Ladrões de carros criaram uma estratégia para evitar serem flagrados com os veículos na Grande BH. Diante do crescimento do número de motoristas que instalam rastreador nos automóveis ou contratam serviços de localização, assaltantes estão abandonando os carros em ruas de Belo Horizonte ou de cidades da região metropolitana por um curto período, para buscá-los posteriormente. O objetivo é escapar da polícia caso o carro esteja sendo procurado e tenha equipamento de GPS.
O analista de sistemas Samuel Filizzola foi uma das vítimas da nova tática dos criminosos. Ele trabalha em uma empresa de rastreadores e estava desenvolvendo um sistema. Para os testes, utilizava o próprio carro e o de outro colega da empresa. Quando acionou o software, acabou tendo uma surpresa. “Quando fui fazer o teste, meu carro, que eu tinha estacionado em Lourdes (Região Centro-Sul), estava parado próximo ao Bairro Jaraguá, na Pampulha”, conta. “Acionei a PM e fui informado pelos militares de que os criminosos estavam fazendo isso para checar se havia localizador e só levar o carro depois”, completou.
No dia da ocorrência, a PM chegou a pedir autorização para o motorista deixar o carro no local – a ideia era tentar prender os ladrões. “Aceitei a sugestão da PM e só busquei o veículo no depósito (do Detran) no dia seguinte, mas não sei dizer se conseguiram prender os suspeitos”, disse Samuel. Ele conta que casos como o dele são comuns na empresa onde trabalha. Normalmente, o principais alvos são caminhões, mas veículos leves também já foram levados. “Caminhão eles abandonam para tentar encontrar o rastreador e desmanchar o veículo. E está acontecendo muito com carros recentemente.”
O empresário Gustavo Henrique Nébias Andrade, de 33 anos, passou por situação parecida. Em agosto, ele descobriu que o carro tinha sido roubado ao sair da casa da namorada no Bairro Serra, Região Centro-Sul. “Acionei a polícia e o seguro e peguei um táxi para ir embora. Para minha surpresa, vi meu carro em uma rua próxima”, lembra. “O taxista me alertou para não descer porque os criminosos poderiam estar por perto, então decidi ir para casa”, acrescenta.
No dia seguinte, o irmão do empresário foi com um chaveiro até o local onde estava o veículo. Quando estavam abrindo o carro foram abordados por um policial. “Ele estranhou a situação e foi ver o que acontecia. Depois, nos disse que os criminosos estão fazendo isso com frequência. Abandonam o carro por uns três dias e esperam para ver se alguém vai buscá-lo, por causa do rastreador”, relata o empresário.
AJUDA DE MORADORES A Polícia Civil, por meio de sua assessoria de imprensa, reconheceu que tem investigado casos em que carros são abandonados por ladrões com receio de localizadores. A corporação, no entanto, informou que não comentaria a nova estratégia de assaltantes para não prejudicar apurações. A Polícia Militar, por sua vez, avaliou que moradores podem ajudar na busca por veículos roubados e deixados em ruas. “As pessoas que notarem veículos desconhecidos parados há vários dias perto de casa, por exemplo, devem acionar o 190. A orientação é não mexer no carro, apenas acompanhar a situação”, disse o major Sérgio Dourado, da assessoria de comunicação da PM.
De janeiro a julho, 1.457 ocorrências de roubos de veículos foram registradas em Belo Horizonte, queda de 19,2% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 1.804 casos. Os furtos também recuaram no período: foram 2.123 casos este ano, contra 3.004 nos primeiros sete meses de 2014, queda de 29,32%. A polícia conseguiu recuperar 2.502 automóveis roubados este ano.