Não faltam motivos para pensar que a educação pública no Brasil vai mal. Professores em greve por melhores salários, agressão de alunos a professores e salas de aulas improvisadas são alguns dos obstáculos na corrida por qualidade. A lista de empecilhos enfrentados por gestores e alunos das escolas públicas é extensa e parece intransponível. Mas não é. Contrariando o senso comum, três escolas públicas mineiras dão exemplo de como, mesmo com parcos recursos, é possível avançar em indicadores educacionais. Com base no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave), o Estado de Minas identificou três instituições que se destacam na luta pela oferta de um ensino público de qualidade.
A reportagem visitou a Escola Municipal Paulo Barbosa, em Formiga, no Centro-Oeste de MG, a Funec Centec, em Contagem, na Grande BH, e a Escola Estadual Doutor Antônio Augusto Veloso, em Montes Claros, no Norte do estado. Conversou com professores, pais e alunos para identificar o segredo do bom desempenho. A meta do Brasil é alcançar a média 6.0 até 2021 no Ideb, o principal indicador da qualidade da educação básica. Trata-se do patamar educacional correspondente ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Suécia.
Em uma cidade de médio porte cuja base da economia é o comércio, como Formiga, a Escola Paulo Barbosa não só atingiu como superou em muito a média nacional. Desde 2009, o estabelecimento de ensino mantém a pontuação de 7.8, destacando-se entre escolas de todo o Brasil. A Funec Centec é a primeira escola pública mineira – sem contar as federais – que aparece no ranking nacional do Enem 2014 com média 582,61 nas provas objetivas e 624,51 em redação. A Escola Estadual Doutor Antonio Augusto Veloso obteve 6.9 no Ideb e ficou com notas acima da média do estado no Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb) 2014 – uma das avaliações do Simave. Em Minas, são 3.654 escolas estaduais e 8.947 municipais.
De um lado, poucas casas. De outro, o verde da paisagem. A Escola Municipal Paulo Barbosa é a última edificação da Rua Hermínio Pinho da Silva, no Bairro Ouro Negro, em Formiga, quase na divisa com a zona rural. A escola tem como vizinhos da direita os moradores do bairro e, à esquerda, uma fazenda. A qualquer hora do dia, é possível ouvir o canto dos passarinhos e o mugido de vacas e bezerros no pasto ao lado. Não há barulho de trânsito ou de qualquer outro som comum às cidades grandes. Mas a natureza não está apenas na área externa. Os jardins estão em toda a extensão da escola, de forma que é possível ver as flores pelos janelões das salas de aula. Recém-pintadas, as paredes têm tons claros com intervenções em azul, amarelo e verde, que deixam o ambiente mais lúdico.
Nas imediações, quase nada faz lembrar que a escola fica em um município médio do Centro-Oeste de Minas, com 65.128 habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O segredo é o lugar. Deus jogou uma poção mágica aqui. Temos como vizinhos a natureza. Venho para cá na maior alegria”, diz a diretora Juliana Abadia Teixeira, de 45 anos, que ocupa o cargo desde 2010. Neste ano, a escola recebeu duas parcelas de R$ 10.842 do Programa Municipal de Manutenção Escolar (PMME) e, até o momento, não vieram os R$ 7.780 do Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do Ministério da Educação.
Em 2012, a escola venceu o Prêmio Excelência com Equidade, promovido pela Fundação Lemann, por ofertar ensino de qualidade para alunos de baixa renda. A instituição de ensino atende crianças de bairros pobres e da zona rural do município. Os portões estão sempre abertos. Os pais entram para uma prosa com a professora, acompanhada de café e biscoitos de polvilho assados. A cantineira, as professoras, quem é responsável pela limpeza, enfim, todos acolhem os alunos e pais quando chegam. E é a essa equipe e à forma como a comunidade abraça a escola que a diretora credita o sucesso. “É um grupo de ouro de profissionais motivados e comprometidos. Temos apoio muito grande da comunidade”, destaca.
A escola busca inovar na parte pedagógica, o que pode ser comprovado com a instituição de avaliações semanais de aprendizado. As provas são feitas às sextas-feiras. Com o resultado desses testes, a equipe pedagógica pode acompanhar de perto e de forma sistemática o desenvolvimento de cada aluno. Se um estudante vai mal, os pais são convocados para, com os professores, encontrar uma solução. A cumplicidade faz com que os responsáveis se comprometam na reversão do quadro de déficit de aprendizado. Mas os acordos decorrentes dos bate-papos não ficam só na fala. São assinados pelos pais e pelos alunos. “A assinatura é o diferencial. Eles se sentem comprometidos”, diz a coordenadora de educação infantil, Paula Modesto da Silva.
