ficou quase um ano e meio viajando e quatro meses em meio à tragédia dos fortes tremores de terra no Nepal, traz na bagagem a disposição de continuar mobilizada para ajudar o país asiático, por meio da campanha Abrace Jaundada, comunidade onde participou da construção de abrigos. Em seu retorno, chega com um olhar solidário voltado para as necessidades de sua nação. “Estamos vivendo um terremoto. Temos aqui uma grande tragédia social, de pessoas distantes umas das outras, que culpam os políticos, mas esquecem que as ações transformadoras devem vir da base”, alerta.

Depois de tanto tempo longe de seus familiares, nas últimas duas semanas Simone recebeu carinho especial deles. “Vim embora para festejar os 90 anos de minha avó Nilda Ribeiro, no dia 28 de agosto, essa mulher guerreira, que me inspira, e para o aniversário de minha mãe Sylvia, mulher que sempre me apoiou em todos os momentos”, explicou. O irmão da artista, Rodrigo Nascimento, que três dias depois do forte terremoto de abril fez apelo em reportagem do Estado de Minas diante da falta de informações da irmã, disse que está aliviado de tê-la por perto de novo.

“No início, foi dramático para todos. Logo depois do tremor, ela ligou falando da tragédia. Só que depois ficamos cerca de 60 horas sem mais informações dela, nem por meio da embaixada. Tememos por algo pior. Mas, assim que a Simone conseguiu se comunicar com a gente e disse que ficaria lá, entendemos que ela estava no lugar e no momento certos”, disse Rodrigo, ao lado da mulher Gisele e do filho Léo, em jantar de família na noite da quinta-feira na capital mineira para celebrar o retorno da artista.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)