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Estado de Minas

Briga entre torcidas expõe dificuldades no combate à violência em Minas

MP admite que cadastro de torcidas está desatualizado; organizadas alegam não ter controle sobre muitas pessoas que se apresentam como filiadas


postado em 15/09/2015 06:00 / atualizado em 15/09/2015 08:12

Policiais militares vigiam detidos após confronto no domingo na Avenida Cristiano Machado, em bh: promotor diz que criação de juizado específico facilitaria punições(foto: Sidney Lopes/EM/D.A PRESS - 13/9/2015)
Policiais militares vigiam detidos após confronto no domingo na Avenida Cristiano Machado, em bh: promotor diz que criação de juizado específico facilitaria punições (foto: Sidney Lopes/EM/D.A PRESS - 13/9/2015)
Os confrontos entre grupos rivais antes do clássico entre Cruzeiro e Atlético, registrados em Belo Horizonte e Betim, voltaram a expor as dificuldades de autoridades para combater e prevenir a violência. No dia seguinte aos tumultos, que terminaram com 70 detidos e três feridos, o Ministério Público de Minas Gerais admitiu que uma das ferramentas mais efetivas contra brigões, um cadastro com 1.100 filiados às torcidas organizadas, está desatualizado e não inclui muitos dos envolvidos em confrontos. Segundo o promotor Fernando Ferreira Abreu, baderneiros estão evitando se filiar para poder brigar livremente – a Polícia Civil e a Polícia Militar admitem não monitorar torcedores não cadastrados antes dos jogos. As próprias diretorias da Galoucura e da Máfia Azul afirmam não conseguir controlar arruaceiros que, dizem eles, não são sócios, mas vestem camisas e frequentam facções regionais em bairros da capital e da Grande BH.


Sem controle, os problemas se sucedem. Nos últimos três anos, segundo levantamento do Estado de Minas, pelo menos 150 torcedores foram detidos depois de vandalismo e brigas – sete pessoas morreram em dias de jogos desde 2004. Sobre os confrontos de domingo no Bairro União, na Região de Nordeste de Belo Horizonte, em Venda Nova e em Betim, Ministério Público e diretores das organizadas afirmam que ainda não foram identificados integrantes de torcidas cadastrados. Segundo o promotor Fernando Abreu, do Procon-MG, o cadastro inclui atualmente 500 componentes da Máfia Azul, 400 da Galoucura e 200 da Pavilhão Celeste. “São quantidades muito reduzidas e esses nomes raramente se envolvem em confusão. Quem aproveita os jogos e sobretudo os clássicos para brigar não se filia mais oficialmente para não ter problemas com a polícia”, afirma. Ele defende a criação de um juizado específico, que delibere sobre medidas de punição imediatamente e só trabalhe com esse tema. “A utilização de tornozeleiras por quem briga seria mais efetiva que o cadastro”, diz.

A cada 30 dias, o MP e as torcidas organizadas se reúnem para repassar as listas de filiados e fornecer planos de deslocamento até os jogos. Nos últimos dois anos, as condutas indisciplinadas e a violência levaram a promotoria a suspender a entrada da Galoucura e da Máfia Azul nos estádios duas vezes, por seis meses. A punição aos flagrados em confusões, no entanto, é rara. Atualmente, de acordo com dados da Federação Mineira da Futebol, apenas 13 indivíduos estão banidos dos estádios e precisam se apresentar em dias de jogos na sede do Batalhão de Eventos da PM, no Bairro Gameleira, Região Oeste de BH. O MP informou, porém, que apenas uma pessoa tem comparecido.

As diretorias da Galoucura e da Máfia Azul afirmam não ter controle sobre quem não é filiado e sustentam que muitos dos brigões aproveitam os clássicos para resolver rixas e promover quebradeiras. “Temos facções em cada regional da capital. Nesses locais, temos um representante que organiza tudo para não deixar ter confusão, mas a pessoa que não é filiada sai da mesma região, briga e fala que é da facção, que é da Galoucura zona Noroeste ou Norte. Mas oficialmente não pertence (à facção)”, disse o diretor da Galoucura, João Paulo de Souza. “Muitos usam o material que vendemos (camisas e agasalhos) ou até falsificados. A gente não consegue saber quem é quem”, afirmou Carlos Alberto de Souza, presidente da Máfia Azul. “Quem quer briga e confusão só aparece em dia de clássico. Não vai ao trabalho de conscientização, não frequenta reuniões da diretoria. Quem é prejudicado é só o time”, acrescentou.

Cadastradas ou não, pessoas que usam o uniforme das torcidas organizadas se envolvem com frequência em crimes de todos os tipos. No início deste mês, cinco pessoas foram presas com uniforme da torcida Galoucura, em Sabará, depois de assaltar adolescentes que jogavam bola. Em novembro do ano passado, a Polícia Militar apreendeu um revólver, 32 munições, rojões e um martelo na sede da Galoucura. Outra ocorrência foi registrada em julho do ano passado, quando quatro colombianos foram espancados por 10 integrantes da principal torcida organizada do Atlético, na Avenida do Contorno, no Centro da capital.

Em dezembro de 2013, a briga foi entre integrantes da Máfia Azul e Pavilhão Celeste, ambas do Cruzeiro, do lado de fora do Mineirão, no jogo da festa do título do Cruzeiro. A festa, com shows em trio elétrico, foi cancelada. Na ocasião, 50 foram levados pela polícia. As brigas entre as duas torcidas são recorrentes, com episódios de violência em Nova Lima (fevereiro de 2009), próximo ao Independência (em junho e julho de 2012), do lado de fora do Mineirão (outubro de 2013) e também dentro do Independência (no clássico contra o Atlético, o que levou a diretoria do Cruzeiro a não requisitar os ingressos de visitante).


‘FIZ WARLEY PROMETER QUE NUNCA MAIS VAI A UM CLÁSSICO’


Na briga que ocorreu no Bairro União houve dois feridos. Um deles, atleticano,  chegou a ser levado para a UPA 1º de Maio, mas já foi liberado. No confronto no Bairro Jardim das Alterosas, em Betim, 55 pessoas foram levadas a uma delegacia após o tumulto e, segundo a Polícia Civil, 47 foram considerados participantes da briga. Todos estão liberados. Posteriormente, o delegado Daniel Couto Gama identificou dois responsáveis por tentativa de homicídio, autores das agressões contra o cruzeirense Warley Jacson Rosa, de 29 anos. Um suspeito, Frank Junio de Oliveira Gomes, foi preso e está no Ceresp de Betim. O outro identificado é Moisés Marcos Silva, que segue foragido.

A família de Warley se diz assustada com a violência e teme represálias por parte dos agressores. O ajudante de caminhão permanece internado no Hospital Regional de Betim se recuperando de um traumatismo craniano. Ele foi espancado e perdeu três dentes ao levar uma paulada na boca. Segundo a mulher dele, que pediu para não ser identificada, Warley havia deixado de ir aos estádios e decidiu voltar a frequentá-los há três semanas.

“Fiz Warley me prometer que nunca mais vai a um clássico”, disse a mulher. Ontem à noite, familiares dele receberam a visita de fiéis de uma igreja evangélica. Segundo informações do hospital, o estado de saúde de Warley era estável na tarde de ontem. Ele estava consciente, respirando sem ajuda de aparelhos e sob medicação, acompanhado de uma equipe de neurologia. Não havia previsão de alta médica. “Está com o boca toda deformada por causa da paulada que levou”, disse a mulher da vítima.
(Colaborou Pedro Ferreira)


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