Aparecida (SP) – Pela longa passarela que conduz ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida seguem mulheres de joelhos, homens de terço na mão, jovens casais, crianças com os pais e idosos caminhando lentamente com o apoio de bengalas. Sozinhos, em família ou nas extensas romarias, os devotos têm olhos fixos na casa da padroeira do Brasil, onde vão pagar promessas, pedir graças ou agradecer por bênçãos alcançadas – alguns não têm dúvida de que foram merecedores de milagre divino. Hoje, dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que muitos tratam intimamente por Mãe Aparecida, visitantes de todo o país participam de missas, orações e da procissão com a réplica da imagem encontrada há quase 300 anos, por pescadores, no Rio Paraíba do Sul. A estimativa é de que a celebração mobilize 150 mil pessoas.
Nas últimas semanas, o movimento se intensificou no maior santuário mariano do mundo – pessoas de todos os estados movidas pela fé e guiadas pela padroeira que é considerada pelos católicos a protetora-mor dos brasileiros. Ao lado da mãe, Ana Moreira da Silva, o empresário Osírio Borges da Silva, de 47 anos, residente em Taguatinga (DF), cumpriu todo o ritual de chegada: caminhou pela Passarela da Fé, acendeu velas, conheceu a Sala das Promessas e, principalmente, fez suas orações. “Meu filho está vivo por um milagre de Nossa Senhora Aparecida e do Pai Eterno”, conta Ana, com o semblante oscilando entre lágrimas e imensa alegria. Osírio foi diagnosticado com câncer em 12 de outubro de 2012, dia da padroeira, e viu mergulharem em um calvário a mulher, os dois filhos e demais familiares, mas ficou curado.
Na Sala das Promessas, que reúne milhares de objetos, cartas e testemunhos, os chamados ex-votos, mãe e filho se emocionaram com a diversidade de peças, que vão desde pequenos bilhetes agradecendo pela casa própria até o capacete do motociclista recuperado de grave acidente. Osírio para diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida e volta no tempo por segundos: “Fiquei em coma por três dias e passei muito tempo hospitalizado. No total, foram 32 sessões de radioterapia. Para os médicos, não havia mais o que fazer”. Com os olhos brilhantes, Ana revela que começou a fazer uma novena para Nossa Senhora Aparecida, com a promessa de que, assim que o filho se curasse, viajaria até o santuário.
Na segunda-feira passada, Ana e o filho acenderam 15 velas do tamanho dele (1,70 metro) e levaram uma foto para a Sala das Promessas. “Ele não precisou fazer cirurgia. Na verdade, foi operado por São Miguel Arcanjo, São Rafael e São Gabriel”, acredita a mãe. “Acho que Deus me salvou pois sou um cara legal, tenho fé”, disse o empresário. Comovida, Ana acrescenta que é preciso confiar. Com os braços levantados, mostra que é fundamental “abrir as mãos, rezar e pedir, dando aconchego às pessoas que amamos”.
O bispo auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, dom Darci José Nicioli, também presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirma que “Deus não quer o sacrifício de ninguém”, mas que as demonstrações de devoção dos fiéis podem ser uma prática motivadora, desde que fiquem no limite do razoável, sem ultrapassar o bom-senso. Ninguém, por exemplo, deve deixar de ir ao médico para esperar por um milagre.
LUZ DE VELAS É comum, ao andar pelo interior do santuário nacional, visitado por 12 milhões de peregrinos/ano, encontrar fiéis carregando imensas velas e órgãos humanos esculpidos em cera. É o sinal de agradecimento do fiel por uma parte do corpo salva depois de muita oração. Após rezar diante da imagem original encontrada em 1717 e conservada no Nicho da Padroeira do Brasil, no interior da basílica, a família Freitas, de Barra Mansa (RJ), seguiu para a Sala das Promessas carregando uma sacola com uma perna em cera. O bancário Rogério César de Freitas conta que, em 6 de junho, a filha Isabele, de 19, foi atropelada por uma van e ficou na iminência de ter o membro inferior esquerdo amputado.
Sorridente e sem sinais do sofrimento recente, Isabele caminha naturalmente e não deixa margem para alguém pensar que, há poucos meses, passou 10 dias no hospital, dos quais seis no centro de terapia intensiva (CTI). Ao lado da mulher, Cinara Luzia Pagani de Freitas, e da irmã dele, Vânia Aparecida Freitas Camilo, Rogério atesta: “Tudo foi um milagre, pois sem fé verdadeira não se consegue nada”.
ACONTECEU COMIGO
Iracilda de Melo Silva, coordenadora de romarias e residente em Goiânia (GO)
“Recebemos uma graça de acordo com o merecimento. Não adianta pedir só com interesse. Em 9 de outubro de 2013, quando estava aqui, em Aparecida (SP), coordenando uma romaria, caí e quebrei o pé. Foram três dedos atingidos e a parte de cima ‘rachada’. Foi uma situação difícil, pois estava coordenando um grupo de 50 pessoas. Fui ao médico e ele indicou cirurgia para colocar três pinos. No entanto, achei melhor pôr uma faixa, usar bota ortopédica, me mover com andador e deixar o resto nas mãos de Deus. Passei a banhar o local todos os dias com água benta e tomar o líquido, e fiz promessa para Nossa Senhora Aparecida de que visitaria sempre o Santuário Nacional se ficasse boa. Alcancei a graça, não houve sequela. Só este ano, já vim aqui cinco vezes, saindo de Goiânia. Hoje trago estas flores para homenagear a padroeira do Brasil. Da mesma forma, visito o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).”