Jornal Estado de Minas

Sem fiscalização e chuva, lençol freático chega ao limite


Francisco Sá – Escassa na superfície nas terras áridas do Norte de Minas, a água também diminui no subsolo em muitas das cidades da região. A redução do lençol freático é uma preocupação a mais nos municípios duramente castigados pela estiagem prolongada. Além da falta de recarga dos aquíferos, devido à estiagem, o problema é associado à abertura descontrolada de poços tubulares, que também pode estar causando o desaparecimento de centenas de nascentes, rios e córregos da região.


“Estão sendo perfurados poços tubulares de maneira indiscriminada na região. Com isso, ocorre uma redução drástica do lençol freático”, relata o técnico Reinaldo Nunes de Oliveira, do escritório regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) em Montes Claros. Ele salienta que depois de quatro anos seguidos de estiagens prolongadas no Norte de Minas, 80% dos 730 rios e córregos da região (em torno de 600) secaram. Com a falta de água na superfície, fazendeiros perfuram poços em suas propriedades para manter rebanhos e as plantações.


“O problema é que os poços estão sendo perfurados sem nenhum controle. E água de onde só se retira – sem repor – um dia acaba. A situação é muito preocupante”, alerta o técnico da Emater.

Ele lembra que a própria falta de chuvas contribui para diminuir a quantidade de água no subsolo. “Sem chuva, não há reabastecimento do lençol freático.” Conforme Reinaldo Oliveira, neste ano diversos poços tubulares abertos no Norte de Minas secaram. Em diferentes locais, houve perfuração que não deu água, também em consequência da redução do lençol freático. A situação aponta para a necessidade urgente de um controle rígido da perfuração de poços pelos órgãos fiscalizadores.


As consequências da diminuição da quantidade de água no subsolo são sofridas na prática em Francisco Sá, um dos municípios do Norte do estado mais castigados pela estiagem prolongada. A Barragem do Rio São Domingos, que abastecia a cidade, secou completamente. Como alternativa, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), administrado pela prefeitura, perfurou um poço tubular, com a expectativa de que o abastecimento da população de 23,4 mil habitantes seria garantido durante o período crítico da seca, até o retorno das chuvas.


Conforme o diretor do Saae, Ronaldo Ramon de Brito, o poço – perfurado em terreno baixo, próximo ao estádio municipal de futebol, na Vila Vieira, deu uma vazão inicial de 120 mil litros de água por hora. No entanto, poucos dias depois de iniciada a captação, a produção caiu para um terço: 40 mil litros por hora.


Com isso, a pressão caiu e a água não está chega mais a bairros situados em regiões mais altas da cidade, como o Alfredo Dias, o Planalto e o Jardim Brejo das Almas.

Para contornar o problema, a prefeitura iniciou obras emergenciais para substituir a tubulação de água da cidade. Os operários trabalham até no período noturno para tentar apressas os serviços. “Nossa preocupação é que, se demorar a chegada das chuvas, a vazão do poço caia ainda mais. Por isso, estamos pedindo à população para economizar água o máximo possível”, afirma o prefeito de Francisco Sá, Denílson Rodrigues Silveira (PMDB).


A população da área urbana enfrenta racionamento, recebendo água em casa em dias alternados, mas moradores de bairros mais altos são atendidos com caminhões-pipa. A situação também é crítica na zona rural do município, onde praticamente todos os rios e córregos secaram. Segundo a prefeitura, estão rodando no município 14 caminhões, que levam para água para cerca de 13 mil moradores de 112 comunidades rurais. Os veículos abastecem seus tanques em uma barragem próxima ao distrito de Catuni, distante 100 quilômetros da sede de Francisco Sá. É um dos poucos mananciais do município que ainda têm água.

.