Uma escalada de violência assusta passageiros, motoristas, trocadores e fiscais do serviço de transporte público de Belo Horizonte. Ontem, em mais uma ocorrência policial, um fiscal da linha 1502 (Vista Alegre/Guarani) foi baleado e morreu depois de pedir a um passageiro, sentado na parte dianteira do coletivo, que pagasse a passagem. Irritado, o homem sacou uma arma da mochila e atirou no trabalhador, ferindo ainda um colega dele e uma passageira. A Polícia Civil trata a morte de Webert Eustáquio de Souza, de 33 anos, como vingança, já que o atirador – que tinha o costume de não pagar a tarfifa –, já havia se desentendido na quarta-feira com os fiscais, aos quais jurou de morte. O assassinato foi o ponto alto da insegurança a que funcionários e usuários estão expostos. Em BH, ônibus foram alvo de pelo menos 264 assaltos e furtos ao mês, entre janeiro e agosto deste ano. Quarenta e cinco a mais que a média mensal do mesmo período do ano passado.
Outro indicador negativo são as agressões sofridas pelos trabalhadores: seis, em média, todos os dias, referentes a xingamentos na empresa, por parte de outros motoristas, de passageiros, além de violência física e verbal em assaltos. Além disso, sob ameaça de morte, trabalhadores e passageiros foram expulsos neste ano de nove coletivos, queimados por criminosos. O número já ultrapassa o total de ocorrências de 2014, quando oito veículos foram destruídos pelas chamas.
No caso de ontem, Webert estava cumprindo o que a função determina: exigir o pagamento da passagem. O crime aconteceu por volta das 7h50, em um ponto da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Ipiranga, Região Norte. Segundo o delegado Emerson Morais, testemunhas contaram que o autor dos disparos entrou no veículo na Rua A, no Bairro Primeiro de Maio, 10 minutos antes do crime. Não passou pela catraca e ficou próximo à escada. Quando o coletivo passou próximo ao Hotel Ouro Minas, na Avenida Cristiano Machado, houve a abordagem dos fiscais, que pediram para todos os que estavam antes da roleta que pagassem a tarifa.
O ônibus estava lotado na hora do crime. “Testemunhas disseram que o assassino ficou na escada e, depois da ordem do fiscal, fingiu que iria pagar a passagem. Quando chegou próximo à catraca, sacou uma arma e disse: ‘Quer que pague a passagem? Então toma aqui seus R$ 3,10’. Depois disso, atirou”, relatou o delegado. Ele explicou que foram dois disparos no peito da vítima, que caiu no piso do ônibus, quando foi alvejada mais três vezes, nas costas. O assassino fugiu pela Avenida Cristiano Machado.
O fiscal Webert morreu na hora. Ele deixa quatro filhos. A passageira Maria das Graças Martins, de 65, levou um tiro em um dos pés e foi socorrida por equipes do Samu. O também fiscal Rogério Lopes, de 46, foi atingido por estilhaços e deu entrada no Hospital João XXIII. Ambos passam bem. “Considero a banalização da vida humana matar um pai de quatro filhos, trabalhador, por causa de R$ 3”, afirmou o delegado.
Na quarta-feira, o autor já havia brigado com a vítima e outros três fiscais no interior de um ônibus da linha1509, nas proximidades da Rua Jacuí. “Os fiscais abordaram o autor dentro do ônibus, pois ele tinha o costume de descer pela porta da frente do ônibus sem pagar passagem. Disseram: ‘Você não faz isso mais, tem que pagar a passagem’. Houve discussão e outro fiscal, colega da vítima, chegou a agredir o passageiro, que disse: ‘Vocês gostam de bater nas pessoas? Isso não vai ficar assim, não. Eu vou tirar essa diferença com vocês’”, relatou delegado.
De acordo com o diretor de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte e Região, Carlos Henrique Marques, são muitos os relatos de violência feitos por motoristas, trocadores e fiscais em BH. “As viagens são marcadas por ameaças, xingamentos, assaltos, fechadas no trânsito, agressões verbais e até físicas, que, em casos extremos, como esse, chegam à morte”, afirma o diretor. Segundo ele, a profissão, que era considerada tranquila, tem se tornado um ofício de alta periculosidade, o que já fez a categoria levantar a possibilidade de ingressar com uma ação civil pública contra o Estado, cobrando segurança.
