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Estado de Minas

Advogado de menores que mataram delegado em BH alega legítima defesa

Após apreender menores suspeitos de matar delegado, investigadores apuram se houve ajuda de terceiros na fuga da dupla, que aguardará julgamento em centro de internação. Ao defensor deles, os dois disseram ter agido em legítima defesa


postado em 22/09/2015 06:00 / atualizado em 22/09/2015 07:25

Os adolescentes T.H.S.S. e V.K.S.Q.S. foram encontrados em estrada de terra na zona rural de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana da capital, não ofereceram resistência à apreensão e foram levados para a Dopcad, onde prestaram depoimento(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Os adolescentes T.H.S.S. e V.K.S.Q.S. foram encontrados em estrada de terra na zona rural de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana da capital, não ofereceram resistência à apreensão e foram levados para a Dopcad, onde prestaram depoimento (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Depois de localizar e apreender os dois adolescentes suspeitos de matar o delegado Vanius Henrique de Campos, de 43 anos, em um posto de gasolina no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no  sábado, a Polícia Civil investiga agora se houve participação de terceiros na fuga da dupla. Caso a hipótese se comprove, os cúmplices podem responder por crime de favorecimento pessoal. T.H.S.S. e V.K.S.Q.S., ambos de 17 anos e conhecidos como Tallibam e Bubu, respectivamente, foram detidos por volta das 12h30 de ontem, na zona rural de São Joaquim de Bicas, Região Metropolitana de BH. De acordo com o chefe da Delegacia de Homicídios Sul, Frederico Abelha, os menores foram localizados em uma estrada cercada por pastos e não resistiram à apreensão. Ao defensor deles, o advogado João Paulo Machado Rodrigues Cardoso, os dois disseram ter agido em legítima defesa.

 

Na noite de ontem, os menores passaram por exame de corpo e delito no Instituto Médico Legal (IML) e foram apresentados à juíza Valéria da Silva Rodrigues, da Vara Infracional da Infância e Juventude, que determinou que os adolescentes permaneçam acautelados até o julgamento.  Eles foram encaminhados ao Centro de Internação Provisória (Ceip) Dom Bosco.

Para chegar à identificação do local onde os suspeitos estavam escondidos, a polícia voltou ontem ao Morro do Querosene, onde T. e V. residem, e disse ter colhido novas informações com familiares e moradores do aglomerado da Região Centro-Sul. Os dados se somaram ao trabalho do setor de inteligência da corporação e, diante da confirmação de que os adolescentes estavam na cidade da Grande BH, a família fez contato telefônico por meio de terceiros, informando a eles que não adiantava mais fugir, porque a polícia já os havia localizado. Além da equipe da Homicídios Sul, policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) participaram do trabalho de busca. Familiares, advogados e a presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, Cirlene Lima, acompanharam o trabalho. Após a apreensão dos adolescentes, com base em informações apuradas no Morro do Querosene e com o apoio dos advogados, os policiais recuperaram a arma de uso pessoal do delegado, uma pistola Taurus PT-738 calibre .380, que estava em um local ermo, dentro de uma bolsa.

De São Joaquim de Bicas T. e V. foram levados em comboio policial para a Delegacia Especializada de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad), no Bairro Sagrada Família (Leste de BH), onde prestaram depoimento. De acordo com a delegada-chefe do órgão, Elisabeth Dinardo, o histórico de envolvimento em atos infracionais dos dois seria levantado, bem como a dinâmica do homicídio. Segundo um parente, V. já cumpria medida socioeducativa por porte ilegal de arma e ambos seriam usuários de maconha.

 Um dos pontos a ser esclarecido nas investigações é se os dois menores estavam extorquindo clientes da loja de conveniência do posto de gasolina, o que teria motivado a confusão entre o delegado e a dupla. Testemunhas que estavam no local no momento do homicídio descartam essa possibilidade e garantem que os dois conheciam a pessoa que estava no comércio, a quem haviam pedido uma garrafa de uísque.

Apesar de as câmeras de segurança da loja de conveniência terem registrado o início da confusão, os tiros ocorreram em um ponto fora do alcance do sistema de monitoramento. Mas, de acordo com o delegado-chefe do DHPP, Osvaldo Wiermann, o adolescente que aparece no vídeo usando camisa verde e que tinha cabelo loiro, o T., foi o responsável por dar golpe conhecido como voadora, que derrubou o policial.  V., que visto no vídeo de camisa vermelha, foi quem atirou, ainda segundo o delegado. T. foi encontrado ontem com o cabelo tingido de cor escura.

Advogado alega legítima defesa

Familiares e o advogado dos dois adolescentes suspeitos, o defensor João Paulo Machado Rodrigues Cardoso, afirmam que os menores agiram em legítima defesa ao atirar no delegado Vanius Henrique de Campos, de 43 anos. Segundo ele, o depoimento prestado pelos dois na Delegacia Especializada de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad) foi claro: “Houve uma discussão. Uma briga, motivada pelo policial, que desconfiou que os dois estavam furtando ou coagindo pessoas na loja de conveniência. E isso não aconteceu. Eles estavam comprando e, em determinado momento, falaram com uma pessoa que estava no posto que era conhecida deles. Haviam pedido um litro de uísque e essa pessoa iria dar, mas isso nem mesmo chegou a acontecer”, afirma o advogado.

Ontem, parentes dos dois acompanharam o trabalho de apreensão em São Joaquim de Bicas e a condução dos menores ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA/BH). Um parente que pediu para não ser identificado chegou a dizer que “se não matassem o delegado, seriam eles quem estariam mortos”. Um outro contou que T. não trabalha e tem histórico de desobediência em casa, além de consumir maconha. Sobre a história de vida de T., um parente disse que o menor perdeu a mãe, vítima de uma troca de tiros durante uma confusão numa festa. Na ocasião, a mãe tinha 17 anos, mesma idade que T. tem hoje.

Na época da gravidez, o pai dele não assumiu a paternidade e desapareceu. T. foi criado pela avó, que além de perder a filha adolescente, viu outro filho, de 20 anos, morrer vítima do tráfico de drogas, há 13 anos. O adolescente tem um filho de nove meses com a irmã do parceiro V.. Os dois menores são amigos de infância e vão completar 18 anos em 13 de dezembro. A maioridade, no entanto, não altera eventual punição dos dois, que poderão ser submetidos a medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com a delegada-chefe da Dopcad, Elisabeth Dinardo, as penalidades são várias e podem chegar a até três anos de internação, mas vão depender de decisão da Justiça.

Vídeo mostra momento em que os menores são apreendidos

 

 


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