Lola, descrita como uma mãe supercarinhosa, mora há menos de um ano com seus cinco pequenos no tradicional condomínio JK, desenhado por Oscar Niemeyer (1907-2012) na década de 1950, na área Central de Belo Horizonte. A união da família contagia os vizinhos. Principalmente quando todos brincam nas quadras do edifício. Eles correm, rolam e fazem graça até para quem não os conhece. Mas o grupo deve ser separado nos próximos dias. E, embora difícil de acreditar, é para o bem de todos.
A história, estranha à primeira vista, só é esclarecida quando a identidade da família é revelada. Lola e os pequenos são gatos SRD, sigla que os defensores da causa animal usam para simplificar a expressão “sem raça definida”. Moradores acreditam que a adoção seja o melhor futuro para os filhotes. A mãe, por sua vez, deve ser castrada. Por trás dessa história, há uma precaução maior: evitar uma superpopulação de felinos na área comum do condomínio.
Hoje, 10 gatos convivem no local. E o número vai crescer em poucos dias. Além de Lola e dos filhotes, a gataria conta com um animal jovem, de aproximadamente seis meses de idade, e mais três adultos. Todos, garantem moradores do JK, SRD.
“Um macho pode ter cerca de mil descendentes num ano, pois ele cruza com as fêmeas da redondeza. Uma gata é capaz de ter, em média, seis filhotes em cada ninhada. E ter três, quatro cios a cada 12 meses. A castração é a principal medida a ser adotada nesse caso”, sustenta Mailce Mendes, presidente da ONG BastAdotar, criada há 10 anos e que já proporcionou um lar para mais de 700 animais.
A entidade auxilia os moradores do JK interessados em encontrar um novo abrigo para os filhotes de Lola. Para capturá-los, condôminos planejam instalar uma “gateira”, possivelmente, na quadra. A programadora visual Déa, que todas as noites ajuda na alimentação dos felinos, vai encaminhar hoje à administração do JK um pedido formal para que a gerência autorize a instalação da armadilha.
Ela é uma das moradoras que, diariamente, alimenta os bichanos: “Compramos ração para eles”. Déa se recorda de como o grupo surgiu. A primeira a chegar, há quase dois anos, foi Artenísia, a felina dengosa. “É bastante amável. Teve filhotes e a população aumentou. Talvez tenha sido abandonada. Acredito que os animais ficam num cômodo (da área comum) durante o dia. À noite, vão para a quadra”, conta a programadora visual.
Déa tem tanto carinho pelos animais que até batizou um deles: “Quando o bichinho apareceu, eu não sabia se era macho ou fêmea. Comecei a chamá-lo de Bolinho, pois parecia uma bola com pelos. É fêmea e está prenha”. O pai é Todinho, que recebeu o nome por ser amarronzado.
“Ele é carinhoso. Amanhã (hoje), vou levar o documento à gerência do JK (para a permissão da gateira) e ver se consigo providenciar a castração dos (outros) animais adultos”, deseja Déa.
A gerência do condomínio, quer evitar qualquer problema do JK com autoridades ambientais. Por isso, avaliou que o documento é necessário para a retirada dos gatos do local. Para a gerência, a presença dos animais não atrapalha o dia a dia no edifício.
Quem deseja levar algum filhote de Lola para casa pode entrar em contato com a BastAdotar pelo Facebook. Lá, o interessado pode ter informações sobre outros animais à espera de um lar.