Pampulha a um passo de se tornar Patrimônio Cultural da Humanidade. Começou ontem a visita a Belo Horizonte da consultora venezuelana María Eugenia Bacci, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), que fará a avaliação final sobre a situação do conjunto moderno projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e candidato ao título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A especialista ficará na cidade até quinta-feira.
Logo de manhã, moradores e atletas contumazes se surpreenderam com os cartazes (galhardetes) em 36 pontos estratégicos da orla, escritos em português e inglês, mostrando o interesse da cidade pelo título. “A Pampulha já é patrimônio do mundo! Para nós, será um grande orgulho”, disse o industrial Pedro Emílio da Silveira na caminhada matinal com o neto João Victor, de 8 anos. Morador do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste, ele elegeu o local como o preferido para exercícios ao ar livre. “Com certeza, será um título importante para BH. Com o sol, aqui fica mais bonito”, acrescentou num momento de contemplação no Mirante Oscar Niemeyer
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Quem passou ontem pela região viu equipes da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) no fim da operação pente-fino, que retirou e recolheu lixo, podou grama, trocou lixeiras, limpou as margens da lagoa, enfim, deu um trato caprichado no visual do cartão-postal mais famoso da capital. “A consultora vem ver se a gente falou a verdade no dossiê”, comentou, com bom humor, o secretário de Administração Regional Municipal da Pampulha, José Geraldo de Oliveira Prado, ao ressaltar que a documentação, com mais de 500 páginas, apresentada à Unesco, em Paris, na França, foi aceita sem problemas. O outro candidato, Paraty (RJ), foi preterido.
A Pampulha está na lista indicativa do Brasil desde 1996 e a candidatura a Patrimônio Cultural da Humanidade foi retomada pela PBH em dezembro de 2012. O conjunto moderno da Pampulha inclui os edifícios e jardins da Igreja de São Francisco de Assis, o atual Museu de Arte da Pampulha (antigo cassino), a Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), o Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube), além da residência de Juscelino Kubitschek, o espelho d’água e a orla da Lagoa no trecho que os articula.
CONQUISTA Na manhã de ontem, com o conjunto arquitetônico valorizado pela luz solar, José Geraldo ressaltou que todas as condições são favoráveis: “Tem tudo para dar certo. Além da avaliação da consultora, é muito importante que a população queira este título, que estabeleça com a Pampulha uma relação de pertencimento e se envolva. Tenho certeza de que a Pampulha causará uma ótima impressão”.
Dona de uma loja de moda feminina e residente no Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, a empresária Priscila Moraes acredita que a conquista do título será de grande importância para o turismo. “Foi feito um bom trabalho de revitalização e é preciso estar sempre atento à preservação”, disse Priscila, com uma ressalva: “O espelho d’água ainda exala um mau cheiro horrível”. Segundo as autoridades municipais, a limpeza das águas não é levada em consideração na hora de se avaliar a situação do patrimônio, embora a prefeitura tenha retirado mais de 800 mil metros cúbicos de resíduos.
Diante da Igreja São Francisco de Assis, uma das joias do conjunto modernista, o casal de turistas de Porto Alegre (RS) Vicente Martini Schroeder, bancário, e Eliane Ramos, empresária, mostrou que a Pampulha é realmente forte candidata. “Esta é nossa primeira visita a Belo Horizonte e estamos impressionados. Trata-se de uma excelente candidata”, afirmou Vicente. “Estamos passando uma semana em Minas e já visitamos dois lugares que são patrimônio da humanidade, Ouro Preto e Congonhas. Esperamos que este seja o terceiro”, apostou Eliane.
Em BH, a consultora da Unesco será acompanhada pela presidente do Iphan, Jurema Machado, a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Michele Arrroyo, o secretário José Geraldo de Oliveira Prado, o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, e a diretora do Conjunto Moderno da Pampulha/FMC, Luciana Rocha Feres. “A arquiteta María Eugenia Bacci é uma profissional com grande conhecimento sobre a obra de Niemeyer. Ela vem para reconhecer o que já estudou”, observou José Geraldo.
OBRAS Entre os serviços executados recentemente, o secretário citou a revitalização da Casa do Baile; pintura da Casa Kubitschek, restaurada há dois anos; limpeza da Igreja São Francisco de Assis, cuja licitação está em andamento; obra na Praça Dino Barbieri, que será unida aos jardins da igreja, criando uma esplanada, e mudança na iluminação do entorno da lagoa, agora com lâmpada LED.