A questão agora é muito mais complicada do que uma mulher que usava a Praça Raul Soares, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para se refrescar todo fim de tarde deitada na grama, de maiô, ao lado da fonte luminosa que havia sido reformada e que tocava música clássica, em 2008. Hoje, moradores de rua tomaram conta do lugar, vivem em barracas de camping e usam a fonte, que continua luminosa, mas sem música, para tomar banho e lavar roupas, bem diante dos olhos da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Numa tentativa de salvar a praça, um abaixo-assinado na internet, feito por meio da plataforma change.org, cobra soluções da Prefeitura de Belo Horizonte para a situação do espaço, uma das principais áreas verdes da capital, que hoje não está tão verde, devido ao vandalismo. A meta do idealizador do documento é colher 2,5 mil assinaturas para que o documento seja direcionado ao Executivo municipal. Na noite de ontem, faltavam apenas 18 assinaturas.
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O coordenador do Conselho CDL/Barro Preto e um dos diretores da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Fausto Izac, conta que há um mês a entidade fez uma reunião com a Secretaria Regional Centro-Sul da PBH e com a 5ª Companhia da PM, pedindo providências. “Ficaram de realizar uma ação conjunta para avaliar o que pode ser feito. Vamos marcar nova reunião. O problema é que a PM não pode agir em relação aos moradores de rua, devido à Legislação que proíbe recolher pertences pessoais deles. O que a PM e a Guarda Municipal podem fazer é combater os roubos, a prostituição e o tráfico de drogas”, disse Izac.
Medo A advogada Wilma Aparecida Aguiar conta que evita a praça quando começa a anoitecer. “Tenho muito medo. São homens de short e moças de biquíni, como se fosse praia”, reclama. A estudante Ana Carolina Gil, de 19, havia marcado encontro na praça com uma amiga. “Só me senti segura perto dos guardas municipais”, disse.
O guarda municipal Cristiano Souza explicou que a lei garante a permanência do morador de rua em locais públicos. “O que a gente faz é telefonar para a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas e eles tentam convencê-los a ir para abrigos. Mesmo quando as barracas são recolhidas, os sem-teto voltam no dia seguinte com outras. A gente fica aqui para evitar crimes, vandalismo e garantir o direito de ir e vir das pessoas”, disse .
Questão social A PBH informou, por meio da Regional Centro-Sul, que está atenta à questão social de pessoas em situação de rua que têm como referência a Raul Soares, e tem tomado providências no que diz respeito ao atendimento socioassistencial. Outra frente visa à desobstrução do local, onde são apreendidos itens que prejudicam a mobilidade.