Receber a notícia de que será preciso deixar para trás a horta, os vizinhos e mudar de endereço para abrir caminho a canteiros de obras e máquinas já se tornou página virada para muitos moradores de Belo Horizonte, desapropriados de áreas onde foram construídas vias e equipamentos públicos. Para alguns, que viviam em áreas de risco e eram castigados por enchentes, a mudança chega a ser tratada como presente divino. Mas sair de casa ainda é considerado tarefa árdua e assunto delicado para muita gente, mesmo diante da certeza de que é necessário contribuir com o progresso urbano.
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Prefeitura determina desapropriação de imóveis para obras no Bairro Santa TerezaIdoso recebe R$ 18 mi em acordo com Cemig por desapropriação de imóvel em Governador ValadaresDesapropriados para despoluição da Lagoa da Pampulha contestam valor da indenizaçãoImóvel no Bairro Liberade é desapropriado para implantação de parqueManifestação contra desapropriação fecha BR-381, em Betim, por mais de três horasPBH desapropria terreno no Bairro das Indústrias para obra do "piscinão"Tem sido assim para a população da Vila Calafate, na Região Oeste da capital, onde a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pretende construir uma bacia de detenção para evitar enchentes do Ribeirão Arrudas. No lugar, serão retiradas pelo menos 500 casas, segundo informações recebidas por moradores, em reuniões com representantes da prefeitura para tratar do assunto. Mas a data para início da obra ainda não foi divulgada.
Apesar de o decreto para início do processo de desapropriação na área onde será construído o “piscinão” do Bairro Calafate ter sido publicado no Diário Oficial do Município (DOM) em maio do ano passado, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) ainda não tem previsão nem mesmo para abertura do processo de licitação. Segundo o órgão, responsável pela obra, o início das intervenções depende da liberação de recursos do governo federal, o que ainda não ocorreu.
DÚVIDA Enquanto isso, as vizinhas Núbia Dolores da Conceição, de 41, e Thianna de Lourdes Fernandes, de 42, acreditam que a prefeitura deveria encontrar outra solução para os alagamentos, já que temem pelo futuro de suas famílias, caso tenham que sair.
Por meio de nota, a PBH esclareceu que em todos os procedimentos adotados pelo município em relação às desapropriações respeita-se, acima de tudo, a dignidade e a segurança de todos os envolvidos no processo. Além disso, informou que “os preceitos constitucionais e legais aplicáveis à desapropriação são seguidos à risca, com o objetivo de respeitar os direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos, inclusive com o prévio depósito da indenização arbitrada judicialmente ou o pagamento de indenização acordada”.
Propostas recusadas
Para quem a desapropriação já bateu à porta e chegou como notícia desagradável, a solução é recorrer à Justiça. Assim fez o corretor de imóveis Joan Ornelas, de 67, que “bateu o pé” e garante que não vai deixar o barracão de um quarto, banheiro e cozinha no Bairro Liberdade, onde também está sendo construída uma bacia de contenção para evitar alagamentos no aeroporto da Pampulha, no Bairro Aeroporto. O motivo é o valor da indenização de R$ 22,2 mil, que ele considera insuficiente. “É um valor muito baixo e não consigo comprar nenhum outro imóvel com esse dinheiro. O que querem? Que eu saia e vá para debaixo da ponte? Não concordo com a forma como tratam a gente. Como se fôssemos bicho, que você tira de um lugar e coloca em outro. Não pode ser assim”, questiona o morador, que não aceitou a proposta da PBH de se mudar para um apartamento do programa Vila Viva. “Visitei alguns deles e não gostei do que vi. É gente de todo tipo misturada e não se tem sossego”, disse.
A reclamação é a mesma de um casal que vive no Conjunto Habitacional Vila São José, na Região Noroeste de BH. “Claro que o valor do apartamento é maior que a indenização que receberíamos.
RESISTÊNCIA Personagem emblemática da resistência para liberar o caminho dos tratores de empreiteiras na Vila São José, a aposentada Leonilda de Souza, de 74, a dona Dalva, contou que, na época da obra, até se sentou no chão quando os engenheiros da Empresa Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) foram até a casa dela, para dizer que a construção precisava sair do caminho. “Eles me ofereceram um apartamento, mas para lá não posso levar meus filhos”, disse, na ocasião, referindo-se aos cães Pichulinha, Rosinha e Reque. Hoje, dois dos três cães já morreram e apenas Rosinha está com ela, em um barracão no Bairro Ressaca, em Contagem, comprado com o valor da indenização que recebeu. Depois de tanto resistir – ela foi a última a sair do local – dona Dalva aceitou o valor de R$ 36 mil..