Enquanto aguardam a decisão sobre a candidatura do conjunto arquitetônico modernista da Pampulha, os mineiros já podem comemorar um título de patrimônio da humanidade para Belo Horizonte, cujo resultado será divulgado em junho do ano que vem pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, informou ontem que o Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital, compreendendo 4 mil documentos datados de 1890 a 1903, foi aceito para integrar o Programa Memória do Mundo, da Unesco, que reúne os principais documentos da história mundial. A entrega do título ao prefeito Marcio Lacerda ocorrerá em 10 de dezembro, no Rio de Janeiro.
Na tarde de ontem, na sede do Arquivo Público de BH, no Bairro Floresta, na Região Leste, o diretor da instituição, Yuri Mesquita, apresentou alguns dos “tesouros” destacados por especialistas da Unesco. À mostra, plantas topográficas das terras desapropriadas no antigo Curral del-Rey para dar origem à capital, inaugurada em 12 de dezembro 1897, como a planta cadastral da Cidade de Minas, primeiro nome da nova cidade, a representação da Fazenda do Cercadinho, onde hoje está o Bairro Buritis, na Região Oeste, e do terreno da antiga Fazenda do Calafate.
“Essas são as plantas de desapropriação das terras, com os rios e ribeirões, como o Arrudas e o Acaba Mundo, os solos, e os estudos técnicos bem detalhados. Todo esse material abre portas para intercâmbios com instituições de outros estados e países”, afirmou Yuri, ao lado do superintendente do Arquivo Púbico Mineiro, Thiago Veloso Vitral, e da diretora do Museu Abílio Barreto, Célia Regina Araújo Alves. Vitral explicou que, além da importância dos documentos para a humanidade, a Unesco leva em consideração o cuidado, a preservação e o acesso do público a eles. Os interessados podem fazer a consulta nos locais ou nos endereços eletrônicos www.comissaoconstrutora.pbh.gov.br e www.siaapm.cultura.mg.gov.br.
“Além da importância para a história de Minas e do Brasil, os documentos são de interesse para a ciência, pela adaptação de técnicas de planejamento e construção; para a arquitetura e paisagismo, devido ao projeto urbanístico e paisagístico; e para a história da República brasileira, sobretudo no que se refere ao seu projeto simbólico e civilizacional de preceitos higienistas e racionalistas”, ressaltou o diretor do Arquivo de BH.
RECIBOS O presidente da Fundação Municipal de Cultura se mostrou orgulhoso ao citar documentos fundamentais nessa história, como o recibo do pagamento à comissão construtora de BH, chefiada pelo engenheiro e urbanista Aarão Reis (1853-1936), com os selos e a grafia elegante em caneta-tinteiro. E também fotos da comissão construtora posando com a planta de BH, dividida em áreas urbana e suburbana. “Temos o material da concepção, da construção e dos primeiros tempos. Depois de Aarão Reis, a comissão construtora foi comandada por Francisco Bicalho”, acrescentou Yuri. A importância do Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital, de natureza arquivística para a história, cultura e sociedade brasileiras, já tinha sido atestada em 2015, quando foi registrada como patrimônio municipal pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte.
“A FMC mantém em sua política de salvaguarda do patrimônio cultural de BH a vertente de internacionalização de seus acervos, sejam eles materiais ou imateriais. Assim, foram iniciados dois processos de candidatura a patrimônio mundial: o primeiro, o Conjunto Moderno da Pampulha, em pleno desenvolvimento, e o segundo, o Acervo da Comissão Construtora da Nova capital, agora reconhecido”, completa Leônidas Oliveira.
Rico e variado
O programa da Unesco tem a finalidade de identificar os mais importantes documentos de registro da história mundial. Com o reconhecimento do organismo, eles passam a ter valor de patrimônio documental da humanidade, ganhando reconhecimento internacional. Os documentos que integram o Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital, que deram origem à cidade de Belo Horizonte, foram selecionados para integrar o Memory of the World. A coleção está em poder da Prefeitura de Belo Horizonte, via Fundação Municipal de Cultura, guardada e preservada no Arquivo Público da Cidade, que completará 25 anos em 2016, e no Museu Histórico Abílio Barreto, além de parte no Arquivo Público Mineiro.