Jornal Estado de Minas

Fiscal morto a tiros dentro de ônibus é sepultado nesta manhã em BH

Polícia Civil divulgou imagem do atirador - Foto: Reproduçaõ/Polícia Civil
Foi sepultado na manhã desta sexta-feira no Cemitério da Paz, no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, o corpo do fiscal Webert Eustáquio de Souza, de 33 anos, assassinado a tiros dentro de um coletivo da linha 1502 (Vista Alegre/Guarani) na manhã de quinta-feira. Um colega de Webert e uma passageira de 65 anos também foram atingidos. O atirador se revoltou porque não queria pagar a passagem.

Segundo o chefe dos fiscais da linha, Evandro José de Souza, de 42, a empresa dos profissionais, que presta o serviço terceirizado, decretou em luto de três dias. “Não trabalhamos hoje, em respeito à memória dele. Ele era muito querido”, diz. Os colegas acompanharam a cerimônia. Ainda segundo ele, a família de Webert está recebendo todo o apoio necessário, assim como a do fiscal Rogério Lopes, de 46, que foi atingido por estilhaços.
O profissional recebeu alta do hospital João XXIII e já está em casa, segundo o chefe dos fiscais.

Os conferentes de gratuidade, chamados popularmente de fiscais de ônibus, são responsáveis por verificar a documentação dos passageiros que têm direito ao transporte gratuito e exigir que os ocupantes do veículo que não se encaixam nesse perfil paguem a passagem, evitando a chamada evasão de renda. Webert e Rogério realizavam essa atividade quando foram baleados.

Na manhã de ontem, ainda no local do crime, Evandro José de Souza fez um desabafo emocionado sobre a tragédia. “O rapaz sacou a arma e deu um tiro neles. Já foi disparando neles. Agora, o motivo é por causa de R$ 3,10, né? Levar a vida de uma pessoa por causa de R$ 3,10”.

André Luiz Ribeiro, de 44, foi coordenador de Webert e o treinou para o serviço.
Ele contou que o colega era um excelente profissional, gostava do trabalho e era uma pessoa tranquila. “Isso aí a gente fica desnorteado. As pessoas vêm falar mal da gente, mas não sabem o que está acontecendo na rua, no dia a dia”. Em entrevista ao em.com.br ontem, ele falou dos riscos da profissão. “Temos colete, temos uniforme, mas às vezes a gente é obrigado a trabalhar sem colete e sem uniforme, porque ficamos muito visados. Por causa disso aí, por causa dessa bagunça”, lamentou. “Tem gente que fala que vai matar a gente, que vai dar tiro na gente, só por causa de R$ 3,10, uma passagem simples. É só pagar, gente.
Não tem nada à ver uma coisa com a outra”. 

O crime aconteceu por volta das 7h50, em um ponto da Avenida Cristiano Machado, no Bairro Ipiranga, Região Norte. Segundo o delegado Emerson Morais, testemunhas contaram que o autor dos disparos entrou no veículo na Rua A, no Bairro Primeiro de Maio, 10 minutos antes do crime. Não passou pela catraca e ficou próximo à escada. Quando o coletivo passou próximo ao Hotel Ouro Minas, na Avenida Cristiano Machado, houve a abordagem dos fiscais, que pediram para todos os que estavam antes da roleta pagassem a tarifa.

O ônibus estava lotado na hora do crime. “Testemunhas disseram que o assassino ficou na escada e, depois da ordem do fiscal, fingiu que iria pagar a passagem. Quando chegou próximo à catraca, sacou uma arma e disse: ‘Quer que pague a passagem? Então toma aqui seus R$ 3,10’. Depois disso, atirou”, relatou o delegado. Ele explicou que foram dois disparos no peito da vítima, que caiu no piso do ônibus, quando foi alvejada mais três vezes, nas costas. O assassino fugiu pela Avenida Cristiano Machado e até o momento não foi localizado. A Polícia Civil informou hoje que as buscas continuam.


Delegado acredita em vingança

O delegado responsável pelas investigações trabalha com a hipótese de vingança.
Segundo apurou a Polícia Civil, Webert e outros dois fiscais já haviam sido jurados de morte pelo autor no dia anterior, quando foi colocado para fora do ônibus por já ter o costume de não pagar a passagem. Na manhã de quarta-feira, o autor chegou a agredir fisicamente um colega da vítima. O autor foi reconhecido por imagens de câmeras de segurança e é procurado pela polícia, que ainda não tem a sua identificação. Depois da briga de quarta-feira, ele chegou a ir à garagem de ônibus, mostrou um revólver para os fiscais e prometeu “acertar as diferenças”.

A briga de quarta-feira foi nas proximidades da Rua Jacuí, dentro de um ônibus da linha 1509. “Os fiscais abordaram o autor dentro do ônibus, pois ele já tinha o costume de descer pela porta da frente sem pagar passagem. Disseram: 'Você não faz isso mais, tem que pagar passagem'. O autor não gostou muito de ter sido chamado à atenção e houve discussão. Um outro fiscal, que não foi a vítima, chegou a agredir o autor, que disse: 'Vocês gostam de bater nas pessoas? Isso não vai ficar assim, não. Eu vou tirar essa diferença com vocês'”, segundo o delegado.


Mais tarde, o autor foi para a porta da garagem de ônibus e mostrou um revólver, dizendo a um outro fiscal envolvido na briga que ele poderia sumir que o encontraria de qualquer forma “para tirar a diferença”. O criminoso quando foi à garagem estava acompanhado de um outro homem, que também está sendo procurado. Ele tem deficiência nos braços e nas pernas, mas consegue andar sem ajuda de cadeira de rodas ou muleta. Ele moraria no Bairro Primeiro de Maio ou no Providência. Na garagem, esse segundo homem teria instigado o autor a matar os fiscais. “Isso mesmo, tem que matar. Ele é safado, mesmo”, teria gritado o comparsa. (Pedro Ferreira)

Passageiros entraram em pânico. Veja o vídeo.



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