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Estado de Minas

Com faixas exclusivas de ônibus, Avenida Pedro II virou sinônimo de infração

Conversões perigosas e veículos nas calçadas põem em risco motoristas e pedestres


postado em 17/09/2015 06:00 / atualizado em 17/09/2015 08:12

Coletivo do Move trafega fora de sua pista: motoristas do sistema, de carros de passeio e táxis burlam as regras no caótico trânsito da Pedro II(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Coletivo do Move trafega fora de sua pista: motoristas do sistema, de carros de passeio e táxis burlam as regras no caótico trânsito da Pedro II (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

A Avenida Dom Pedro II, na Região Noroeste de Belo Horizonte, é sinônimo de infração de trânsito e perigo. Depois da implantação da faixa exclusiva para ônibus, por onde circulam coletivos do Move, os estacionamentos nas laterais da via foram proibidos e automóveis agora ficam em cima das calçadas. Para complicar, lojas e oficinas mecânicas usam os passeios como local de trabalho. Em várias situações, pedestres são obrigados a fazer o desvio pela pista de rolamento e correm risco de atropelamento.

Motoristas reclamam também da dificuldade de fazer a conversão à direita, uma vez que somente podem andar nas faixas centrais. Outros burlam a lei e trafegam pela faixa de ônibus e não são punidos. É que os radares de invasão de faixa exclusiva instalados pela BHTrans ainda não funcionam. Já os taxistas se queixam da dificuldade de parar para embarque e desembarque de passageiros.

A aposentada Darcy Perpétuo, de 63 anos, foi impedida ontem de transitar pela calçada, na altura do Bairro Carlos Prates, devido a uma grande quantidade de carros parados em frente a uma loja. O único jeito foi ela fazer o desvio pela faixa do Move. “O risco de atropelamento é muito grande, principalmente para idosos e deficientes físicos, que sofrem mais”, lamenta. Para ela, clientes de lojas e oficinais deveriam ser mais educados e parar seus carros em ruas laterais.

No entanto, os desrespeitos vão além da Pedro II, desabafa o aposentado Paulo Afonso Ribeiro, de 66, morador da Rua Arthur Hass, paralela à avenida, no Bairro Jardim Montanhês. “Pessoas estacionam o carro na minha rua e vão comprar na Pedro II. Param na contramão, em cima das calçadas e na porta da minha garagem. Todos os dias, eu tenho que brigar com alguém para que possa tirar meu carro da garagem”, reclama Paulo Afonso. “A BHTrans só olha o que acontece na Pedro II e esquece as ruas ao lado”, denuncia.

André Luiz da Silva Filho, de 35, dono de uma loja de radiadores, conta que precisou comprar um ferro-velho ao lado para transformá-lo em estacionamento para clientes. “Trabalho dando manutenção em radiadores e o serviço é demorado. Não dava para fazer rapidinho em cima do passeio. Os carros dos clientes estavam sendo multados e os donos recorriam à minha loja querendo ressarcimento do dinheiro. Aí, era só prejuízo”, disse o comerciante.

Vendedor de peças automotivas, Rogério de Paula, de 51, continua atendendo clientes na calçada. “A minha loja é recuada, tem espaço na frente para cinco carros e duas motos, mas não é o suficiente. O cliente não consegue vaga e vai embora. Com isso, as vendas caíram 20% depois que as vagas de estacionamento deram lugar à pista de ônibus”, reclama Rogério. Ontem, uma caminhonete ficou parada por um bom tempo atravessada na calçada, aguardando troca de retrovisor, e adultos, crianças e idosos tiveram que desviar pela pista de ônibus.

Na altura do Bairro Padre Eustáquio, motoristas que saíam da Rua Vila Rica eram obrigados a circular por quase um quarteirão na pista de ônibus, pois era grande o movimento de carros nas duas faixas mistas e era necessário aguardar a oportunidade de acessá-las com segurança. No Carlos Prates, muitos motoristas já se envolveram em acidente ao fazer a conversão à direita na Rua Espinosa sentindo Bairro Santo André, conta o mecânico de moto Jean Carlos Talomino Soares, de 30. “Tem um radar 10 metros antes do cruzamento e os motoristas têm medo de entrar na pista do Move e serem multados. Deixam para virar em cima da hora, quando chegam perto do semáforo, e atravessam na frente dos ônibus. Outros diminuem a velocidade e vem outro carro atrás e bate”, conta Jean Carlos. Alguns condutores do Move também vão contra as regras e transitam pelas faixas mistas. Na Pedro II com Rua Jaguari,  motoristas que aguardavam na fila de um posto de combustível dificultavam a passagem dos ônibus. A carroceria de um caminhão ocupava boa parte da pista exclusiva.

Quem também encontra dificuldade de transitar pela Pedro II são os ciclistas. Com tantos carros amontoados nas faixas mistas, eles pedalam pela de ônibus.

Eduardo Costa Pires, de 39, reclama que as pistas exclusivas de ônibus na Pedro II tiraram o direito de ir e vir dos taxistas. “Você não pode mais parar para embarque e desembarque de passageiros. Como vou fazer? Se não posso mais parar na lateral, na faixa dos ônibus, vou ter que parar na faixa do meio?”, questiona.

Confira os dados sobre o BRT na capital e percurso do Move na Pedro II(foto: Arte EM)
Confira os dados sobre o BRT na capital e percurso do Move na Pedro II (foto: Arte EM)

Coletivo é prioridade, diz BHTrans


Consultada sobre as reclamações referentes ao Move na Avenida Pedro II, a BHTrans informou que faz monitoramento nos corredores de trânsito e que, em situações irregulares, como estacionamento em local proibido, o condutor é orientado a sair. Se não obedecem, a Polícia Militar e a Guarda Municipal são acionados para autuar. Nesse caso, a empresa de trânsito reboca o veículo. A prefeitura também pode multar com base no Código de Posturas. A empresa de trânsito informou que os radares de invasão de faixa exclusiva da Pedro II devem entrar em operação em breve.

A BHTrans informou que BH traça faixas preferenciais para ônibus desde a década de 1980, na Avenida Amazonas, e que a partir de 2000 várias outras vias foram adaptadas. “É importante lembrar que o ônibus transporta em torno de 60 pessoas, enquanto o carro leva uma média de 1,5. Por isso, o transporte coletivo está sendo priorizado em relação ao individual”, informou a empresa, por meio de nota. “As faixas proporcionam melhorias na operação do embarque e desembarque dos passageiros, diminuição do tempo de viagem e da poluição. Também evitam disputas de espaço entre carros e ônibus”, completa. .

Sobre a conversão dos carros à direita, a BHTrans esclareceu que há um pontilhado dividindo as faixas exclusivas de ônibus e mistas e que, nesse trecho, outros veículos podem entrar na faixa de ônibus para convergir ou entrar em garagens. Sobre a reclamação dos taxistas, informou que qualquer carro pode parar em locais devidamente sinalizados.

Controle

Belo Horizonte conta hoje com 214 controladores eletrônicos de trânsito, sendo 87 radares de velocidade, três de velocidade estática (acoplado ao veículo), 106 de avanço de sinal, 24 de invasão de faixa exclusiva, quatro fiscalizadores de caminhões e um conjugado de invasão de faixas exclusivas e de velocidade. De acordo com a BHTrans, ainda falta implantar 157 aparelhos, sendo 17 controladores de velocidade, 69 de avanço de sinal, 32 de invasão de faixa exclusiva e 39 conjugados.


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