Há poucos anos, uma mulher que passava pela Rua Serra Negra, no Bairro Granja Primaveras, em Ribeirão das Neves, levou um grande susto e exclamou: “A casa caiu”. Ela se referia ao imóvel do aposentado Eduardo José Lima, de 71 anos, dono da propriedade que já se transformou em um cartão-postal da cidade da Grande Belo Horizonte. Diante de tantos curiosos que diariamente aparecem por lá, ele autorizou a prefeitura a usar a imagem do que batizou como “A Casa Invertida”.
O imóvel, que começou a ser erguido em 2008 e foi concluído em 2011, chama a atenção pelas características inusitadas. O telhado, por exemplo, fica onde deveria ser a calçada. As janelas da fachada principal ficam de ponta-cabeça. No alto, há bicicletas penduradas com as rodas para cima.
Parte do ambiente interno também desperta a curiosidade. Quem olha para o teto da sala de entrada se depara com um grande tapete, com direito a mesa de centro, um jarro de flores e uma antiga revista. “Veja a pia: é invertida também”, mostra Eduardo, que hoje mora no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Ele pensou em viver no imóvel de Neves, em área com pouco mais de 10 mil metros quadrados.
Diante da grande curiosidade, ele decidiu ganhar dinheiro com a propriedade. Com base na legislação do aluguel para temporada, ele negocia uso do espaço para eventos: R$ 2,5 mil do fim da tarde de sexta-feira ao início da noite de domingo. Mas Eduardo faz um alerta: “Todos os fins de semana até o fim do ano já estão alugados”.
Além da arquitetura inusitada, há outras atrações: piscina, área de churrasco e um amplo gramado, que escaparam da engenharia invertida. “Também há camas desmontadas”, informou o dono, enquanto mostra o número na fachada: um 199 que virou 661.
A ideia de erguer a “casa de cabeça para baixo” surgiu de repente, conta Eduardo. “Dizem que mente vazia é moradia do diabo.
Mas Eduardo achava que o imóvel não estava completo e, pouco tempo depois, deu nova forma ao anexo: o telhado na lateral, como se tivesse tombado. “Deu um trabalho danado colocar as telhas”, conta. Foi justamente o anexo que despertou atenção da mulher que exclamou que a casa havia caído. Ao ouvir a frase, o aposentado se lembrou de um jargão usado pela polícia de todo o Brasil.
“A mulher disse: ‘A casa caiu!’. Isso é jargão de policial. Daí decidi que o número do anexo seria 171,”, conta Eduardo, referindo-se ao número do artigo que tipifica o crime de estelionato no Código Penal. Uma vez, recorda ele, um caminhão do Corpo de Bombeiros estacionou em frente ao seu portão.
“O comandante desceu, acompanhado de alguns militares novatos, e me disse: ‘Fiz uma brincadeira. Disse a eles que havia recebido um telefonema com a informação de que uma casa havia caído nesta rua e os trouxe para conhecer’”, relata o dono da propriedade, graduado em direito, que parece colecionar diplomas: “Também sou formado em administração, ciências contábeis e economia. E tenho pós-gradução em perícia”, conta.
NATUREZA A casa invertida não atrai apenas curiosos. O terreno, onde há bananeiras, mangueiras e outras árvores, abriga diversas espécies de aves. “Há, por exemplo, maritacas. Tem asa-branca, que é uma espécie que, por algum motivo, afasta o pombo comum. Para mim, é bom. Imagina minha casa com ninho de pombo? A asa branca faz o seu em árvore”, explica.
Até coruja, recorda Eduardo, habitou seu terreno. Tucanos também costumam aparecer por lá. E dão o ar da graça no gramado próximo à piscina, de onde se tem uma vista interessante da casa invertida.