Meninos e meninas com dificuldade recebem atenção individualizada com reforço escolar. Do outro lado, os pais assumem o compromisso de estabelecer horários para que as crianças estudem em casa. “A escola é tudo de bom. Não tem como falar uma coisa só. Começa com a funcionária da cantina, a diretora, as professoras. Venho quando eles chamam. Venho quando não me chamam. Estou aqui todos os dias, de manhã e à tarde. Sou sempre bem-recebida”, diz a diarista Vera Lúcia Paiva Dias da Silva, de 53, mãe do aluno Mateus, de 10 anos.
A atenção personalizada faz com que os gêmeos Ruan Pablo e Thiago Henrique, de 9 anos, tenham acompanhamento de um intérprete de libras nas salas de aula. A tia dos gêmeos, Maria das Dores da Silva, de 46, não consegue conter a lágrima ao falar da gratidão de ver os sobrinhos lendo. A atenção aos alunos especiais demonstra o comprometimento da escola com o desenvolvimento de todos. Na sala do 1º ano do ensino fundamental, os dois alunos com autismo recebem a mesma atenção de seus colegas da mesma idade. As aulas são dadas pela professora regente Michele Costa e pela educadora de apoio Edna Maria.
COMUNIDADE O secretário de Educação de Formiga, Geraldo Reginaldo de Oliveira, credita o bom desempenho da escola ao envolvimento da família no processo educacional, à gestão forte e comprometida, à pouca rotatividade na escola e à motivação da equipe. A média do município superou, em 2013, a meta de 6.4 do Ideb, passando para 6.8, o que representa melhora em todas as escolas. “Temos quatro escolas com mais de 7 no Ideb”, destaca. Os professores recebem o piso básico no município, que varia de R$ 1.150 a R$ 3 mil, a depender do tempo de serviço. O educador também recebe um terço do salário para o planejamento das aulas, vale-alimentação de R$ 300 e vale-transporte.
Por dentro da escola
Escola Municipal Paulo Barbosa
383 alunos do 1º período ao 5º ano
20 professores
Feito: Alcançou o índice de 7.8 no Ideb, superando sua meta para 2021, de 7.3
Sucesso: Envolvimento da comunidade, gestão comprometida, equipe motivada
A reportagem visitou a Escola Municipal Paulo Barbosa, em Formiga, no Centro-Oeste de MG, a Funec Centec, em Contagem, na Grande BH, e a Escola Estadual Doutor Antônio Augusto Veloso, em Montes Claros, no Norte do estado. Conversou com professores, pais e alunos para identificar o segredo do bom desempenho. A meta do Brasil é alcançar a média 6.0 até 2021 no Ideb, o principal indicador da qualidade da educação básica. Trata-se do patamar educacional correspondente ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Suécia.
Em uma cidade de médio porte cuja base da economia é o comércio, como Formiga, a Escola Paulo Barbosa não só atingiu como superou em muito a média nacional. Desde 2009, o estabelecimento de ensino mantém a pontuação de 7.8, destacando-se entre escolas de todo o Brasil. A Funec Centec é a primeira escola pública mineira – sem contar as federais – que aparece no ranking nacional do Enem 2014 com média 582,61 nas provas objetivas e 624,51 em redação. A Escola Estadual Doutor Antonio Augusto Veloso obteve 6.9 no Ideb e ficou com notas acima da média do estado no Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb) 2014 – uma das avaliações do Simave. Em Minas, são 3.654 escolas estaduais e 8.947 municipais.
De um lado, poucas casas. De outro, o verde da paisagem. A Escola Municipal Paulo Barbosa é a última edificação da Rua Hermínio Pinho da Silva, no Bairro Ouro Negro, em Formiga, quase na divisa com a zona rural. A escola tem como vizinhos da direita os moradores do bairro e, à esquerda, uma fazenda. A qualquer hora do dia, é possível ouvir o canto dos passarinhos e o mugido de vacas e bezerros no pasto ao lado. Não há barulho de trânsito ou de qualquer outro som comum às cidades grandes. Mas a natureza não está apenas na área externa. Os jardins estão em toda a extensão da escola, de forma que é possível ver as flores pelos janelões das salas de aula. Recém-pintadas, as paredes têm tons claros com intervenções em azul, amarelo e verde, que deixam o ambiente mais lúdico.
