Jornal Estado de Minas

População sofre com falta d'água até à beira do Rio São Francisco


Moradores sofrendo com escassez de água à beira do maior rio que corre inteiramente em território nacional. Essa é a situação enfrentada por habitantes de São Francisco, no Norte de Minas, onde centenas de pessoas da zona rural vivem às margens do rio de mesmo nome, mas sofrem os efeitos da estiagem prolongada e precisam ser abastecidas por caminhões-pipa. “A situação do nosso município diante dos prejuízos da seca é calamitosa”, diz o prefeito Luiz Rocha Neto (PMDB). “O maior problema é que a água do Rio São Francisco, se não receber tratamento, não serve para o consumo humano, pois é muito poluída. Quem bebe dela sofre diarreia, problemas de pele e outras doenças”, explica.

Luiz Rocha Neto disse que atualmente os caminhões da Operação-Pipa, do Exército Brasileiro, levam água até a casa de cada morador da zona rural. Porém, afirma, o governo federal anunciou uma mudança no programa: a água será levada até determinado ponto, onde será instalado um reservatório, e os moradores próximos ficarão responsáveis por se abastecer no local, da forma que puderem. “O governo quer que as prefeituras comprem e instalem os reservatórios. Mas, no pico da seca, os municípios estão sem dinheiro e não podem bancar essa despesa”, reclama.

Atualmente, rodam no município 15 caminhões-pipa, com a tarefa de abastecer mais de 10 mil pessoas.
Segundo o prefeito, várias comunidades vizinhas às barrancas do Velho Chico se abasteciam com água de córregos e pequenos rios da bacia, mas eles secaram. A situação se repete em outras cidades da região, como Francisco Sá, uma das mais castigadas pela estiagem.

Lá, na comunidade de Angicos, o agricultor José Dimas Xavier, de 60 anos, conta que o Rio São Domingos, que passava próximo de sua propriedade, desapareceu completamente. Ele disse que só não passa necessidade maior porque recebe água do caminhão-pipa, porém apenas a cada 15 dias.

Não é o suficiente para escapar dos prejuízos da estiagem prolongada. “Eu tinha umas 260 reses. Por causa da seca, agora só restam 60”, diz o agricultor, explicando que foi obrigado a se desfazer da maior parte do rebanho,  para não deixar os animais morrerem de fome e sede. De acordo com o técnico João Luiz Silveira, do escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), por causa da falta de chuvas, 95% das lavouras de milho do município foram perdidas na safra 2014/2015, enquanto as perdas nas pastagens foram de 50% a 70%.

MIGRAÇÃO Em Mato Verde, como a Barragem Viamão, onde é feita a captação, secou completamente, a Copasa também usa caminhões-pipa para se abastecer em reservatórios em municípios vizinhos. Depois de transportada, a água é depositada na estação de tratamento da cidade.
Com isso, moradores esperam até cinco dias para receber água.

Em Monte Azul, embora a Barragem do Tremedal, que abastecia a cidade, tenha secado, a população da área urbana não enfrentou falta d’água, porque foi feita a adutora para a captação na Barragem de Canabrava, construída com recursos da Companhia do Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e Parnaíba (Codevasf). No entanto, a zona rural é fortemente afetada pela estiagem prolongada, com cerca de 11 mil pessoas de 54 comunidades abastecidas por caminhões, de acordo com a prefeitura.

O técnico Antônio Dias Araújo, do escritório da Emater-MG em Monte Azul, salienta que a seca tem acarretado prejuízos, desemprego e abandono do campo. “Muitas pessoas têm fugido da seca em direção a São Paulo e ao Sul de Minas, em busca de trabalho para manter aqueles que ficaram para trás”, conta Araújo..