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Estado de Minas

'Em relação à doença nada mudou no Brasil', diz Ney Matogrosso sobre a hanseníase

Há 13 anos, artista se engajou numa campanha em prol da Colônia Santa Isabel, atual Casa de Saúde Santa Isabel, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.


postado em 20/09/2015 11:00 / atualizado em 21/09/2015 08:22

Ney Matogrosso em visita à Colônia Santa Isabel(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Ney Matogrosso em visita à Colônia Santa Isabel (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
“Vim com minha mãe e quatro irmãs. Só eu me salvei”.
Flaviana Rosa, 83 anos

Com a memória em sombras, Flaviana mal se recorda do próprio nome. Tampouco sabe dizer há quanto tempo chegou à Colônia Santa Isabel. Nesses anos, sofreu demais. A doença levou embora a mãe e quatro irmãs. Seus cabelos ainda estão negros, aos 83 anos, mas ela se parece mais com um bebê, encolhida em posição fetal na cama. Carente, abraça sua boneca e a gatinha de pelúcia, únicas companheiras. Ela já não recebe visitas. Desolada, pede para que lhe ajeite a touca na cabeça, pois sente frio. “Deus te pague”, agradece, falando baixinho.

O cantor Ney Matogrosso nunca teve medo de pronunciar lepra no lugar de hanseníase. “É preciso combater a doença, e não uma palavra. Sempre falei assim e, com o tempo, passaram a não se incomodar mais com isso”, diz o artista, que, há 13 anos, se engajou numa campanha em prol da Colônia Santa Isabel, atual Casa de Saúde Santa Isabel, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A visita do cantor à instituição ganhou repercussão e foi noticiada pelo Estado de Minas em 7 de maio de 2002, quando ele denunciou a omissão, por parte das então autoridades federais, na erradicação da doença no país. Na época, o Brasil registrava 45 mil novos casos de hanseníase por ano, o que significa um a cada 12 minutos.

O ingresso de Matogrosso na campanha começou de forma curiosa. Pouco antes da decisão do cantor, o ator Ney Latorraca disse em entrevista que deixaria sua herança para os hansenianos e soropositivos. Confundindo o nome dos dois artistas – “sempre acontece de trocarem nossos sobrenomes” –, os organizadores da ação telefonaram para o cantor pedindo sua participação. Convite feito, convite aceito e Ney se tornou voluntário do Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas por Hanseníase (Morhan), fazendo a narração do documentário Aqui estaremos bem, produção sobre a ex-colônia e a vida dos internos. Por telefone, Ney falou ao EM.

O que mudou neses 13 anos?
Quando entrei na campanha, fiquei impressionado ao saber que, mesmo com a cura da doença, ainda havia tantos leprosos no país. O Brasil era medalha de ouro em hanseníase! Hoje, fico impressionado por não haver um movimento para acabar com essa doença. Em relação a ela, não mudou nada. O governo pagou uma indenização aos leprosos, mas não houve combate à doença.

Como foi sua atuação nessa campanha?
Falei sobre o assunto com o ministro José Serra e com o penúltimo ministro da Saúde. Mas depois me afastei da campanha, cansei de dar murro em ponta de faca. Chamei muito a atenção para a questão da lepra em entrevistas. Aliás, sempre falei lepra. No início, muita gente ficava incomodada, depois pararam de se importar.

Você aprendeu muito sobre o assunto...
Fundamentalmente que é uma doença que acomete principalmente os pobres. Não é que gente de classe média esteja totalmente protegida, mas é uma enfermidade muito relacionada à falta de higiene. O contágio é pela respiração, então há muita gente, famílias inteiras, vivendo num quarto. Gente pobre não rende voto!

Com a experiência, qual é seu alerta?

A doença não está erradicada no Brasil. As pessoas devem ficar atentas: se você tiver um sinal vermelho com a borda esbranquiçada, tocá-la com um alfinete e não sentir nada, é preciso procurar imediatamente um posto de saúde.


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