Segundo Carlos, os trabalhadores reclamam da falta de policiamento preventivo e de proteção dos órgãos de segurança pública. Ainda de acordo com o sinsicalista, a categoria sofre outro tipo de violência no trabalho: “Motoristas e trocadores também são obrigados a exigir o pagamento de passageiros sentados na parte da frente do ônibus. Quando não fazem isso, são punidos com advertência ou suspensão do trabalho por até três dias”.
Pesquisa recente realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais atesta que 53% dos motoristas e 57% dos cobradores sofreram agressão ou ameaça à sua integridade física de meados de 2013 a meados de 2014. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra BH) foi procurado para comentar o assunto, mas informou que vai aguardar o fim da investigação policial para se pronunciar. Na Viação Zurick, responsável pela linha em que trabalhava o fiscal, ninguém foi localizado.
INVESTIGAÇÃO Dois fiscais que trabalhavam diretamente com a vítima foram ouvidos ontem pela polícia e relataram que constantemente há discussões e brigas com passageiros que não pagam passagem. Disseram que são ameaçados de morte, mas, como atuam em várias linhas de ônibus, não têm tempo para ir à delegacia ou à Polícia Militar. Pelas imagens gravadas na confusão de quarta-feira, testemunhas do homicídio reconheceram o assassino. O ônibus onde ocorreu o crime ontem tem quatro câmaras, mas justamente a direcionada para a porta dianteira, onde estava o assassino, não estava funcionando. As outras três registram o desespero dos passageiros na hora dos tiros. Qualquer informação que possa levar a polícia à prisão do autor pode ser passada pelos telefones 181 (disque-denúncia) ou (31) 3478-7524. O denunciante não precisa se identificar.
Entrevista
Testemunha do tiroteio, que pediu para não ser identificada
O que você viu?
Os fiscais estavam na parte da frente do ônibus e pediram para ele (o atirador) se identificar. Aí começou um bate-boca. O homem foi para o corredor e eu entendi que ele ia pagar a passagem, aí, de repente, ele sacou uma arma e voltou atirando. Atirou nos dois fiscais e pegou em uma passageira.
Os fiscais já estavam no ônibus?
Eles estavam no ponto. Na hora que o ônibus para, eles abordam. Chegaram e pediram para o pessoal (os passageiros) se identificar.
Você chegou a ouvir alguma coisa da discussão?
Eles tiveram um bate-boca pequeno, foi coisa simples. Eu até entendi que o cara ia pagar a passagem normalmente, mas, de repente, ele voltou atirando.
Outro indicador negativo são as agressões sofridas pelos trabalhadores: seis, em média, todos os dias, referentes a xingamentos na empresa, por parte de outros motoristas, de passageiros, além de violência física e verbal em assaltos. Além disso, sob ameaça de morte, trabalhadores e passageiros foram expulsos neste ano de nove coletivos, queimados por criminosos. O número já ultrapassa o total de ocorrências de 2014, quando oito veículos foram destruídos pelas chamas.
No caso de ontem, Webert estava cumprindo o que a função determina: exigir o pagamento da passagem. O crime aconteceu por volta das 7h50, em um ponto da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Ipiranga, Região Norte. Segundo o delegado Emerson Morais, testemunhas contaram que o autor dos disparos entrou no veículo na Rua A, no Bairro Primeiro de Maio, 10 minutos antes do crime. Não passou pela catraca e ficou próximo à escada. Quando o coletivo passou próximo ao Hotel Ouro Minas, na Avenida Cristiano Machado, houve a abordagem dos fiscais, que pediram para todos os que estavam antes da roleta que pagassem a tarifa.
O ônibus estava lotado na hora do crime. “Testemunhas disseram que o assassino ficou na escada e, depois da ordem do fiscal, fingiu que iria pagar a passagem. Quando chegou próximo à catraca, sacou uma arma e disse: ‘Quer que pague a passagem? Então toma aqui seus R$ 3,10’. Depois disso, atirou”, relatou o delegado. Ele explicou que foram dois disparos no peito da vítima, que caiu no piso do ônibus, quando foi alvejada mais três vezes, nas costas. O assassino fugiu pela Avenida Cristiano Machado.
