A Região Metropolitana de Belo Horizonte tem um deficit de cerca de 600 bombeiros e a corporação não está recebendo parte dos recursos da taxa de incêndio, que deveriam ser integralmente destinados à compra de equipamentos para o combate às chamas, como as que destruíram dois hectares da Serra do Curral, no Bairro Comiteco, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, na noite de terça-feira. A informação foi dada ao Estado de Minas pelo capitão Thiago Miranda, da assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros. Segundo ele, o número próximo do ideal para atender à RMBH são 2 mil militares. Atualmente são 1.400. O militar, no entanto, afirmou que o efetivo empenhado na operação foi suficiente para apagar o incêndio e que podem ser feitos remanejamentos do efetivo no estado para atender incêndios como o que destruiu parte da Serra do Curral. Miranda informou que o número ideal no estado seria um efetivo de 8 mil bombeiros. Com concurso público autorizado pelo governo do estado serão efetivos outros 500 militares, chegando ao efetivo de 6,5 mil.
Sobre o caso da Serra do Curral, a corporação afirmou que houve problemas específicos no combate às chamas. “O incêndio na serra não pode ser combatido com viaturas devido às características geográficas do local, por se tratar de um terreno acidentado o que dificulta a movimentação dos bombeiros”, informou o órgão por meio de nota. Sobre o combate aéreo, a assessoria de imprensa destacou no texto que ele não é feito à noite para preservar a integridade dos militares e também por tornar-se perigoso devido à falta de visibilidade. No texto enviado ontem, o Corpo de Bombeiros sustenta ainda que o sistema de tubulações instalado no alto da serra, para apoiar em caso de incêndio, foi depredado e não funciona. Sobre os aspersores instalados dentro do Parque Serra do Curral, a mineradora Vale – responsável pela instalação, operação e manutenção dos equipamentos –, informou que os 16 pontos de aspersão de água estão funcionando em uma área de 1,5 quilômetro. E que ontem, os aparelhos foram ligados, preventivamente, para evitar novos focos de incêndio.
DESCUIDO O capitão Thiago Miranda afirmou que o incêndio de ontem foi decorrente de “descuido por parte de quem tem que tomar conta do parque”. “O proprietário é responsável. Se falamos de um incêndio em um lote, o responsável é o proprietário. Se estamos falando da área de preservação, a estrutura do estado ali presente que tem que cuidar”, afirmou. Ele negou que tenha havido falha por parte da corporação e disse que para que é preciso preservar para que queimadas não atinjam a Serra do Curral. Mesmo com incêndios recorrentes nos períodos secos, o capitão disse que não é possível estabelecer uma estratégia para tornar o combate mais ágil. Pela topografia da região – por ser um paredão íngreme –, os bombeiros só podem chegar ao local a pé ou o combate deve ser feito pelo ar, o que não foi possível à noite. “A corporação conhece o sistema de aspersores. Não é diferente do hidrante de uma edificação. Ele é um apoio e pode ser usado no início do incêndio. Está no topo da serra. Por isso é fundamental ser usado por quem está lá.”
O Corpo de Bombeiros destacou também o excesso de ocorrências. A corporação, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que, fora do período seco, a média de atendimento a incêndios florestais é de 305 ocorrências a cada mês e que, nos últimos meses (entre julho e setembro), a média foi 1.787 incêndios. Foram 1.509 em julho, 2.423 em agosto e 1.431 em setembro. De acordo com a corporação, havia entre 18h04 e 20h51 do dia do incêndio na Serra do Curral, 17 solicitações para combate a incêndios florestais na região metropolitana de Belo Horizonte. O fogo atingiu a área por volta de 18h30 e o combate às chamas começou às 20h41. O trabalho só foi finalizado por volta de 1h30, com uso de 3 mil litros de água, abafadores, bombas costais.
Nessa quarta-feira, moradores que ficaram assustados com a proximidade do fogo de suas residências, amanheceram ainda sob o efeito do incêndio, que deixou muita sujeira nas casas. “O cheiro da fumaça, que foi muito forte na hora do incêndio, já passou. Mas ainda tem muita fuligem espalhada na casa inteira”, contou o estudante Thiago Costa Correia Souza, de 23 anos, morador da Rua Santana de Caldas, no Bairro Comiteco. Além de relatar o mesmo problema, a vizinha Tábata Azevedo, de 28, criticou a demora no atendimento dos bombeiros. “Acho um desrespeito a gente precisar do serviço e não ser atendido. Até porque o incêndio foi assustador”, disse.