A estiagem prolongada em Minas, que vem secando reservatórios pelo interior e fazendo os níveis do sistema de abastecimento da Grande Belo Horizonte baterem sucessivos recordes negativos, obriga a Copasa a apelar cada vez mais para as águas subterrâneas. Apenas neste ano, a concessionária de saneamento já perfurou 189 novos poços artesianos em todo o estado, como medida extrema para assegurar o abastecimento em várias cidades. Especialistas, no entanto, alertam que o recurso não é ilimitado e que a superexploração pode prejudicar os aquíferos, principalmente considerando as captações irregulares e sem critério feitas por particulares. O uso de caminhões-pipa é outra manobra para lidar com uma seca que, de acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), já levou 107 prefeituras a decretar situação de emergência para obter recursos do estado ou da União.
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De acordo com a Copasa, nos últimos anos os níveis dos ribeirões Ubá e Ubá Pequeno têm diminuindo consideravelmente.
Aquífero pode secar, alerta especialista
A perfuração de poços artesianos é uma alternativa ao abastecimento, mas a água subterrânea não representa uma reserva infindável. O alerta é do professor Ricardo Motta Pinto Coelho, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. “O aquífero pode secar, e isso já está acontecendo no Nordeste do país.
Segundo Ricardo Motta, o que está ocorrendo no Triângulo Mineiro e em várias regiões de Minas está relacionado ao fato de que a capacidade dos aquíferos está diretamente ligada ao manejo e gestão das águas superficiais, como rios, lagos, reservatórios e, principalmente, da cobertura vegetal. “Infelizmente, temos regiões áridas que estão sofrendo mais com a crise hídrica, principalmente ao longo do Vale do São Francisco, como a cidade de Medina e outras do Norte de Minas, que estão quase em estado de calamidade pública pela falta de água. São várias décadas com total descaso com a cobertura vegetal e com a gestão das bacias hidrográficas”, alerta.
Ainda de acordo com o professor, a perfuração de poços deve ser precedida de estudos geológicos e hidrológicos mais profundos, o que não ocorre no Brasil. O especialista alerta ainda para a falta de monitoramento da qualidade da água de poços artesianos. “As pessoas acham que água de poço artesiano é sempre boa. Longe disso, pois há vários tipos de aquíferos.
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