O fiscal Webert morreu na hora. Ele deixa quatro filhos. A passageira Maria das Graças Martins, de 65, levou um tiro em um dos pés e foi socorrida por equipes do Samu. O também fiscal Rogério Lopes, de 46, foi atingido por estilhaços e deu entrada no Hospital João XXIII. Ambos passam bem. “Considero a banalização da vida humana matar um pai de quatro filhos, trabalhador, por causa de R$ 3”, afirmou o delegado.
Na quarta-feira, o autor já havia brigado com a vítima e outros três fiscais no interior de um ônibus da linha1509, nas proximidades da Rua Jacuí. “Os fiscais abordaram o autor dentro do ônibus, pois ele tinha o costume de descer pela porta da frente do ônibus sem pagar passagem. Disseram: ‘Você não faz isso mais, tem que pagar a passagem’. Houve discussão e outro fiscal, colega da vítima, chegou a agredir o passageiro, que disse: ‘Vocês gostam de bater nas pessoas? Isso não vai ficar assim, não. Eu vou tirar essa diferença com vocês’”, relatou delegado.
De acordo com o diretor de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte e Região, Carlos Henrique Marques, são muitos os relatos de violência feitos por motoristas, trocadores e fiscais em BH. “As viagens são marcadas por ameaças, xingamentos, assaltos, fechadas no trânsito, agressões verbais e até físicas, que, em casos extremos, como esse, chegam à morte”, afirma o diretor. Segundo ele, a profissão, que era considerada tranquila, tem se tornado um ofício de alta periculosidade, o que já fez a categoria levantar a possibilidade de ingressar com uma ação civil pública contra o Estado, cobrando segurança.
Segundo Carlos, os trabalhadores reclamam da falta de policiamento preventivo e de proteção dos órgãos de segurança pública. Ainda de acordo com o sinsicalista, a categoria sofre outro tipo de violência no trabalho: “Motoristas e trocadores também são obrigados a exigir o pagamento de passageiros sentados na parte da frente do ônibus. Quando não fazem isso, são punidos com advertência ou suspensão do trabalho por até três dias”.
Pesquisa recente realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais atesta que 53% dos motoristas e 57% dos cobradores sofreram agressão ou ameaça à sua integridade física de meados de 2013 a meados de 2014. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra BH) foi procurado para comentar o assunto, mas informou que vai aguardar o fim da investigação policial para se pronunciar. Na Viação Zurick, responsável pela linha em que trabalhava o fiscal, ninguém foi localizado.
INVESTIGAÇÃO Dois fiscais que trabalhavam diretamente com a vítima foram ouvidos ontem pela polícia e relataram que constantemente há discussões e brigas com passageiros que não pagam passagem. Disseram que são ameaçados de morte, mas, como atuam em várias linhas de ônibus, não têm tempo para ir à delegacia ou à Polícia Militar. Pelas imagens gravadas na confusão de quarta-feira, testemunhas do homicídio reconheceram o assassino. O ônibus onde ocorreu o crime ontem tem quatro câmaras, mas justamente a direcionada para a porta dianteira, onde estava o assassino, não estava funcionando. As outras três registram o desespero dos passageiros na hora dos tiros. Qualquer informação que possa levar a polícia à prisão do autor pode ser passada pelos telefones 181 (disque-denúncia) ou (31) 3478-7524. O denunciante não precisa se identificar.
Entrevista
Testemunha do tiroteio, que pediu para não ser identificada
O que você viu?
Os fiscais estavam na parte da frente do ônibus e pediram para ele (o atirador) se identificar. Aí começou um bate-boca. O homem foi para o corredor e eu entendi que ele ia pagar a passagem, aí, de repente, ele sacou uma arma e voltou atirando. Atirou nos dois fiscais e pegou em uma passageira.
Os fiscais já estavam no ônibus?
Eles estavam no ponto. Na hora que o ônibus para, eles abordam. Chegaram e pediram para o pessoal (os passageiros) se identificar.
Você chegou a ouvir alguma coisa da discussão?
Eles tiveram um bate-boca pequeno, foi coisa simples. Eu até entendi que o cara ia pagar a passagem normalmente, mas, de repente, ele voltou atirando.