No ano em que o estado de Minas Gerais enfrenta sua pior crise hídrica, com os mananciais que abastecem a Grande BH entrando em colapso e sob decreto de redução de captações, as ações que poderiam assegurar mais água para rios e córregos estão na mira dos cortes orçamentários. Desde janeiro, as agências que convertem verbas da cobrança pelo uso da água em projetos ambientais para os comitês das bacias hidrográficas dos rios Araguari, das Velhas, Manhuaçu, Piranga, Piracicaba, Piracicaba/Jaguari, Santo Antônio, Suaçuí, Caratinga e Manhuaçu não receberam sequer um quarto dos valores devidos pelo governo do estado. Os recursos são vitais para programas de recuperação de perímetros de recargas de reservatórios subterrâneos, nascentes, olhos d’água, matas ciliares e áreas de preservação permanente, que são o abastecimento natural dos grandes rios mineiros. Na mesma toada, o Ministério do Planejamento já divulgou que as pastas do Meio Ambiente (MMA) e da Integração Nacional (MI) sofrerão cortes da ordem de 25,8% e 50,2% em seu orçamento para o ano, respectivamente, o que amplia o temor de que ações para revitalização e despoluição de bacias federais castigadas pela seca e que vinham sendo negligenciadas, como a do Rio São Francisco e a do Rio Doce, continuem desassistidas.
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Projeto resgata plano que previa respeitar cursos de rios e córregos de BHPBH poderá utilizar água de nascentes para serviços de limpeza urbanaAbastecimento de água será interrompido em 117 bairros de BH e mais 11 cidades da RMBHÓrgãos públicos ignoram apelo da Copasa e aumentam consumo de águaVereadores derrubam vetos e promulgam leis para economia e reutilização de águaFornecimento de água em bairros da Região Centro-Sul é interrompidoInterrupção deixa mais de 60 bairros da Grande BH sem abastecimento de água nesta sextaManutenção emergencial deixa bairros de BH sem abastecimento de água nesta terça-feiraMoradores do Barreiro reclamam de escassez de água e problemas no abastecimentoObras interrompem fornecimento de água em BH e mais nove cidades no domingoCom isso, o presidente do CBH Velhas, Marcus Polignano, afirma que ações necessárias para garantir quantidade e qualidade das águas do manancial estão ameaçadas.
De acordo com o coordenador geral do Fórum Mineiro dos Comitês de Bacias, Ideraldo Buch, a situação do Velhas se repete em todas as bacias com a cobrança pelo uso de água. “Nenhuma parcela foi ainda paga neste ano. Na sexta-feira vamos ter uma reunião no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) justamente para discutir essa questão. O impacto é grande, temos muitos projetos que estão parados, a questão dos estudos das bacias, educação ambiental”, afirma.
Primeiro rio mineiro a entrar em situação de alerta por causa da baixa vazão, o Piranga tem vários projetos que poderiam ser implementados se os recursos fossem pagos pelo estado, afirma o presidente do comitê da bacia, Carlos Eduardo Silva. “Temos ações de proteção de nascentes, de matas ciliares e de áreas de Proteção Permanente, poderíamos investir mais em produtores de água, que é uma gratificação ao dono de terras que mantém suas nascentes saudáveis, proteção de topos de morros que estão totalmente desmatados e que são as áreas de recarga, onde a água das chuvas vai infiltrar e volta às nascentes”, cita Silva.
Revitalização fica mais distante
A redução do orçamento federal segue as medidas anunciadas desde maio e que cortaram R$ 26 bilhões de áreas como educação, saúde e habitação para atingir superávit primário de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em superávit em 2016.
Para se ter uma ideia, desde 2005 foram gastos R$ 2,3 bilhões em ações de reflorestamento, tratamento de esgoto e contenção de processos erosivos na bacia do Rio São Francisco. O montante corresponde a pouco menos de 28% dos R$ 8 bilhões necessários para se atingir esse objetivo, segundo cálculos de integrantes das câmaras consultivas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), quase todos os recursos provenientes do Ministério da Integração, que sofre corte de mais da metade de seu orçamento. Desde 2008, apenas R$ 1,7 bilhão foi investido em intervenções de recuperação ambiental, segundo informações da própria pasta.
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