“Sou madrinha dos leprosinhos. Prefiro chamar a doença de lepra (termo politicamente incorreto), porque tem jornalista que nunca ouviu falar de hanseníase. Quando digo a palavra, ficam me olhando sem entender nada”, diz assim, de bate-pronto, a musa dos portadores de hanseníase Elke Maravilha, que divide a função com o padrinho da causa, o músico Ney Matrogrosso (veja entrevista ao lado). Com visual surpreendente, sempre paramentada com roupas e perucas excêntricas, a ex-modelo e glamour girl é a personificação do oposto da hanseníase, que no passado enfeiava os doentes, que ficavam marcados para sempre na superfície da pele. “A hanseníase não tem visibilidade e nem dá votos por ser considerada doença de pobre, mas não é um bicho de sete cabeças. Desde o dia em que se começa a tomar o remédio já deixa de transmitir o bacilo, e, em seis meses de tratamento o paciente está novo em folha, se já não tiver sequelas”, explica.
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Pacientes de hanseníase que vivem em ex-colônia de Betim ainda sofrem com estigma e isolamentoDebate vai decidir o futuro de ex-colônias de hanseníasePapa recebe representante mineiro da comissão brasileira de hansenianos no VaticanoHansenianos da ex-Colônia Santa Isabel terão encontro com o PapaMinas Gerais chegou a receber o maior número de pacientes de hanseníase do BrasilConheça o drama de portadores de hanseníase afastados dos filhosHansenianos enviavam cartas para todo o Brasil pedindo contribuiçõesMinas Gerais tem média de 1,4 mil casos de hanseníase em cinco anosDois tempos unidos pela dor da hanseníaseEm conversa com o EM, Elke Maravilha contou como passou a militar na causa dos hansenianos, há 22 anos. Foi levada pelas mãos da atriz Márcia de Windsor, que ficou conhecida por estrelar 15 novelas e como jurada dos programas na TV de Flávio Cavalcanti e Silvio Santos. “Ela me apresentou ao Mohran. Disse que precisava de alguém como eu para ir com ela visitar uma colônia, porque a maioria das pessoas reagia com medo ou nojo.
Mais de duas décadas se passaram desde a primeira vez em que ela foi apresentada ao Mohran. Nunca abandonou a militância e faz presença em eventos organizados pelo movimento no país inteiro. “Sofro do coração desde criança e tenho diabetes, mas ninguém me apedreja por eu ter essas doenças. Não tenho e nunca tive hanseníase. Se tivesse, já teria dito, porque não é imoral ter hanseníase. Imoral é roubar o povo. Por acaso é pecado estar doente? Todos nós estamos no mesmo barco.
Pedido ao papa
“Vamos pedir ao papa para que abrace os hansenianos do seu tempo e pare de usar o termo lepra para designar coisas muito ruins, como já fez no início do seu pontificado, ao se referir à pedofilia e à corrupção no Banco do Vaticano”, informa Thiago Flores, da Colônia Santa Isabel, um dos representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas por Hanseníase (Morhan), que foi em junho a Roma levar o pedido ao sumo pontífice. Um dos argumentos usados pelo grupo, que também convidou o papa a visitar uma ex-colônia na próxima vinda ao Brasil, em 2016, foi o episódio do beijo no leproso, passagem que consta da vida de São Francisco de Assis. O santo inspirou o batismo do pontificado..