Os confrontos entre grupos rivais antes do clássico entre Cruzeiro e Atlético, registrados em Belo Horizonte e Betim, voltaram a expor as dificuldades de autoridades para combater e prevenir a violência. No dia seguinte aos tumultos, que terminaram com 70 detidos e três feridos, o Ministério Público de Minas Gerais admitiu que uma das ferramentas mais efetivas contra brigões, um cadastro com 1.100 filiados às torcidas organizadas, está desatualizado e não inclui muitos dos envolvidos em confrontos. Segundo o promotor Fernando Ferreira Abreu, baderneiros estão evitando se filiar para poder brigar livremente – a Polícia Civil e a Polícia Militar admitem não monitorar torcedores não cadastrados antes dos jogos. As próprias diretorias da Galoucura e da Máfia Azul afirmam não conseguir controlar arruaceiros que, dizem eles, não são sócios, mas vestem camisas e frequentam facções regionais em bairros da capital e da Grande BH.
Sem controle, os problemas se sucedem. Nos últimos três anos, segundo levantamento do Estado de Minas, pelo menos 150 torcedores foram detidos depois de vandalismo e brigas – sete pessoas morreram em dias de jogos desde 2004. Sobre os confrontos de domingo no Bairro União, na Região de Nordeste de Belo Horizonte, em Venda Nova e em Betim, Ministério Público e diretores das organizadas afirmam que ainda não foram identificados integrantes de torcidas cadastrados. Segundo o promotor Fernando Abreu, do Procon-MG, o cadastro inclui atualmente 500 componentes da Máfia Azul, 400 da Galoucura e 200 da Pavilhão Celeste. “São quantidades muito reduzidas e esses nomes raramente se envolvem em confusão.
A cada 30 dias, o MP e as torcidas organizadas se reúnem para repassar as listas de filiados e fornecer planos de deslocamento até os jogos. Nos últimos dois anos, as condutas indisciplinadas e a violência levaram a promotoria a suspender a entrada da Galoucura e da Máfia Azul nos estádios duas vezes, por seis meses. A punição aos flagrados em confusões, no entanto, é rara. Atualmente, de acordo com dados da Federação Mineira da Futebol, apenas 13 indivíduos estão banidos dos estádios e precisam se apresentar em dias de jogos na sede do Batalhão de Eventos da PM, no Bairro Gameleira, Região Oeste de BH. O MP informou, porém, que apenas uma pessoa tem comparecido.
Leia Mais
PM desmente boato em redes sociais sobre morte de torcedorHomem agredido em briga de torcidas segue internado em BetimConfronto entre torcidas antes de clássico deixa três feridos no Centro de BH; veja o vídeoTorcedores passam por revista após denúncia de porte de artefatos explosivosTrês torcedores ficam feridos em briga entre atleticanos e cruzeirenses em BHImagens mostram bandeirão roubado da Galoucura sendo queimadoPM impede que torcida organizada do Vasco proibida de frequentar estádios vá ao MineirãoCadastradas ou não, pessoas que usam o uniforme das torcidas organizadas se envolvem com frequência em crimes de todos os tipos. No início deste mês, cinco pessoas foram presas com uniforme da torcida Galoucura, em Sabará, depois de assaltar adolescentes que jogavam bola. Em novembro do ano passado, a Polícia Militar apreendeu um revólver, 32 munições, rojões e um martelo na sede da Galoucura. Outra ocorrência foi registrada em julho do ano passado, quando quatro colombianos foram espancados por 10 integrantes da principal torcida organizada do Atlético, na Avenida do Contorno, no Centro da capital.
Em dezembro de 2013, a briga foi entre integrantes da Máfia Azul e Pavilhão Celeste, ambas do Cruzeiro, do lado de fora do Mineirão, no jogo da festa do título do Cruzeiro. A festa, com shows em trio elétrico, foi cancelada. Na ocasião, 50 foram levados pela polícia. As brigas entre as duas torcidas são recorrentes, com episódios de violência em Nova Lima (fevereiro de 2009), próximo ao Independência (em junho e julho de 2012), do lado de fora do Mineirão (outubro de 2013) e também dentro do Independência (no clássico contra o Atlético, o que levou a diretoria do Cruzeiro a não requisitar os ingressos de visitante).
‘FIZ WARLEY PROMETER QUE NUNCA MAIS VAI A UM CLÁSSICO’
Na briga que ocorreu no Bairro União houve dois feridos. Um deles, atleticano, chegou a ser levado para a UPA 1º de Maio, mas já foi liberado. No confronto no Bairro Jardim das Alterosas, em Betim, 55 pessoas foram levadas a uma delegacia após o tumulto e, segundo a Polícia Civil, 47 foram considerados participantes da briga. Todos estão liberados.
A família de Warley se diz assustada com a violência e teme represálias por parte dos agressores. O ajudante de caminhão permanece internado no Hospital Regional de Betim se recuperando de um traumatismo craniano. Ele foi espancado e perdeu três dentes ao levar uma paulada na boca. Segundo a mulher dele, que pediu para não ser identificada, Warley havia deixado de ir aos estádios e decidiu voltar a frequentá-los há três semanas.
“Fiz Warley me prometer que nunca mais vai a um clássico”, disse a mulher. Ontem à noite, familiares dele receberam a visita de fiéis de uma igreja evangélica. Segundo informações do hospital, o estado de saúde de Warley era estável na tarde de ontem. Ele estava consciente, respirando sem ajuda de aparelhos e sob medicação, acompanhado de uma equipe de neurologia.
(Colaborou Pedro Ferreira).