Nas imediações, quase nada faz lembrar que a escola fica em um município médio do Centro-Oeste de Minas, com 65.128 habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O segredo é o lugar. Deus jogou uma poção mágica aqui. Temos como vizinhos a natureza. Venho para cá na maior alegria”, diz a diretora Juliana Abadia Teixeira, de 45 anos, que ocupa o cargo desde 2010. Neste ano, a escola recebeu duas parcelas de R$ 10.842 do Programa Municipal de Manutenção Escolar (PMME) e, até o momento, não vieram os R$ 7.780 do Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do Ministério da Educação.
Em 2012, a escola venceu o Prêmio Excelência com Equidade, promovido pela Fundação Lemann, por ofertar ensino de qualidade para alunos de baixa renda. A instituição de ensino atende crianças de bairros pobres e da zona rural do município. Os portões estão sempre abertos. Os pais entram para uma prosa com a professora, acompanhada de café e biscoitos de polvilho assados. A cantineira, as professoras, quem é responsável pela limpeza, enfim, todos acolhem os alunos e pais quando chegam. E é a essa equipe e à forma como a comunidade abraça a escola que a diretora credita o sucesso. “É um grupo de ouro de profissionais motivados e comprometidos. Temos apoio muito grande da comunidade”, destaca.
A escola busca inovar na parte pedagógica, o que pode ser comprovado com a instituição de avaliações semanais de aprendizado. As provas são feitas às sextas-feiras. Com o resultado desses testes, a equipe pedagógica pode acompanhar de perto e de forma sistemática o desenvolvimento de cada aluno. Se um estudante vai mal, os pais são convocados para, com os professores, encontrar uma solução. A cumplicidade faz com que os responsáveis se comprometam na reversão do quadro de déficit de aprendizado. Mas os acordos decorrentes dos bate-papos não ficam só na fala. São assinados pelos pais e pelos alunos. “A assinatura é o diferencial. Eles se sentem comprometidos”, diz a coordenadora de educação infantil, Paula Modesto da Silva.
Meninos e meninas com dificuldade recebem atenção individualizada com reforço escolar. Do outro lado, os pais assumem o compromisso de estabelecer horários para que as crianças estudem em casa. “A escola é tudo de bom. Não tem como falar uma coisa só. Começa com a funcionária da cantina, a diretora, as professoras. Venho quando eles chamam. Venho quando não me chamam. Estou aqui todos os dias, de manhã e à tarde. Sou sempre bem-recebida”, diz a diarista Vera Lúcia Paiva Dias da Silva, de 53, mãe do aluno Mateus, de 10 anos.
A atenção personalizada faz com que os gêmeos Ruan Pablo e Thiago Henrique, de 9 anos, tenham acompanhamento de um intérprete de libras nas salas de aula. A tia dos gêmeos, Maria das Dores da Silva, de 46, não consegue conter a lágrima ao falar da gratidão de ver os sobrinhos lendo. A atenção aos alunos especiais demonstra o comprometimento da escola com o desenvolvimento de todos. Na sala do 1º ano do ensino fundamental, os dois alunos com autismo recebem a mesma atenção de seus colegas da mesma idade. As aulas são dadas pela professora regente Michele Costa e pela educadora de apoio Edna Maria.
COMUNIDADE O secretário de Educação de Formiga, Geraldo Reginaldo de Oliveira, credita o bom desempenho da escola ao envolvimento da família no processo educacional, à gestão forte e comprometida, à pouca rotatividade na escola e à motivação da equipe. A média do município superou, em 2013, a meta de 6.4 do Ideb, passando para 6.8, o que representa melhora em todas as escolas. “Temos quatro escolas com mais de 7 no Ideb”, destaca. Os professores recebem o piso básico no município, que varia de R$ 1.150 a R$ 3 mil, a depender do tempo de serviço. O educador também recebe um terço do salário para o planejamento das aulas, vale-alimentação de R$ 300 e vale-transporte.
Por dentro da escola
Escola Municipal Paulo Barbosa
383 alunos do 1º período ao 5º ano
20 professores
Feito: Alcançou o índice de 7.8 no Ideb, superando sua meta para 2021, de 7.3
Sucesso: Envolvimento da comunidade, gestão comprometida, equipe motivada